Cerca de metade da população brasileira demonstra insatisfação com a qualidade do serviço público, segundo pesquisa realizada pela AtlasIntel em parceria com o Instituto República, divulgada no sábado (09/11/2025). O levantamento mostra que 46% dos entrevistados avaliam negativamente a eficiência do setor, apontando privilégios, supersalários e desigualdades entre os principais problemas a serem enfrentados pela Reforma Administrativa em tramitação no Congresso Nacional.
O estudo indica que, embora o servidor público não seja visto como “vilão”, a sociedade exige melhoria na gestão, digitalização e avaliação de desempenho. De acordo com o CEO da AtlasIntel, Andrei Roman, “existe uma percepção de valor do serviço público, mas é evidente que há oportunidades para aumentar a eficiência e combater privilégios”.
Percepção pública e desigualdades salariais
A pesquisa, que entrevistou 2.287 pessoas em todas as regiões do País, com margem de erro de dois pontos percentuais, revela um forte descontentamento com as vantagens concedidas a membros do Judiciário e do Ministério Público. Benefícios como férias de 60 dias e aposentadoria compulsória como punição foram considerados “injustos” por mais de 60% dos entrevistados.
Outro dado expressivo mostra que 73,1% defendem o limite salarial ao teto do funcionalismo público, hoje fixado em R$ 46 mil mensais. Já 80,5% apoiam a criação de um teto proporcional ao tamanho dos municípios para prefeitos, vices e secretários.
Apoio à digitalização e à meritocracia
Entre os principais eixos da proposta, apresentada pelo deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), estão Estratégia, Governança, Transformação Digital e Profissionalização. A população demonstra forte adesão a medidas de transparência e avaliação de desempenho:
- 76,6% dos entrevistados defendem que todo ato público seja digital e rastreável;
- 70,8% concordam totalmente que servidores sejam avaliados periodicamente;
- 37,4% consideram essencial o combate à corrupção e aumento da transparência como metas prioritárias da reforma.
Pedro Paulo destacou que “a pesquisa mostra a urgência de uma reforma estruturante e a boa receptividade das propostas, mesmo diante do desconhecimento de parte da população sobre o conteúdo da PEC”.
Desconhecimento ainda é obstáculo à aprovação
Apesar do apoio às medidas, ainda há baixo conhecimento sobre o projeto. Apenas 18,5% dos entrevistados afirmaram conhecer bem a proposta, enquanto 37,5% sabem apenas alguns pontos e 28,3% ouviram falar sem compreender o conteúdo.
Mesmo assim, 41,4% se declaram favoráveis à reforma, contra 37,4% que se opõem. Entre os que conhecem o texto, o apoio sobe para 56,1%, demonstrando potencial de crescimento do respaldo popular à medida que o debate se amplia.
Críticas internas e demanda por equidade
A pesquisa também revelou um ponto simbólico: até mesmo entre servidores há críticas aos privilégios de elite dentro do funcionalismo. Para Andrei Roman, “há consenso de que benefícios desproporcionais ferem o princípio da equidade e comprometem a imagem do setor público como um todo”.
Medidas como o fim da licença-prêmio e o enfrentamento de supersalários contam com amplo apoio popular, sinalizando que a sociedade exige um serviço público mais justo, eficiente e produtivo.
Desafios e contradições
A Reforma Administrativa surge em um contexto de desconfiança generalizada nas instituições e de pressão fiscal crescente. Embora a pesquisa revele apoio majoritário a medidas de racionalização e meritocracia, o debate ainda enfrenta resistência corporativa, sobretudo de carreiras jurídicas e setores de elite do funcionalismo.
O desafio do Congresso será avançar na aprovação de medidas de modernização sem desestruturar garantias essenciais ao servidor, preservando a profissionalização e o mérito como pilares do Estado. A digitalização e o controle público dos gastos despontam como consensos, mas a efetiva implementação depende de vontade política e negociação com grupos de pressão.
Principais dados da pesquisa sobre a Reforma Administrativa — AtlasIntel & Instituto República (2025)
1. Avaliação Geral do Serviço Público
- 27% dos brasileiros estão insatisfeitos com o serviço público.
- 19% estão muito insatisfeitos, totalizando 46% de percepção negativa.
- 19% estão satisfeitos e 9% estão muito satisfeitos.
- Conclusão: Quase metade da população avalia negativamente a qualidade dos serviços públicos no País.
2. Esforço e desempenho dos servidores
- 30% acreditam que servidores públicos se esforçam muito menos que trabalhadores da iniciativa privada.
- 27,8% consideram que se esforçam menos.
- Total: 57,8% percebem menor empenho entre servidores públicos.
3. Tamanho do funcionalismo público
- 27,4% avaliam que há mais servidores do que o necessário.
- 23,6% acreditam que o número é muito maior do que deveria.
- 16,4% afirmam que há muito menos servidores do que o necessário.
- 15,4% consideram o número adequado.
- 13,7% acham que o contingente é menor do que o ideal.
4. Conhecimento sobre a Reforma Administrativa
- 18,5% conhecem muito bem a proposta.
- 37,5% conhecem alguns pontos.
- 28,3% ouviram falar, mas não sabem do que se trata.
- 15,6% não conhecem nada sobre o tema.
5. Apoio à Reforma Administrativa
- 41,4% da população é favorável à reforma.
- 37,4% são contrários.
- 26,4% não souberam responder.
- Entre os que conhecem a proposta:
- 56,1% são favoráveis.
- 43,6% são contrários.
6. Objetivos prioritários da Reforma (segundo os entrevistados)
- 40%: combater privilégios no serviço público.
- 37,4%: aumentar transparência e combater corrupção.
- Outros objetivos mencionados incluem:
- profissionalização do serviço público;
- melhoria da eficiência administrativa;
- valorização do mérito e da avaliação de desempenho.
7. Privilégios e supersalários
- 73,1% defendem limitar ganhos ao teto constitucional (R$ 46 mil).
- 63,1% consideram totalmente injusta a aposentadoria compulsória como punição.
- 4,6% a consideram injusta.
- 41,5% veem a licença-prêmio como totalmente injusta.
- 16% a consideram injusta.
- 60%+ dos entrevistados criticam férias de 60 dias para magistrados e membros do Ministério Público.
8. Apoio a medidas específicas da proposta
- 80,5% concordam totalmente com teto salarial variável conforme o porte do município.
- 76,6% apoiam que todo ato público seja digital e rastreável.
- 70,8% apoiam avaliação periódica de desempenho dos servidores.
- 11,9% concordam parcialmente com essa avaliação.
9. Dados técnicos da pesquisa
- Instituições responsáveis: AtlasIntel e Instituto República.
- Amostra: 2.287 entrevistados com mais de 16 anos.
- Abrangência: todas as cinco regiões do Brasil.
- Margem de erro: ±2 pontos percentuais.
- Nível de confiança: 95%.
- Período de coleta: 2025.
10. Interpretação geral
- O brasileiro valoriza o serviço público, mas rejeita privilégios e desigualdades internas.
- Há forte apoio à meritocracia, digitalização e racionalização de gastos públicos.
- O baixo conhecimento da PEC indica necessidade de comunicação pública mais ampla.
- A resistência concentrada em elites do funcionalismo pode atrasar o avanço da reforma no Congresso.
*Com informações do Estadão.

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