Relatos de ao menos seis fontes indicam que o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, procurou reiteradas vezes o presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo, para tratar da situação do Banco Master e defender a aprovação da venda da instituição ao BRB. O negócio, no entanto, acabou barrado após a identificação de fraudes, o que levou à liquidação extrajudicial do banco em novembro de 2025. As informações foram reveladas pela jornalista Malu Gaspar, em reportagem publicada no jornal O Globo, nesta segunda-feira (22/12/2025).
Segundo os relatos colhidos ao longo de três semanas, Moraes teria feito ao menos quatro contatos com Galípolo — três por telefone e um encontro presencial — para acompanhar o andamento do processo envolvendo o Banco Master, controlado por Daniel Vorcaro. Em julho, o ministro teria solicitado que o presidente do BC fosse pessoalmente ao seu encontro.
De acordo com integrantes da autarquia, as conversas trataram principalmente da operação de venda do Master ao BRB, anunciada em março, mas pendente de autorização. À época, já havia divergências internas no BC sobre a conveniência de decretar intervenção no banco.
Em uma das conversas, conforme relato atribuído ao próprio ministro, Moraes teria afirmado que “gostava de Vorcaro” e sustentado o argumento de que o Master estaria sendo combatido por “tomar espaço dos grandes bancos”.
Fraudes, impasse regulatório e decisão do BC
Galípolo respondeu que técnicos do Banco Central haviam identificado fraudes no repasse de R$ 12,2 bilhões em créditos do Master para o BRB. Diante da informação, o ministro teria reconhecido que, confirmadas as irregularidades, a operação não poderia ser aprovada.
Em 18 de novembro, enquanto a Polícia Federal prendia Vorcaro e outros seis executivos, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Master. Procurados, Moraes e Galípolo não comentaram os contatos.
Contrato do escritório da esposa do ministro
O caso ganhou novo contorno com a revelação de que o escritório Barci de Moraes Associados, da advogada Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro, mantinha contrato de prestação de serviços com o Master. O acordo previa R$ 3,6 milhões mensais por três anos, a partir de janeiro de 2024, totalizando cerca de R$ 130 milhões.
O documento indicava como missão representar os interesses do banco e de Vorcaro junto ao Banco Central, Receita Federal, Cade e Congresso. No entanto, informações obtidas via Lei de Acesso à Informação junto ao BC e ao Cade indicam que não houve registros de reuniões, petições ou documentos protocolados pelo escritório nessas instituições.
Investigação no Supremo e clima interno no BC
Duas semanas após decidir que a competência para investigar o caso é do Supremo, Dias Toffoli avocou o processo, decretou sigilo total e concedeu 30 dias para a PF realizar oitivas, sob acompanhamento de juízes auxiliares de seu gabinete.
Ainda sem datas marcadas, técnicos do BC relatam apreensão quanto a possíveis depoimentos, citando temor de intimidação. Esses mesmos técnicos informaram a investigadores do Ministério Público e da PF que nunca sofreram tanta pressão política em favor de um único banco quanto no caso Master.
Blindagem institucional e resposta pública
Em entrevista coletiva de fim de ano, Galípolo afirmou estar à disposição do Supremo para prestar esclarecimentos e destacou que todas as interações foram documentadas. Segundo fontes, a estratégia foi registrar reuniões, mensagens e comunicações para resguardar a instituição diante de pressões externas, inclusive de agentes políticos.
O presidente do BC também afirmou a interlocutores do governo e do mercado que sofreu pressão, mas que contou com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para não interromper a apuração.
Entrada do TCU e questionamentos de competência
Na sexta-feira (19/12/2025), o ministro Jhonatan de Jesus, do Tribunal de Contas da União, determinou que o Banco Central envie esclarecimentos sobre o processo de liquidação do Master, no âmbito de apuração sobre possível omissão da autarquia.
A medida gerou estranheza no meio técnico, uma vez que o TCU não detém atribuição para atuar em transações entre instituições privadas do sistema financeiro, o que adiciona tensão institucional ao caso.
Pressões, fronteiras institucionais e riscos sistêmicos
O episódio expõe fricções sensíveis entre Poder Judiciário e autoridade monetária, com potenciais impactos sobre a autonomia regulatória do Banco Central. Ainda que contatos institucionais não sejam, por si, irregulares, a reiterada intervenção em favor de um banco sob suspeita amplia o risco de confusão de papéis.
A revelação de vínculo contratual entre o banco investigado e o escritório da esposa do ministro intensifica a necessidade de transparência e escrutínio, mesmo diante da ausência de registros formais de atuação junto aos órgãos citados. O contraste entre pressões relatadas e documentação oficial tende a orientar o foco das investigações.
Por fim, a avocação do caso ao Supremo, o sigilo e a entrada do TCU em terreno controverso reforçam a leitura de um processo com elevada carga institucional, cujos desdobramentos podem redefinir balizas de atuação entre os Poderes e órgãos de controle.
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