Ex-coordenador do INSS é conduzido para depor na CPMI em operação que investiga ampliações de descontos e possíveis fraudes

Legislação interna do Congresso autoriza ação da Polícia Legislativa em casos de descumprimento de convocação.
Legislação interna do Congresso autoriza ação da Polícia Legislativa em casos de descumprimento de convocação.

A condução coercitiva do ex-coordenador de Pagamentos e Benefícios do INSS, Jucimar Fonseca da Silva, realizada pela Polícia Legislativa na madrugada de segunda-feira (01/12/2025), marcou o primeiro cumprimento desse tipo de medida pela CPMI que apura descontos indevidos em aposentadorias e pensões. A ação ocorreu após duas convocações não atendidas. O depoente foi ouvido como testemunha, sem habeas corpus, e prestou esclarecimentos ao presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), e ao relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL).

No depoimento, Jucimar foi questionado sobre a expansão dos acordos de cooperação técnica (ACTs) e o aumento dos valores descontados na folha de beneficiários, que passaram de R$ 800 milhões em 2022 para R$ 1,6 bilhão em 2023 e R$ 3,5 bilhões em 2024. Ele afirmou que não tinha poder decisório e que suas manifestações eram pareceres técnicos, passíveis de revisão por diretores e pelo presidente do INSS.

O ex-coordenador também negou ter recebido indicação política para assumir o cargo e rejeitou qualquer participação em pagamentos ou autorizações diretas relacionados às entidades envolvidas, citando que essas tarefas cabiam à Divisão de Consignações, à Diretoria de Benefícios e à Diretoria de Orçamento, Finanças e Logística do INSS.

Avanço da CPMI e histórico das apurações

Jucimar havia sido afastado durante a Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, e apresentou atestados médicos que justificaram ausências anteriores à CPMI. A Polícia Legislativa o localizou na região de Manaus durante o cumprimento da medida.

As apurações da comissão atingem gestões de 2015 a 2024, abrangendo os governos Dilma Rousseff, Michel Temer, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Ao todo, 55 pessoas foram convocadas ou convidadas para depor, entre ex-ministros, secretários e dirigentes vinculados à Previdência.

Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que, entre 2016 e setembro de 2024, 7,6 milhões de beneficiários sofreram descontos indevidos, equivalente a 22% das aposentadorias e pensões pagas no período. O documento também vinculou práticas fraudulentas à atuação de entidades como a Conafer.

Mudanças no governo e andamento judicial

Em meio ao avanço das apurações, o então ministro da Previdência, Carlos Lupi, deixou o cargo em maio (00/05/2025). Ele havia permanecido à frente da pasta desde o início do atual governo. Segundo a PF, o ex-ministro do Trabalho e Previdência Social Ahmed Mohamad Oliveira, integrante da gestão anterior, atuou como pilar institucional em fraudes envolvendo a Conafer.

No Judiciário, o ministro André Mendonça assumiu a relatoria do processo sobre o esquema de fraudes no INSS no Supremo Tribunal Federal (STF), substituindo o ministro Dias Toffoli, após manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR), que argumentou que Toffoli não era prevento para o caso.

Dinâmica das decisões internas do INSS

Ao responder sobre a cadeia de responsabilidade, Jucimar destacou que pareceres técnicos não configuravam autorização direta para implantação de descontos. Ele reforçou que todas as liberações financeiras dependiam de instâncias superiores e setores específicos, como a Diretoria de Orçamento, Finanças e Logística, encarregada da execução de transferências bancárias às entidades consignatárias.

A fala foi utilizada para detalhar a estrutura decisória do instituto e contextualizar o funcionamento dos ACTs, que passaram de 16 para 40 antes da elevação no volume das consignações.

Panorama político das investigações

O tensionamento político em torno da CPMI aumentou desde outubro (00/10/2025), quando parlamentares divergiram sobre a condução das investigações. A comissão analisa a dimensão do impacto das medidas adotadas por sucessivas gestões da Previdência e seus reflexos sobre aposentados e pensionistas.

O caso é comparado, nos bastidores, à CPI da COVID-19, instalada durante o governo Bolsonaro, pela amplitude da investigação e pelos possíveis efeitos políticos sobre o governo atual.

*Com informações da Sputnik News.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.