Uma análise publicada na sexta-feira (28/11/2025) pela revista britânica The Economist afirma que a direita brasileira atravessa seu momento mais crítico desde 2018, marcada pela ausência de um líder unificador e por disputas internas intensificadas após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo a publicação, a fragmentação já afeta a disputa presidencial de 2026 e abriu caminho para o governo Lula recuperar terreno político diante da crise provocada pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos e das tensões geradas pelo lobby da família Bolsonaro no exterior.
A reportagem destaca que, a menos de um ano das eleições, o campo conservador não conseguiu organizar uma candidatura competitiva. Governadores como Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO) e Romeu Zema (MG) aparecem como nomes possíveis, ao lado de Flávio e Eduardo Bolsonaro, mas nenhum deles conseguiu consolidar apoio amplo.
Segundo a Economist, o cenário “era bastante diferente há alguns meses”. A alta dos alimentos, a queda momentânea da popularidade do presidente Lula e o desgaste da esquerda nas redes sociais indicavam vantagem para a oposição. Esse quadro, porém, mudou rapidamente após a crise diplomática com os Estados Unidos e a prisão de Bolsonaro, que desorganizou o eixo político da direita.
A revista afirma que a própria família Bolsonaro contribuiu para a turbulência, especialmente após o lobby de Eduardo Bolsonaro junto ao Partido Republicano contra o julgamento do ex-presidente. Esse movimento teria irritado a Casa Branca de Donald Trump e levado diretamente ao tarifaço anunciado como retaliação.
Tarifaço, negociação Lula–Trump e impacto político
O texto observa que o governo Lula soube reagir com rapidez ao tarifaço, iniciando negociações diretas com Trump e promovendo uma ofensiva diplomática para minimizar os danos à economia brasileira. Os primeiros anúncios de recuos parciais nas tarifas reconfiguraram o ambiente político interno.
A Economist avalia que esse movimento reforçou a posição do governo, que passou a aprovar medidas de apelo popular, como o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda. Enquanto isso, a direita viu suas principais lideranças se dividirem entre manter distância de Bolsonaro para fugir do desgaste econômico e, ao mesmo tempo, preservar o apoio do eleitorado bolsonarista — considerado essencial para qualquer candidatura competitiva.
Para a publicação, a direita “está perdendo o debate sobre soberania, tarifas e impostos”, questão central para um eleitorado sensível à pauta econômica e ao discurso nacionalista.
A ofensiva na segurança pública
Diante das dificuldades, o campo conservador tem apostado em reforçar críticas na área de segurança, considerada o flanco mais vulnerável do governo. A revista cita como exemplo a operação policial de outubro no Rio de Janeiro, usada por políticos de oposição para atacar a condução federal na área, mesmo que a ação envolvesse esferas estaduais e federais.
Ainda assim, a Economist pondera que muitos fatores podem ameaçar a estabilidade do governo. Entre eles, o desgaste da idade — Lula chegará às eleições com 80 anos — e a possibilidade de que sua reforma do Imposto de Renda aumente o consumo e pressione a inflação.
Disputa aberta e efeitos do legado bolsonarista
A análise conclui que, apesar dos riscos para Lula, a maior consequência imediata do caos político deixado pelo bolsonarismo é a fragmentação da própria direita. Com a liderança de Bolsonaro comprometida pela prisão domiciliar e pelos processos criminais, seus aliados e rivais se enfrentam em busca de espaço, sem apresentar projeto ou narrativa comum.
Para a Economist, o principal beneficiário desse vácuo político é o próprio governo Lula, que encontrou espaço para recuperar apoio popular e reorganizar sua agenda, enquanto a oposição tenta se recompor diante de um cenário eleitoral incerto e competitivo.
O impasse estratégico da direita e a reorganização do sistema político
A leitura apresentada pela The Economist evidencia um ponto estrutural do atual cenário político brasileiro: a direita, que desde 2018 se apoiava quase exclusivamente na figura de Bolsonaro, não construiu lideranças alternativas com densidade eleitoral, capilaridade partidária ou estrutura programática. A ausência desse alicerce tornou inevitável a fragmentação no momento em que o ex-presidente perdeu protagonismo institucional.
Além disso, a disputa interna entre governadores e membros da família Bolsonaro ocorre em meio à redefinição da política econômica e diplomática do país. Ao reagir de forma coordenada ao tarifaço, o governo Lula ocupou a posição de estabilidade e previsibilidade — atributos que, historicamente, fortalecem governantes em períodos de conflito internacional.
Por outro lado, a tentativa de transformar a segurança pública em eixo central de oposição revela tanto a fragilidade quanto a falta de alternativas programáticas da direita. O tema mobiliza eleitores, mas não constrói por si só um projeto de país. Essa tensão interna tende a se intensificar nos próximos meses, sobretudo se Bolsonaro continuar politicamente enfraquecido e sem condições de liderar o bloco conservador.
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