PF apreende anotações com referência a “Fábio (filho de Lula)” e amplia alcance da investigação sobre fraudes bilionárias no INSS

Anotações apreendidas pela Polícia Federal durante a operação Sem Desconto mencionam “Fábio (filho Lula)” em registros associados a ingressos e logística de evento em Brasília; investigações apuram fraudes no INSS e possíveis crimes financeiros, dezembro de 2025.

Anotações apreendidas pela Polícia Federal durante a primeira fase da operação Sem Desconto, deflagrada em abril de 2025, registram menção direta a Fábio Luís Lula da Silva, filho mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O material integra o conjunto probatório analisado pelo Supremo Tribunal Federal ao autorizar, em 18/12/2025, nova fase da investigação que apura um esquema de descontos associativos fraudulentos contra aposentados e pensionistas do INSS, com ramificações empresariais, financeiras e políticas .

A operação Sem Desconto foi deflagrada para desarticular um esquema de fraudes estruturadas no âmbito do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), envolvendo descontos indevidos aplicados diretamente nos benefícios previdenciários de milhões de aposentados. As investigações indicam que entidades associativas, empresas de fachada e operadores financeiros atuavam de forma coordenada para desviar recursos de forma sistemática.

O avanço da apuração levou à demissão e posterior prisão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, além da identificação de empresários, intermediários e lobistas apontados como responsáveis pela articulação operacional e financeira do esquema. A nova fase autorizada pelo STF ampliou o escopo da investigação, incorporando diálogos, documentos e movimentações financeiras analisadas após a primeira etapa.

A agenda apreendida e o conteúdo das anotações

Entre os documentos recolhidos pela Polícia Federal está uma agenda física contendo a anotação explícita “Fábio (filho Lula)”. O registro aparece associado a informações logísticas para acesso a um camarote em um show realizado em Brasília, com menção ao camarote 309, além de referências a hospedagem em um flat no condomínio Brisas do Lago.

As anotações incluem ainda dados como período de estadia — de 3 a 5 de dezembro —, contatos intermediários, observações como “mínimas informações possíveis” e o registro do CPF do filho do presidente. Segundo a PF, o material estava acondicionado em um envelope que também continha ingressos para o evento, apreendido durante diligências de busca e apreensão.

Embora o conteúdo, isoladamente, não configure ilícito, a Polícia Federal considera relevante o contexto em que o documento foi encontrado, bem como sua conexão com outros elementos probatórios reunidos ao longo da investigação.

Diálogos interceptados e preocupação com ocultação de provas

A decisão do STF que autorizou a nova fase da operação menciona mensagens trocadas entre Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e a empresária e lobista Roberta Luchsinger, apontada como elo central entre operadores financeiros e agentes com trânsito em órgãos públicos.

Em diálogo datado de 29 de abril de 2025, Roberta informa ao empresário que “acharam um envelope com nome do nosso amigo” durante as buscas. A resposta lacônica — “Putz” — foi interpretada pelos investigadores como indício de ciência da gravidade do achado. Em mensagens subsequentes, Roberta orienta o descarte de telefones celulares, aconselhando o empresário a “jogar fora” os aparelhos, o que reforçou suspeitas de tentativa de ocultação de provas.

Pagamentos, contratos e indícios de lavagem de dinheiro

Relatórios do Coaf analisados pela Polícia Federal indicam que Roberta Luchsinger recebeu R$ 1,5 milhão, distribuídos em cinco pagamentos de R$ 300 mil, provenientes de empresas vinculadas a Antônio Carlos Camilo Antunes. Os repasses ocorreram por meio de contratos de consultoria que, segundo a investigação, não apresentaram lastro técnico ou operacional verificável.

A PF sustenta que tais contratos integrariam um mecanismo recorrente de emissão de notas fiscais sem comprovação de serviços efetivamente prestados, prática associada à lavagem de capitais. Em trocas de mensagens, funcionários do grupo empresarial questionam o destino dos pagamentos, recebendo como resposta do próprio Antônio Carlos a expressão: “o filho do rapaz”, referência interpretada pelos investigadores como alusão indireta a Fábio Luís Lula da Silva.

