O presidente da Illycaffè, Andrea Illy, afirmou na segunda-feira (01/12/2025), em entrevista à Revista Veja, que a empresa italiana — referência mundial em cafés premium — tem como meta conquistar 10% do mercado brasileiro, ao mesmo tempo em que amplia parcerias com produtores nacionais e fortalece sua estratégia de agricultura regenerativa. A declaração ocorreu durante o 34º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Expresso, realizado na sede da FAO, em Roma, com participação de cafeicultores de nove países.
O executivo reforçou que o Brasil é simultaneamente o maior produtor, o maior exportador e um dos mais relevantes mercados consumidores de café no mundo. Segundo ele, a Illycaffè “importa café brasileiro e o vende de volta” devido à transformação cultural ocorrida no país nas últimas décadas, marcada pelo crescimento do consumo de cafés gourmet e pela profissionalização de cafeterias e microtorrefações.
A relação da empresa com o Brasil foi iniciada em 1991, quando a queda dos preços internacionais comprometeu a qualidade do grão. A Illy então passou a treinar cafeicultores para elevar padrões de produção, garantindo remunerações mais altas e estabilidade comercial. Desde então, Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro tornaram-se pilares dessa cooperação, com participação ativa de instituições como Embrapa e universidades especializadas.
O Prêmio Ernesto Illy, que chegou à sua 34ª edição, reforça esse vínculo histórico ao destacar produtores brasileiros entre os finalistas internacionais e consolidar o país como referência técnica no cultivo de café arábica de alta qualidade.
Consumo de cafés especiais cresce no Brasil e estimula expansão do mercado premium
Andrea Illy ressaltou que o mercado brasileiro apresenta uma mudança cultural profunda, com aumento do consumo interno de cafés de alta qualidade e surgimento de uma nova geração de apreciadores. A expansão das cafeterias artesanais, das torrefações independentes e da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) consolidou o segmento premium como um dos mais dinâmicos da indústria.
Esse fenômeno se reflete em dados recentes:
- O consumo interno de cafés especiais no Brasil cresce, em média, 12% ao ano, segundo a BSCA.
- O país já ultrapassa das 45 milhões de sacas consumidas internamente, somando todos os tipos de café — um recorde histórico.
- Estimativas da Organização Internacional do Café (OIC) mostram que o Brasil deve se tornar, até 2030, o maior mercado consumidor do mundo, superando os EUA.
Para a Illy, que já atende cerca de 100 mil cafeterias em 140 países, esse cenário representa uma oportunidade estratégica. O Brasil é, ao mesmo tempo, fornecedor e consumidor, o que cria um ciclo virtuoso: qualidade elevada na produção, melhora dos padrões de consumo e fortalecimento da marca.
Inovações italianas moldam a cultura global do café
Durante o evento em Roma, o presidente da Illycaffè destacou as três grandes contribuições italianas para a cultura do café:
o expresso, o sistema de pressurização que preserva os aromas, e o sachê por porção — tecnologias que moldaram a forma como o mundo consome café hoje . A marca se tornou símbolo dessa tradição ao incorporar esses avanços na fabricação de equipamentos, na estandardização de métodos de preparo e na consolidação do “espresso italiano” como ícone cultural.
Ao mencionar o preparo típico na Itália — servido rapidamente no balcão — Illy reforçou o valor da experiência, que se tornou elemento central do consumo contemporâneo e impulsiona o mercado de cafés premium ao redor do mundo.
Sustentabilidade e agricultura regenerativa ganham espaço na estratégia da empresa
O presidente também ressaltou a adoção de práticas de agricultura regenerativa, tendência global que reduz custos, aumenta a resiliência do solo e melhora a qualidade dos grãos. Segundo ele, a empresa intensificou esse movimento durante a pandemia e a guerra na Ucrânia, períodos em que fertilizantes encareceram e produtores buscaram alternativas mais sustentáveis .
O Brasil, que já lidera iniciativas de agricultura de baixo carbono, tornou-se um dos laboratórios mais relevantes para essas práticas, especialmente em regiões como o Cerrado Mineiro e o Sul da Bahia. A Illy pretende ampliar programas de capacitação e certificação, incentivando técnicas que conciliem produtividade e conservação ambiental.
Perspectivas: expansão, parceria e posicionamento no mercado mundial
A meta da empresa para o Brasil é clara: alcançar 10% do mercado nacional de cafés premium nos próximos anos — proporção ambiciosa em um país historicamente dominado por marcas locais e pelo consumo doméstico de cafés tradicionais. Atualmente, a participação da Illy oscila entre 1% e 2%, segundo o executivo.
Para atingir esse objetivo, a companhia aposta em três frentes:
- qualificação de cafeterias e baristas, por meio da Universidade do Café;
- expansão da oferta de produtos premium, alinhados à tendência de consumo doméstico sofisticado;
- parcerias comerciais com cafeicultores brasileiros, garantindo padrão uniforme de qualidade.
A trajetória de cooperação entre Brasil e Illycaffè é considerada um modelo para o setor, ao integrar capacitação técnica, valorização do produtor e crescimento sustentável.
O café como ativo estratégico e o papel do Brasil no mercado global
O movimento observado no Brasil — migração do consumo de cafés tradicionais para especiais — se conecta a transformações internacionais que reposicionam o café como ativo cultural e econômico. O país, antes visto apenas como fornecedor de grande volume, assume agora papel central na formação de tendências, influenciando preços, padrões de qualidade e até modelos de sustentabilidade.
A expansão da Illy ocorre em um contexto de diversificação do mercado brasileiro, com forte concorrência de marcas nacionais e estrangeiras, e com consumidores cada vez mais exigentes. Embora a meta de 10% seja ousada, ela revela a percepção de que o Brasil não é apenas um gigante agrícola, mas também um protagonista na sofisticação do paladar global.
Ao reforçar a agricultura regenerativa, a empresa contribui para um debate essencial: o futuro da produção agrícola em face das mudanças climáticas. O café, altamente sensível ao clima, está na linha de frente de desafios que exigem adaptação e inovação. O Brasil, novamente, desempenha papel decisivo nesse processo.
*Com informações da Revista Veja.
Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




