ALBA sob pressão: notas oficiais, omissão institucional e crise ética no caso Binho Galinha expõem colapso moral do Legislativo baiano

A Assembleia Legislativa da Bahia enfrenta uma grave crise ética e institucional após a prisão do deputado Binho Galinha. As notas oficiais da presidência, marcadas por linguagem burocrática, não enfrentam as denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro. O Conselho de Ética segue inerte, e o editorial de Carlos Augusto aponta um colapso moral, em que o formalismo jurídico substitui o dever ético de fiscalização e punição parlamentar.
A crise da ALBA no caso Binho Galinha revela omissão institucional, silêncio político e colapso moral, conforme análise do Jornal Grande Bahia.

Entre sexta-feira (03/10/2025) e segunda-feira (06/10/2025), a presidência da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) divulgou três notas explicativas sobre a atuação do Poder Legislativo diante do suposto envolvimento do deputado estadual Kléber Cristian Escolano de Almeida, o Binho Galinha (PRD), em uma ampla rede de crimes investigada nas operações El Patrón, Hybris, Fallen, Patrocínio Indigno e Estado Anômico. A mais recente nota, publicada na noite de segunda-feira (06/10/2025) e assinada pela presidente Ivana Bastos (PSD), reafirma o compromisso formal da Casa com a legalidade, mas evita reconhecer a omissão institucional que se arrasta desde 2023, quando as primeiras denúncias vieram à tona.

As sucessivas manifestações oficiais, marcadas por linguagem burocrática e tom defensivo, surgem em meio à pressão pública e às revelações jornalísticas sobre a atuação do deputado e sua suposta rede de proteção política. Enquanto a ALBA alega aguardar o acesso aos autos processuais para deliberar, cresce a percepção de que o Legislativo baiano adotou uma postura de autodefesa e evasão política, transformando o formalismo jurídico em escudo contra a responsabilidade institucional.

O caso também expôs a paralisia do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, criado apenas em 17 de abril de 2024, quatro meses após a primeira fase da Operação El Patrón (07/12/2023), e que até outubro de 2025 não apresentou nenhum parecer sobre o comportamento do deputado. A composição do colegiado, com representantes tanto da base governista quanto da oposição, não impediu o imobilismo deliberado, que se estende por quase dois anos sem qualquer providência concreta.

O editorial de Carlos Augusto, publicado pelo Jornal Grande Bahia, analisou a conduta do Poder Legislativo à luz do conceito de “anomia”, formulado por Émile Durkheim, definindo o atual momento do Legislativo como um colapso moral e normativo. Segundo a leitura, a ALBA teria se convertido em uma instituição de fachada, preservando as aparências legais enquanto ignora o dever ético de fiscalização e punição. A inércia da presidência, aliada à ausência de deliberação sobre a quebra de decoro, projeta a imagem de um Parlamento cooptado pela lógica da autopreservação.

As investigações conduzidas pelo Ministério Público da Bahia (MPBA) e pela Polícia Federal já resultaram em 15 denúncias formais, com indícios de lavagem de dinheiro, corrupção, agiotagem e tráfico de drogas, envolvendo familiares e aliados políticos de Binho Galinha. Apesar disso, a ALBA segue sem definir sua posição institucional, mantendo-se em silêncio sob o argumento do devido processo legal.

Os parlamentares baianos terão de decidir, com base nas provas reunidas pelos órgãos de investigação, se o conjunto probatório é suficiente para medidas como a suspensão ou a cassação do mandato, ou se o deputado é inocente das acusações. A omissão continuada, nesse contexto, não representa neutralidade, mas pressupõe colaboração indireta com o crime organizado e ameaça a integridade moral e a credibilidade do Poder Legislativo da Bahia.

Silêncio institucional reforça imagem de conivência política na Bahia

A Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) divulgou, na noite desta segunda-feira (06/10/2025), nova nota oficial sobre a prisão do deputado estadual Kléber Cristian Escolano de Almeida, conhecido como Binho Galinha, ocorrida na última sexta-feira (03/10/2025), após sua entrega voluntária ao Ministério Público da Bahia (MPBA). O comunicado, assinado pela presidente Ivana Bastos (PSD), reafirma o compromisso da Casa com a legalidade, mas evita reconhecer a omissão institucional diante das denúncias que vinham sendo apuradas desde 2023 no âmbito das operações El Patrón, Estado Anômico e Faroeste.

A presidência da ALBA informou que ainda não teve acesso à decisão judicial e aos autos do processo que resultou na prisão do deputado. Segundo a nota, nenhum órgão interno, como o Conselho de Ética ou o Plenário, pode deliberar sem a análise formal desses documentos. O texto afirma ainda que a Casa solicitou oficialmente ao Poder Judiciário o envio das peças processuais e que aguarda resposta.

