A Polícia Federal (PF) identificou indícios de que o deputado federal Vicentinho Júnior (PP) e sua esposa teriam recebido valores provenientes de uma empresa de fachada ligada a uma organização criminosa investigada na Operação Overclean, que apura um esquema bilionário de corrupção envolvendo emendas parlamentares e contratos públicos, especialmente no âmbito do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), a informação foi reportada neste sábado (13/12/2025), por Mirelle Pinheiro e Letícia Guedes, em reportagem do site Metrópoles.
Indícios de repasses por meio de empresa registrada em nome da esposa
Segundo apuração jornalística, entre março de 2023 e novembro de 2024, uma empresa formalmente registrada em nome de Gillaynny Marjorie Duarte Borba de Oliveira, esposa do parlamentar, teria recebido transferências financeiras regulares de uma empresa apontada como fantasma pelos investigadores.
A empresa remetente, identificada como BRA Teles LTDA, foi criada, de acordo com a PF, pelos irmãos Alex e Fábio Parente, apontados como líderes da organização criminosa investigada na Overclean. Os depósitos eram realizados mensalmente, em valores aproximados de R$ 20 mil, destinados à GMD Borba Distribuidora Eireli.
As datas dessas transferências coincidem com registros constantes em uma planilha de supostos repasses ilegais, apreendida pela PF em dezembro de 2024, documento considerado central para o avanço da investigação.
Codinome “VIC” e valores que superam R$ 400 mil
Nos documentos analisados pela Polícia Federal, os repasses estariam associados ao codinome “VIC”, que, segundo os investigadores, faria referência direta ao deputado Vicentinho Júnior.
Somados os valores descritos nas planilhas relativas aos anos de 2023 e 2024, o montante que teria sido destinado ao casal alcança R$ 420 mil. Desse total, R$ 260 mil teriam origem direta na empresa fantasma vinculada ao núcleo criminoso, enquanto o restante envolveria outros remetentes também citados nos registros apreendidos.
Para a PF, os elementos reunidos até o momento permitem sustentar, com alto grau de convicção, que os valores teriam como destinatário final o parlamentar, utilizando a empresa da esposa como intermediária para a movimentação financeira.
Empresa sem sede e ausência de atividade comprovada
Durante a apuração, investigadores da Polícia Federal estiveram duas vezes no endereço informado como sede da GMD Borba Distribuidora Eireli. No local, nenhuma distribuidora de bebidas foi encontrada, tampouco indícios de funcionamento regular da empresa.
Testemunhas ouvidas relataram que, há cerca de dois anos, teria existido um estabelecimento semelhante no endereço, mas afirmaram que não há movimentação comercial visível há longo período, o que reforça a suspeita de empresa de fachada.
Esses elementos foram incorporados aos relatórios policiais como indícios de irregularidade operacional, frequentemente associados a esquemas de lavagem de dinheiro e ocultação de recursos ilícitos.
Operação Overclean e o esquema investigado
Deflagrada em dezembro de 2024, a Operação Overclean investiga um esquema estruturado de corrupção envolvendo recursos públicos destinados a municípios por meio de emendas parlamentares. As apurações identificaram fraudes em contratos do Dnocs, incluindo obras superfaturadas, pagamentos por serviços inexistentes e direcionamento de contratos.
Em uma das fases da operação, a PF apreendeu planilhas contendo mais de 100 nomes e codinomes, associados a empresários, agentes públicos e operadores políticos. O material indica a existência de um sistema organizado de distribuição de recursos ilegais.
Entre os investigados está o empresário José Marcos de Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, preso na fase inicial da operação e apontado como articulador político do esquema. Na residência dele, a PF encontrou uma escritura vinculada ao deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA), que nega qualquer irregularidade.
Outro parlamentar citado é Félix de Almeida Mendonça Júnior (PDT-BA), apontado como liderança de um núcleo político responsável pela articulação das emendas. Embora não tenha sido alvo das buscas mais recentes, ele segue sob investigação.
Posicionamento do parlamentar
A reportagem entrou em contato com o deputado Vicentinho Júnior para solicitar esclarecimentos sobre as informações apuradas. Até o fechamento desta matéria, não houve retorno. O espaço permanece aberto para manifestação.
Impactos políticos e desafios institucionais
O avanço da Operação Overclean expõe, mais uma vez, a fragilidade dos mecanismos de controle sobre emendas parlamentares, instrumento legítimo do processo orçamentário, mas frequentemente associado a desvios, clientelismo e corrupção estrutural quando não fiscalizado de forma rigorosa.
Os indícios envolvendo parlamentares reforçam a necessidade de maior transparência, rastreabilidade e responsabilização no uso de recursos públicos, sobretudo em órgãos historicamente sensíveis como o Dnocs. A repetição de esquemas semelhantes indica que falhas institucionais persistem, independentemente de mudanças legislativas pontuais.
Do ponto de vista político, investigações desse porte tendem a ampliar o desgaste do Congresso Nacional, afetando a confiança pública e pressionando por reformas mais profundas no modelo de execução orçamentária, especialmente no que se refere às emendas parlamentares.
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