Felice Russotto nasceu em 1960, na cidade de Licata, Itália, e faleceu em 22 de janeiro de 2022, na cidade de Kaufbeuren, Alemanha, onde construiu uma vida marcada pela dedicação à culinária e à hospitalidade.
Existem momentos únicos que celebramos ao longo da vida, muitas vezes marcados pela simplicidade de compartilhar uma refeição com aqueles que amamos. Em 9 de outubro de 2011, numa noite de domingo, tive a honra de ser convidado para um jantar oferecido por Felice Russotto no restaurante Cortina, onde ele atuou por décadas, proporcionando uma experiência culinária que reunia o melhor da cozinha italiana e internacional. Estava acompanhado de minha mãe, Lucy Oliveira da Silva (†1947 — ★2013); minha filha, Carla Patricia; Otto Lacerda-Ullman, e seu pai, Peter Ullmann (†1946 — ★2019).
O restaurante Cortina, em Kaufbeuren, na região administrativa da Suábia, Baviera, era um ambiente que transmitia aconchego e familiaridade. A cidade, conhecida como a mais ensolarada da Alemanha, carrega uma rica história, tendo sido elevada à condição de ‘Cidade Imperial Livre’ em 1286, pelo rei Rodolfo I da Germânia, e posteriormente integrado o Reino da Baviera. A arquitetura da cidade e suas tradições refletem a identidade germânica.
Felice Russotto, natural da Itália, tornou-se uma figura central na comunidade de Kaufbeuren. Seu restaurante era ponto de encontro para pessoas de diversas origens, e sua gastronomia transformava qualquer ocasião em um evento memorável. O nome “Cortina” remetia a vários significados míticos, como o ‘tripé em forma de caldeira’ do deus Apolo e o ‘véu sagrado’ dos templos pagãos, trazendo uma simbologia que se refletia na atmosfera mágica e na alquimia culinária do local.
A hospitalidade de um autêntico italiano
Naquela noite de outubro, Felice demonstrou a hospitalidade e a gentileza de um verdadeiro italiano. Preparou e serviu massas, filés, camarões, lagostas, acompanhados de pão italiano e do famoso vinho Chianti, da Toscana, uma composição de uvas Sangiovese Cabernet, Sauvignon e Cabernet Franc. A celebração foi repleta de sorrisos e boas conversas, onde me vi refletindo sobre meu pai, José Augusto (†1943 — ★2018), e meus irmãos, desejando que eles também estivessem presentes.
Ao final da noite, Felice presenteou-me com duas garrafas de vinho italiano, como gesto de sua generosidade. Alguns dias depois, retribuí o presente com uma foto emoldurada que registrei, destacando a beleza dos telhados de Kaufbeuren e a arquitetura da igreja gótica de São Blasius. A primeira garrafa de vinho foi aberta em 2017, para celebrar o namoro de minha filha com Johannes Fittler. A segunda garrafa, um Sasseto da safra de 2005, ainda aguarda o momento de ser aberta, quando meu neto Luca Silva Fittler me visitar.
Despedida de um amigo
Felice Russotto faleceu no dia 22 de janeiro de 2022, em sua residência em Kaufbeuren, vítima de um infarto fulminante. Ele deixa dois filhos, Sabrina Fuchs e Matteo Fuchs, e uma lembrança eterna entre os que tiveram o privilégio de conhecer sua hospitalidade e generosidade. Por mais de 25 anos, foi como um pai para minha filha Carla Patricia, sendo companheiro de Patricia Lacerda e construindo uma relação de amizade e parceria.
Poesia para o adeus
Em momentos de despedida, a dor da perda muitas vezes encontra consolo nas palavras da poesia. Nos versos de “Metade”, de Oswaldo Montenegro, podemos encontrar um alento em meio à tristeza:
A poesia musical de ‘Metade’, de Oswaldo Montenegro
Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
a outra metade é silêncio
Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
pois metade de mim é o que ouço
a outra metade é o que calo
Que a minha loucura seja perdoada
pois metade de mim é amor
e a outra metade também
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito
Que o seu silêncio me fale cada vez mais, pois metade de mim é abrigo, enquanto a outra metade é cansaço
Que o medo da solidão se afaste
Pois metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei
Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço.
Felice Russotto partiu, mas sua memória permanece viva entre os que o conheceram. Até breve, amigo gentil.
Até breve, gentil Felice Russotto (†1960 — ★2022).
Confira imagens
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