A Polícia Federal deflagrou, nesta quinta-feira (18/12/2025), uma nova e ampliada fase da Operação Sem Desconto, aprofundando as investigações sobre um esquema nacional de descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS, com prejuízos bilionários a beneficiários, sobretudo idosos. A ofensiva resultou em prisões preventivas, no afastamento e exoneração do secretário-executivo do Ministério da Previdência e no avanço das apurações sobre relações políticas no Senado, ampliando a crise institucional no sistema previdenciário brasileiro.
Operação atinge núcleo financeiro do esquema
A nova fase da operação levou à prisão de Romeu Carvalho Antunes, filho do lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado pelas investigações como um dos principais operadores financeiros do esquema. Segundo a Polícia Federal, Romeu mantinha vínculos societários e poderes para movimentar contas bancárias utilizadas para a circulação e ocultação de recursos oriundos das fraudes.
As investigações indicam que o grupo atuava por meio de empresas de fachada, associações de classe e intermediários financeiros, utilizando dados de aposentados e pensionistas para inserir descontos automáticos não autorizados diretamente nos benefícios pagos pelo INSS.
Prisão de advogado e elo com ex-diretor do INSS
Outro alvo central foi o advogado Éric Douglas Martins Fidelis, preso preventivamente. Ele é filho de André Fidelis, ex-diretor de Benefícios do INSS, detido em fase anterior da operação. De acordo com a Polícia Federal, o escritório de advocacia de Éric teria atuado como canal de intermediação financeira, com suspeita de pagamento de propinas e movimentação de valores milionários em curto espaço de tempo.
As apurações apontam que a atuação jurídica não se limitava à defesa administrativa, mas integrava a engenharia financeira do esquema, conectando operadores privados a decisões e acessos estratégicos dentro da estrutura previdenciária.
Queda do número dois da Previdência aprofunda crise
A operação atingiu diretamente a cúpula do Ministério da Previdência Social com a prisão domiciliar e afastamento de Adroaldo da Cunha Portal, então secretário-executivo da pasta, considerado o segundo cargo mais importante do ministério. Após a deflagração da operação, o ministro Wolney Queiroz determinou sua exoneração imediata.
Adroaldo Portal já havia ocupado cargos estratégicos na estrutura previdenciária desde 2023, inclusive como secretário do Regime Geral de Previdência Social. Sua trajetória inclui passagens por gabinetes parlamentares e atuação próxima a quadros do PDT, partido historicamente ligado à área previdenciária.
Estrutura criminosa e alcance nacional
Segundo a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União, a organização criminosa operava de forma estruturada e hierarquizada, com divisão clara de funções:
- Captação e uso irregular de dados de aposentados e pensionistas
- Inserção de informações falsas em sistemas oficiais
- Desvio sistemático de valores por meio de associações
- Ocultação e dilapidação patrimonial com uso de empresas e bens de luxo
Ao todo, foram cumpridos 52 mandados de busca e apreensão e 16 mandados de prisão preventiva, em estados como Distrito Federal, São Paulo, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Avanço das investigações sobre senador da República
A operação também alcançou o senador Weverton Rocha (PDT-MA), vice-líder do governo Lula no Senado, alvo de mandado de busca e apreensão em sua residência, em Brasília. Relatórios da Polícia Federal indicam que o parlamentar é investigado como possível beneficiário indireto, descrito em documentos como “sócio oculto” das operações financeiras estruturadas pelo grupo.
Entre os elementos considerados relevantes pelos investigadores estão relações pessoais e empresariais com o Careca do INSS, uso compartilhado de aeronave particular, movimentações patrimoniais expressivas e vínculos entre ex-assessores do senador e operadores do esquema.
O senador nega irregularidades e afirma que prestará esclarecimentos após acesso integral às decisões judiciais.
A chamada “Farra do INSS” e seus impactos sociais
O esquema ficou conhecido como “Farra do INSS” após a revelação do aumento explosivo das arrecadações de associações que realizavam descontos não autorizados nos benefícios previdenciários. Em apenas um ano, os valores chegaram à casa dos bilhões de reais, afetando diretamente aposentados e pensionistas, muitos em situação de vulnerabilidade.
As entidades envolvidas alegavam oferecer serviços como assistência jurídica, convênios médicos e benefícios diversos, mas auditorias identificaram ausência de estrutura operacional real, caracterizando fraude sistemática.
Ressarcimento, desgaste político e resposta do governo
Diante da repercussão, o governo federal anunciou a devolução integral dos valores descontados indevidamente, em parcela única, com prazo de contestação prorrogado até fevereiro de 2026. O escândalo também resultou, em fases anteriores, na queda do então ministro da Previdência Carlos Lupi, ampliando o desgaste político do governo no Congresso.
Autoridades afirmam que há liberdade total para atuação da Polícia Federal e da CGU, enquanto a investigação avança para esclarecer responsabilidades administrativas e políticas.
Resumo biográfico dos principais alvos da PF
Antônio Carlos Camilo Antunes – “Careca do INSS”
Lobista apontado como um dos principais operadores do esquema de fraudes. Atuava na articulação entre associações, empresas e intermediários financeiros. Está preso desde setembro de 2025.
Romeu Carvalho Antunes
Engenheiro de software, filho do Careca do INSS. Atuou como sócio e operador financeiro de empresas ligadas ao esquema, com autorização para movimentar contas suspeitas.
Éric Douglas Martins Fidelis
Advogado previdenciarista, filho do ex-diretor do INSS André Fidelis. É suspeito de intermediar pagamentos e movimentações financeiras relacionadas às fraudes.
André Fidelis
Ex-diretor de Benefícios do INSS. Preso em fase anterior da operação. É apontado como elo institucional do esquema dentro da autarquia.
Adroaldo da Cunha Portal
Jornalista de formação, ex-secretário-executivo do Ministério da Previdência. Ocupou cargos estratégicos desde 2023. Foi afastado e exonerado após ser alvo de prisão domiciliar.
Weverton Rocha
Senador pelo PDT do Maranhão, vice-líder do governo no Senado. Investigado por possíveis vínculos políticos e financeiros com operadores do esquema. Nega irregularidades.
Crise estrutural e responsabilidade institucional
A ampliação da Operação Sem Desconto revela uma crise estrutural profunda na Previdência Social, marcada por falhas de controle, captura institucional e promiscuidade entre interesses privados e agentes públicos. O alcance da investigação, que chega ao Senado e à cúpula ministerial, desmonta a narrativa de desvios pontuais.
Persistem questionamentos relevantes sobre a demora na detecção das fraudes, a fragilidade dos mecanismos de fiscalização e o grau de tolerância institucional que permitiu descontos ilegais por anos. O desfecho da operação será decisivo para aferir se o Estado conseguirá não apenas punir os responsáveis, mas restaurar a confiança pública no INSS e proteger efetivamente os beneficiários.
*Com informações da Polícia Federal, Estadão, Folha de S.Paulo, Revista Veja e site Metrópoles.
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