Relação pessoal, viagens e proximidade comprovada

Além das transações financeiras, a investigação reuniu elementos que demonstram proximidade pessoal entre Roberta Luchsinger e Fábio Luís. Registros de companhias aéreas mostram ao menos seis viagens realizadas conjuntamente entre 2024 e 2025, com reservas emitidas sob o mesmo código localizador, incluindo um deslocamento internacional para Portugal.

Em um dos trechos nacionais, constam também familiares de ambos na mesma reserva, como a esposa de Fábio Luís e filhos do casal. Para a Polícia Federal, esses dados reforçam a existência de uma relação de amizade e convivência frequente, embora não configurem, por si sós, prova de participação em ilícitos.

Situação jurídica de Fábio Luís e divisões internas na PF

Até o momento, Fábio Luís Lula da Silva não é formalmente investigado nem foi alvo de medidas judiciais no âmbito da operação. Segundo apuração jornalística, há divergências internas na Polícia Federal quanto ao ritmo e à profundidade das apurações envolvendo o filho do presidente.

Uma ala defende o aprofundamento das investigações para esclarecer de forma definitiva eventual participação ou afastar suspeitas, enquanto outro grupo considera os indícios frágeis para justificar medidas mais contundentes. Prevalece, até agora, o entendimento de que não há envolvimento direto de Fábio Luís nas condutas relacionadas aos descontos fraudulentos do INSS.

Versões das defesas e reações públicas

A defesa de Roberta Luchsinger afirma que a empresária jamais teve relação com fraudes no INSS e que os valores recebidos decorreriam de tratativas iniciais para projetos no setor de cannabis medicinal, que não teriam prosperado. O advogado Bruno Salles sustenta que há material descontextualizado nos autos e que os esclarecimentos serão prestados no momento oportuno.

Já o advogado Marco Aurélio de Carvalho, amigo pessoal de Fábio Luís e coordenador do grupo Prerrogativas, classificou os indícios como “fofocas e vilanias”, afirmando que o filho do presidente não constituiu advogado por não ser investigado. Ele também criticou vazamentos de informações, defendendo apuração interna sobre a divulgação de dados sigilosos.

Declarações do presidente e repercussão política

Questionado por jornalistas em 18/12/2025, o presidente Lula afirmou que “ninguém ficará livre” das investigações e que qualquer pessoa, inclusive familiares ou ministros, será investigada caso surjam elementos concretos. A declaração buscou sinalizar compromisso institucional com a apuração dos fatos, em meio à crescente repercussão política do caso.

Nos bastidores do Congresso, o avanço da investigação alimenta tensões na CPMI do INSS, onde tentativas de convocação de testemunhas-chave encontraram resistência de parlamentares governistas, o que também passou a integrar o debate público sobre transparência e controle institucional.

Gravidade social, sensibilidade política e credibilidade institucional

A menção direta ao nome de Fábio Luís Lula da Silva em documentos apreendidos pela Polícia Federal não implica, por si só, responsabilidade penal. No entanto, a recorrência de referências indiretas, somada a pagamentos vultosos sem comprovação de serviços e a diálogos que indicam preocupação com ocultação de provas, impõe às instituições o dever de apuração rigorosa e transparente.

O caso assume relevância ampliada por envolver fraudes contra aposentados, um dos grupos sociais mais vulneráveis do país. Qualquer percepção de seletividade, lentidão excessiva ou interferência política tende a comprometer a confiança pública na Polícia Federal, no Judiciário e no próprio governo.

Ao mesmo tempo, o histórico brasileiro recomenda cautela para evitar julgamentos antecipados ou exploração política de investigações em curso. O equilíbrio entre presunção de inocência e direito à informação será decisivo para a credibilidade institucional nos próximos desdobramentos do caso.

*Com informações da Veja, Estadão, Folha de S.Paulo e Poder 360.


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