Josias Gomes da Silva, agrônomo e político filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1980, construiu uma trajetória marcada pela militância estudantil, atuação partidária orgânica e sucessivos mandatos na Câmara dos Deputados. Natural de Amaraji, em Pernambuco, ele consolidou sua carreira política na Bahia, onde se tornou presidente estadual do PT e exerceu funções estratégicas em governos petistas, além de ocupar cadeiras no Legislativo federal em diferentes legislaturas.
Em dezembro de 2025, o nome de Josias passou a integrar o centro da agenda institucional baiana após a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) aprovar, por unanimidade, sua indicação para o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE-BA), proposta pelo governador Jerônimo Rodrigues. A votação no Plenário da ALBA, etapa subsequente, tende a definir se o parlamentar encerrará sua passagem pelo Congresso para assumir a função no órgão de controle externo.
A biografia de Josias reúne passagens por três regiões do país — Nordeste, Norte e Bahia — combinando experiência administrativa, direção partidária e atuação legislativa. Ao longo de décadas, sua presença foi mais associada à construção interna do PT e às áreas de agricultura e desenvolvimento regional do que ao protagonismo midiático, perfil que voltou a ser observado na sabatina, quando defendeu uma atuação técnica e voltada ao consenso no Tribunal de Contas.
Origem, formação e militância estudantil
Josias Gomes nasceu em 14 de outubro de 1956, em Amaraji (PE), filho de Jesuino Gomes da Silva e Maria José Alves da Silva. A formação acadêmica foi realizada no campo das ciências agrárias: graduou-se em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em 1980, na cidade de Areia (PB), ambiente em que também iniciou sua militância política.
Na universidade, participou do movimento estudantil e presidiu o Diretório Acadêmico de Ciências Agrárias, período em que liderou mobilizações e registrou atuação sindical e política ainda no contexto de reorganização social após o ciclo autoritário iniciado em 1964. Essa experiência ajudou a compor o repertório que mais tarde seria utilizado na organização partidária e na articulação com movimentos sociais.
Ainda vinculado à temática ambiental, foi membro da Associação Paraibana dos Amigos da Natureza, em Areia, entre 1978 e 1990. Em 1992, já na Bahia, concluiu pós-graduação lato sensu pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em Ilhéus, o que reforçou seus vínculos com a região cacaueira, espaço central de sua trajetória política no estado.
Entrada no PT e passagem por Rondônia
A filiação ao Partido dos Trabalhadores ocorreu em 1980, ano de fundação da legenda, e a militância partidária se expandiu rapidamente para funções organizativas. Três anos depois, Josias mudou-se para Porto Velho (RO), onde ocupou cargos partidários e sindicais, além de funções no setor público.
Entre 1983 e 1987, atuou como secretário da Comissão Executiva Estadual do PT em Rondônia, assumindo atribuições de articulação e organização. No mesmo período, exerceu a função de assessor de Planejamento na Secretaria de Planejamento de Porto Velho, em 1984, e foi presidente do Sindicato dos Engenheiros de Rondônia, entre 1985 e 1987.
A passagem pelo Norte inclui também participação em disputas eleitorais do período de redemocratização. Em 1985, foi candidato a vice-prefeito em Porto Velho, em uma das primeiras eleições municipais relevantes após o ciclo militar. Em 1986, coordenou campanha do PT ao governo estadual e participou da organização de movimentos sindicais, incluindo greve de servidores públicos, segundo registros biográficos.
Fixação na Bahia e construção partidária na região cacaueira
No fim da década de 1980 e início dos anos 1990, Josias se estabelece na Bahia, com base na região cacaueira, onde se aproxima de sindicatos rurais, estruturas partidárias locais e agendas de desenvolvimento regional. Em 1989, participou da coordenação de campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva e se engajou na organização de campanhas salariais unificadas de trabalhadores rurais ligados à lavoura cacaueira, envolvendo dezenas de sindicatos.
Em Itabuna, dirigiu a Associação dos Engenheiros Agrônomos do Cacau (1991–1993) e coordenou campanhas eleitorais de lideranças locais do PT. Após a vitória de Geraldo Simões na eleição municipal, ocupou a Secretaria de Assuntos Estratégicos na administração municipal, função de natureza articuladora, associada ao desenho político da gestão.
Esse ciclo baiano consolidou um traço permanente da sua trajetória: a atuação como articulador e dirigente orgânico, dedicado à estrutura interna do partido, ao recrutamento político e à ampliação territorial do PT em municípios.
Presidente do PT da Bahia e influência na organização partidária
A ascensão interna culminou em 1999, quando foi eleito presidente do Diretório Estadual do PT na Bahia, cargo que ocupou até 2004, após passagens anteriores por funções como secretário estadual e integrante do Diretório Nacional. No comando partidário, coordenou campanhas, ampliou alianças e estruturou o PT em centenas de municípios.
Segundo registros do período, sua gestão teve como marca a expansão do partido em disputas municipais: o PT concorreu em grande parte dos municípios baianos e ampliou o número de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos. No início do primeiro governo Lula, Josias também foi descrito como figura relevante na articulação política do PT na Bahia, incluindo processos de preenchimento de cargos federais no estado, em um contexto de consolidação da base partidária.
