Brasil e Paraguai unem forças regionais contra protecionismo verde no acordo Mercosul-UE

Rubén Ramírez, novo ministro de Relações Exteriores do Paraguai, cumprimenta o presidente Lula.
Rubén Ramírez, novo ministro de Relações Exteriores do Paraguai, cumprimenta o presidente Lula.

Em um movimento histórico para fortalecer laços comerciais e estratégicos na América do Sul, Brasil e Paraguai anunciaram a retomada da Comissão de Comércio Bilateral, após sete anos de inatividade. O compromisso foi selado durante uma reunião entre autoridades ministeriais da indústria e comércio dos dois países, ocorrida em Brasília no mês passado. Este encontro marcou um importante passo em direção à integração regional e à resposta conjunta ao protecionismo verde europeu, representando uma reviravolta significativa nas relações bilaterais.

Aproximação estratégica

A aproximação entre o Brasil e o Paraguai tem sido uma realidade em construção desde a ascensão do presidente paraguaio Santiago Peña ao poder, em 15 de agosto. Essa aproximação se manifestou através de declarações positivas sobre o governo brasileiro, visitas oficiais e um alinhamento crescente em questões regionais e internacionais. Com um relacionamento comercial que movimentou cerca de US$ 7 bilhões (R$ 34,7 bilhões) no último ano, esses países vizinhos compartilham uma extensa fronteira de 1.339 quilômetros, importantes laços sociais e são parceiros na Usina Hidrelétrica de Itaipu, além de fazerem parte do Mercado Comum do Sul (Mercosul).

As transações comerciais entre o Brasil e o Paraguai têm sido um componente fundamental dessa aproximação. O Brasil tem se destacado como exportador de máquinas agrícolas, automóveis e fertilizantes para o Paraguai, enquanto importa produtos como arroz, equipamentos para distribuição de energia elétrica e carne bovina. Essa interdependência econômica torna a retomada da Comissão de Comércio Bilateral ainda mais estratégica, pois busca fortalecer e aprimorar o comércio entre os dois países.

Impasse no acordo Mercosul-UE

Um dos principais pontos de discussão entre o Brasil e o Paraguai é o Acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE), que tem enfrentado crescentes demandas e críticas por parte dos países europeus. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu homólogo paraguaio, Santiago Peña, têm expressado sérias preocupações em relação às exigências europeias.

No cerne do impasse estão as demandas europeias por punições a países do Mercosul em caso de violações de compromissos ambientais internacionais, o que é amplamente percebido como uma medida protecionista que beneficia os produtores europeus. Além disso, a UE propôs a abertura de processos de compras públicas para empresas estrangeiras, ameaçando a utilização do mecanismo de compras estatais como forma de apoiar as pequenas e médias empresas nacionais, o que também favoreceria os interesses europeus.

Para especialistas em relações internacionais, a aproximação entre Brasil e Paraguai é vista como um importante reforço à integração regional, especialmente em um momento de incerteza, com a possibilidade de guinada política na Argentina para a extrema-direita. A primeira reunião presencial para tratar do Acordo Mercosul-UE após a apresentação das novas exigências da UE está agendada para o próximo dia 15 em Brasília, onde o Mercosul planeja apresentar uma contraproposta. A colaboração entre Brasil e Paraguai na resposta ao protecionismo verde europeu pode abrir caminho para a expansão da cooperação em outras áreas de interesse comum.

Revisão do tratado de Itaipu

Além do comércio e das questões relacionadas ao Acordo Mercosul-UE, Brasil e Paraguai também têm planos para negociar a revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu. Este anexo estabelece as condições de suprimento de energia, custos de eletricidade, receita e outras disposições financeiras da Usina Hidrelétrica de Itaipu, uma empresa binacional de grande relevância para ambos os países.

O presidente eleito do Paraguai, Santiago Peña, expressou otimismo durante um encontro com o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília, destacando a importância de um acordo favorável para ambas as partes. A energia excedente paraguaia é vital para o Brasil, que é seu principal comprador, e esse acordo pode representar um passo significativo em direção à cooperação energética na região.

*Com informações da RFI.


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