O Banco Master, de Daniel Vorcaro, aparece como parte em 77 mil processos judiciais em todo o país, segundo a plataforma Escavador. Embora o escritório de Viviane Barci de Moraes — esposa do ministro Alexandre de Moraes, do STF — tenha firmado um contrato de R$ 3,6 milhões mensais, com a instituição em 2024, ela consta como advogada em apenas um processo relacionado ao banco. Os dados sugerem possíveis lacunas cadastrais e alimentam questionamentos sobre a real extensão da atuação jurídica prestada.
O jornal O Globo revelou que o Banco Master contratou o escritório Barci de Moraes Sociedade de Advogados, integrado por Viviane de Moraes e dois filhos do casal, para prestar assessoria ampla e estratégica. O contrato teria validade de 36 meses e poderia gerar até R$ 129 milhões ao escritório se fosse executado integralmente. A liquidação do banco pelo Banco Central, porém, teria interrompido os pagamentos.
Trechos do documento indicam uma prestação de serviços “estratégica, consultiva e contenciosa” perante o Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal, órgãos do Executivo e Congresso Nacional. Apesar disso, o nome de Viviane aparece em apenas um processo envolvendo o Master, segundo registros públicos. A situação abre espaço para dúvidas sobre a natureza da consultoria contratada e a ausência de cadastros formais de sua atuação judicial.
O contrato teria sido localizado pela Polícia Federal no celular de Vorcaro durante a Operação Compliance Zero, deflagrada em novembro de 2025. Em mensagens atribuídas ao banqueiro, os repasses ao escritório da família Moraes eram tratados como prioridade absoluta.
Processos judiciais: volume expressivo e perfis de atuação
O Escavador aponta que o Master figura como parte em 77 mil ações, sendo réu em seis de cada sete processos. A maioria envolve conflitos de consumo, superendividamento e contratos bancários. Escritórios baianos de grande atuação — como Gabino Kruschewsky, André Kruschewsky Advogados Associados e Monteiro, Rusu, Cameirão e Bercht — concentram a defesa do banco em milhares de casos.
O nome de Viviane de Moraes, por outro lado, aparece cadastrado em cerca de 1.600 processos, mas apenas um deles relaciona-se diretamente ao Master. Nesse processo, ela representa o banco e Vorcaro em uma ação de calúnia, injúria e difamação movida contra o gestor Vladimir Timerman, da Esh Capital. A ação tramita sob segredo de Justiça no Tribunal de Justiça de São Paulo.
Em outro processo envolvendo o Master, Viviane aparece como advogada, porém atuando pela Cooperativa de Crédito dos Servidores da Segurança Pública de São Paulo, e não pelo banco. A ação foi extinta antes que o Master cadastrasse sua defesa.
A Operação Compliance Zero e o impacto no contrato jurídico
A Operação Compliance Zero investiga um esquema de simulação de créditos envolvendo o Master e o BRB (Banco de Brasília), que teria efetuado operações que somam R$ 12,2 bilhões. Vorcaro foi detido pela PF em 17 de novembro, às vésperas de um voo internacional, e liberado posteriormente pela juíza Solange Salgado, do TRF-1, mediante uso de tornozeleira eletrônica.
A defesa do banqueiro, não vinculada ao escritório de Viviane, solicitou que o caso fosse enviado ao STF após a apreensão de documento que mencionaria um deputado federal. O ministro Dias Toffoli acolheu o pedido, transferiu a tramitação e impôs sigilo ao processo.
Caso os pagamentos do contrato tenham sido cumpridos até outubro de 2025 — mês anterior à intervenção do Banco Central — o escritório Barci de Moraes teria recebido ao menos R$ 79 milhões.
Ausência de respostas e lacunas no debate público
O UOL buscou esclarecimentos junto ao Banco Master e ao escritório de Viviane de Moraes, questionando a ausência de registros de atuação judicial compatíveis com o contrato revelado, mas não houve resposta. As dúvidas permanecem: qual foi o escopo efetivo da consultoria? Em quais instâncias ocorreu atuação contenciosa? Houve prestação de serviços em caráter reservado?
Em tese, advogados podem ser contratados para consultorias internas, pareceres, negociações e atos extrajudiciais que não geram registro público. Ainda assim, o volume financeiro e a abrangência institucional descritos no contrato reforçam a relevância pública do tema.
Transparência, formalidade institucional e fragilidades do sistema
O caso evidencia a necessidade permanente de transparência na relação entre agentes privados e escritórios ligados a familiares de autoridades públicas, sobretudo em instituições que mantêm litígios de grande escala. A discrepância entre o valor contratado e o número reduzido de registros formais expõe fragilidades estruturais nos mecanismos de publicidade da atuação jurídica no país.
Além disso, o episódio ressalta uma tensão antiga: a distância entre as práticas de mercado — onde consultorias amplas podem ocorrer sem rastros processuais — e a expectativa de escrutínio sobre vínculos que envolvem familiares de autoridades com forte poder institucional. Essa assimetria costuma reforçar suspeitas, independentemente da existência de irregularidades.
Por fim, a combinação entre liquidação do banco, operações policiais, contratos milionários e tramitação sigilosa no STF adiciona camadas de complexidade que exigem acompanhamento contínuo. A robustez das instituições depende da preservação de ritos claros, cadastros precisos e responsabilidade pública na gestão de conflitos de interesse.
Com informações do UOL e da Folha.
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