Essa etapa é central para compreender sua permanência como quadro do PT: Josias não se limitou à atuação parlamentar, mas operou como organizador partidário e articulador político em escala estadual.
Mandatos na Câmara e atuação em comissões
Josias foi eleito deputado federal pela Bahia em 2002, assumindo a legislatura 2003–2007. No Congresso, integrou comissões ligadas à agricultura e ao desenvolvimento rural, além de participar de comissões especiais e externas relacionadas a temas de política pública, como bacias hidrográficas do semiárido e biossegurança.
Em 2005, foi citado em acusações no contexto da crise política daquele período e se afastou temporariamente de funções partidárias para enfrentar o processo no Conselho de Ética. Prestou depoimento e foi absolvido em 2006, encerrando o episódio do ponto de vista parlamentar. No pleito seguinte, em 2006, não conseguiu se reeleger, mas retornou à Câmara ao vencer as eleições de 2010.
A partir de 2011, acumulou novas passagens por comissões, incluindo Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural e Relações Exteriores e de Defesa Nacional, além de atuação em comissões especiais. Também exerceu função de vice-líder em períodos no Parlamento, ampliando sua participação na coordenação política de bancada.
Josias voltou a se reeleger em 2014 e 2018, consolidando uma trajetória de continuidade legislativa intercalada por licenças para ocupar funções no Executivo estadual.
Licenças e cargos no Executivo da Bahia
Um traço relevante de sua carreira é a alternância entre mandato parlamentar e cargos de primeiro escalão no governo baiano. Ele se licenciou para assumir a Secretaria de Relações Institucionais da Bahia, durante o governo Rui Costa, cargo associado à articulação política com a Assembleia, municípios e lideranças partidárias.
Posteriormente, também ocupou a Secretaria de Desenvolvimento Rural, reforçando a vinculação a agendas do campo, agricultura familiar e políticas territoriais. As licenças e reassunções ao mandato, registradas em diferentes datas, compõem a cronologia administrativa do parlamentar e mostram seu trânsito entre arenas legislativa e executiva.
No ciclo atual (2023–2027), Josias aparece como suplente em exercício, com períodos de afastamento e reassunção ao longo do mandato, conforme registros parlamentares.
Pautas e posicionamentos recentes
Nos últimos anos, Josias aparece vinculado a pautas diversas, mas com presença recorrente em áreas ligadas ao desenvolvimento regional e ao mundo rural. Em 2024, foi um dos signatários da PEC do fim da escala 6×1, iniciativa que alcançou assinaturas para protocolização e tramitação na Câmara.
Sua trajetória, porém, é descrita majoritariamente pela combinação entre estrutura partidária e gestão pública, mais do que por bandeiras personalistas. Em termos de carreira, o perfil é o de um dirigente forjado no “chão” do partido, com longa permanência e participação em arranjos internos, o que, historicamente, costuma pesar em indicações a cargos de natureza institucional.
Indicação ao TCE-BA e debate sobre a natureza da vaga
Em dezembro de 2025, a CCJ da ALBA aprovou por unanimidade a indicação de Josias Gomes ao TCE-BA, após sabatina conduzida por Robinson Almeida. Na sessão, o indicado afirmou que pretende adotar uma postura técnica e consensualista, defendendo que o Tribunal de Contas deve combinar responsabilização e melhoria da gestão pública.
O processo, entretanto, não foi imune a questionamentos. Durante a sabatina, houve registro de debate sobre uma possível decisão judicial liminar e sobre a tese de que a vaga seria destinada à carreira de auditor. A CCJ afirmou não ter sido formalmente notificada e a base do governo sustentou entendimento atribuído ao STF no sentido de que a indicação cabe ao chefe do Executivo estadual.
Caso a indicação seja confirmada pelo Plenário, haverá repercussão direta no Congresso, com a saída de Josias do mandato federal e a recomposição de suplências, incluindo a possibilidade de retorno de Elisângela Araújo à Câmara, conforme o arranjo político descrito.
O perfil do indicado e o sentido institucional da escolha
A indicação de Josias Gomes ao TCE-BA se encaixa em um padrão clássico da política brasileira: tribunais de contas, embora de função técnica, frequentemente recebem nomes com longa vida partidária e experiência administrativa. O argumento oficial costuma ser o da “experiência em gestão pública” e da capacidade de diálogo; o risco, inerente ao modelo, é a percepção pública de que cargos de controle se tornam extensão de arranjos políticos consolidados.
No caso específico, a biografia de Josias reforça o componente orgânico: dirigente estadual, articulador, secretário de governo e parlamentar por vários mandatos. Esse histórico ajuda a explicar o consenso político registrado na CCJ, mas também ilumina a tensão recorrente com carreiras técnicas, como auditores, que reivindicam espaço institucional sob o argumento de especialização e independência.
A decisão do Plenário, portanto, tende a ser interpretada menos como um julgamento da trajetória individual e mais como uma reafirmação do desenho institucional vigente: o controle externo permanece, em parte, atravessado por escolhas políticas — um traço antigo do sistema brasileiro que resiste a reformas profundas.
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CCJ da ALBA aprova por unanimidade nome de Josias Gomes para o cargo de conselheiro do TCE-BA
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