Na prática, a declaração apenas reitera o protocolo e o formalismo de praxe, reforçando a percepção de evasão política diante de uma crise ética. O comunicado finaliza com uma reafirmação genérica do “compromisso com a transparência, a imparcialidade e o Estado Democrático de Direito”, mas sem qualquer menção à responsabilidade institucional da ALBA em fiscalizar seus membros.

Editorial de Carlos Augusto aborda “Estado Anômico” e omissão deliberada

O Jornal Grande Bahia, em editorial publicado na sexta-feira (03/10/2025), destacou que a reação da ALBA à prisão de Binho Galinha ocorreu de forma tardia e calculada, caracterizando, em tese, um ato político consciente de omissão que atinge duas gestões sob a liderança do PSD, a do deputado Adolfo Menezes e a atual, da deputada Ivana Bastos.

O texto, assinado pelo jornalista e cientista social Carlos Augusto, analisa que a Casa Legislativa optou por instaurar um processo disciplinar meramente simbólico, sem intenção real de punição, apenas para “transmitir aparência de diligência institucional”.

Segundo o editorial, tanto Adolfo Menezes (PSD), ex-presidente, quanto Ivana Bastos (PSD), atual mandatária, mantiveram uma conduta de autodefesa institucional, evitando qualquer deliberação que pudesse expor a fragilidade do sistema político estadual.

Durkheim e o colapso normativo da ALBA

O editorial explica o conceito sociológico de “anomia”, formulado por Émile Durkheim, para descrever o colapso das normas dentro do Legislativo baiano.

Na leitura de Durkheim, a anomia é um estado de ausência de orientação moral e normativa, no qual as instituições deixam de exercer seu papel regulador, permitindo que a conveniência política suplante o dever ético. Assim, a ALBA teria se convertido num órgão de fachada, em que as normas existem formalmente, mas são ignoradas quando atingem figuras poderosas.

A situação descrita remete a uma crise de legitimidade democrática: o Parlamento continua funcionando, mas perdeu seu sentido moral e cívico.

Crimes, provas e omissões: o percurso até a prisão

A partir de 7 de dezembro de 2023, as operações El Patrón, Estado Anômico e Faroeste apuram a existência de um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e agiotagem supostamente comandado por Binho Galinha.

Documentos e relatórios da Polícia Federal e do MPBA indicam a formação de uma organização criminosa com características milicianas, com ramificações em Feira de Santana, Salvador e municípios do interior. As investigações apontam ainda o envolvimento direto de policiais militares e familiares do deputado.

Apesar da gravidade das acusações, a ALBA se absteve de agir por quase dois anos, alegando que o Regimento Interno impediria punições antes de condenação definitiva. Tal interpretação, classificada por juristas como “desvio de finalidade institucional”, blindou o parlamentar e corroeu a credibilidade da Casa.

Autodefesa pela inércia e normalização da omissão

Ao condicionar qualquer providência à manifestação judicial, a ALBA transforma a separação de Poderes em pretexto para a paralisia política. Trata-se de uma estratégia de autodefesa, na qual o Legislativo evita agir para não comprometer sua própria estrutura interna, ainda que isso comprometa a confiança pública.

Para o Jornal Grande Bahia, a postura da ALBA configura um “estado de legalidade aparente”, no qual a omissão é travestida de respeito ao devido processo legal, consolidando a cultura da impunidade sob o verniz da formalidade jurídica.

Omissão como escolha política e erosão da legitimidade democrática

A inércia da Assembleia Legislativa diante do caso Binho Galinha não decorre de ignorância, mas de decisão política consciente. Ao não agir, a Casa preserva o pacto de proteção recíproca entre seus membros, comprometendo o princípio da moralidade administrativa e o controle social sobre o poder.

A consequência é o esvaziamento do papel representativo do Parlamento, que passa a ser percebido pela população como parte integrante do sistema de conivência, e não como instância de fiscalização e correção.

Crise moral e perda de autoridade institucional

A nota assinada por Ivana Bastos, ao manter tom neutro e evasivo, reforça a percepção de medo e autoproteção dentro da ALBA. O editorial de Carlos Augusto sustenta que o Legislativo estadual vive um estado anômico, em que o crime não apenas corrompe a política, mas se confunde com ela.

Enquanto a presidência promete “deliberar” apenas após o recesso administrativo, a sociedade baiana já consolidou sua desconfiança: o Parlamento perdeu sua autoridade moral.

Quem são os membros do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da ALBA encarregados do Caso El Patrón

Em 27 de fevereiro de 2024, o então presidente da Assembleia Legislativa, Adolfo Menezes (PSD), convocou os líderes das bancadas Rosemberg Pinto (PT), da base governista, e Alan Sanches (União Brasil), da oposição, para indicação dos nomes que comporiam o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da ALBA — órgão responsável por apurar a conduta do deputado Binho Galinha nos casos El Patrón e Hybris.

As indicações foram formalizadas em 13 de março de 2024, quando a oposição apresentou os três nomes — Sandro Régis (União Brasil), Samuel Júnior (Republicanos) e Tiago Correia (PSDB) — e, posteriormente, em 9 de abril de 2024, a base governista apresentou os cinco representantes — Alex da Piatã (PSD), Antônio Henrique Júnior (PP), Euclides Fernandes (PT), Marcelino Galo (PT) e Vitor Bonfim (PV).

O Conselho foi oficialmente instalado em 17 de abril de 2024, em sessão no Salão Nobre da ALBA, com presença do presidente Adolfo Menezes, do líder da maioria Rosemberg Pinto e do deputado Marcelinho Veiga (União Brasil). Na ocasião, foram eleitos Vitor Bonfim (PV) como presidente e Marcelino Galo (PT) como vice-presidente.

A comissão recebeu da presidência documentos do Ministério Público Estadual referentes às investigações contra Binho Galinha e ficou encarregada de emitir parecer preliminar sobre eventual quebra de decoro parlamentar. Entretanto, nenhum relatório foi finalizado ou submetido ao plenário até outubro de 2025, evidenciando a paralisia institucional do colegiado.

Composição do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da ALBA (2024–2025)

Presidente: Vitor Bonfim (PV)
Vice-presidente: Marcelino Galo (PT)

Membros titulares:

  • Alex da Piatã (PSD)
  • Antônio Henrique Júnior (PP)
  • Euclides Fernandes (PT)
  • Samuel Júnior (Republicanos)
  • Sandro Régis (União Brasil)
  • Tiago Correia (PSDB)

Membros suplentes:

  • Ângelo Coronel Filho (PSD)
  • Fabíola Mansur (PSB)
  • Fabrício Falcão (PCdoB)
  • Kátia Oliveira (União Brasil)
  • Marcinho Oliveira (União Brasil)
  • Penalva (PDT)
  • Raimundinho da JR (PL)
  • Robinho (União Brasil)

O Conselho tem competência para analisar denúncias de quebra de decoro, emitir pareceres sobre penalidades — que variam de advertência à cassação do mandato — e encaminhar suas conclusões ao plenário da ALBA, instância final de decisão.

Nota oficial da ALBA repete fórmulas burocráticas e adia deliberação interna; Confira íntegra

A Assembleia Legislativa da Bahia vem a público manifestar que, para que a Casa possa adotar as medidas internas cabíveis, é indispensável o acesso à decisão judicial e aos autos do processo que resultou na decretação da prisão do deputado estadual Binho Galinha, ocorrida na última sexta-feira (3), conforme noticiado pela imprensa.

A ALBA informa que recebeu a notificação judicial, mas sem ter acesso à decisão e aos autos do processo, o que levou a Casa Legislativa a solicitar oficialmente a documentação ao Poder Judiciário, e ainda aguarda resposta.

Ressalta que nenhum órgão da Assembleia, seja o Conselho de Ética ou o Plenário, pode deliberar sem o exame prévio desses documentos.

Assim que os documentos estiverem acessíveis à ALBA, a tramitação interna poderá ter seguimento.

A Assembleia Legislativa da Bahia reafirma seu compromisso com a transparência, a imparcialidade e o pleno respeito ao Estado Democrático de Direito.

Salvador, 6 de outubro de 2025

Deputado Binho Galinha se entrega e é preso após três dias foragido

O deputado Binho Galinha se entregou ao Ministério Público da Bahia em Feira de Santana na sexta-feira (03/10/2025), após três dias foragido. A prisão preventiva foi cumprida pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas), e o parlamentar foi conduzido a Salvador, onde permanece custodiado.

As investigações do MPBA já resultaram em 15 denúncias formais, incluindo familiares e aliados do deputado. O Ministério Público afirma que as operações reforçam o combate à captura institucional por organizações criminosas, evidenciando a necessidade de maior controle sobre o financiamento político e o exercício do poder legislativo.

Leia +

ALBA reage tardiamente à prisão do deputado Binho Galinha, e silêncio institucional reforça imagem de conivência política na Bahia

Deputado Binho Galinha se entrega ao Ministério Público e é preso em Salvador após três dias foragido

Inércia da ALBA diante de provas contra Binho Galinha expõe conivência política, estado anômico e fragilidade democrática na Bahia | Por Carlos Augusto

Tudo sobre a Operação Estado Anômico: Fuga do deputado Binho Galinha, nove prisões executadas, bloqueio de R$ 9 milhões e conivência da ALBA com o Crime Organizado

Tudo sobre a Operação El Patron e a ação judicial que teve como alvo suposta milícia liderada pelo deputado estadual da Bahia Binho Galinha


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.