Ao querido amigo e grande brasileiro, Professor Roberto Santos.
Relendo artigos que escrevemos neste mesmo espaço, ao longo dos últimos vinte e dois anos, constatamos a recorrência inevitável a certos temas que permanecem de gritante e trágica atualidade na poluída vida política brasileira. Com intensidade variada, questões como a corrupção, ineficiência administrativa, descompromisso com o mérito e a verdade, privilégios de apaniguados, impunidade, tudo se repete em caráter endêmico. Desse desregramento advém o fracasso da administração pública no cumprimento de sua missão fundamental que é a implantação de uma infraestrutura física de qualidade, como saneamento básico, estradas, portos, aeroportos, e o atendimento de necessidades fundamentais, na área da infraestrutura social, como educação, saúde e segurança pública.
Relativamente à impunidade, vivemos um momento escabroso quando ministros da Suprema Corte descaradamente se articulam para torpedear a Operação Lava Jato, como denunciou o jornalista e professor Luiz Holanda, em artigo de 1º de maio de 2018, publicado no Jornal Grande Bahia (JGB), sob o título ‘Caos Jurídico e Institucional’, além de trabalharem para garantir que no Brasil o crime compensa, acabando com o início do cumprimento de pena a partir da condenação em segundo grau. Como se vê, o poder da corrupção instalada no aparelho estatal chega, até, aos tribunais superiores.
Nas eleições presidenciais de 1989, as primeiras depois do governo militar que se estendeu de 1964 a 1985, Collor e Lula, candidatos de partidos pequenos, passaram ao segundo turno, deixando para trás gente do peso de Mário Covas, Leonel Brizola e Ulisses Guimarães, líderes de grandes legendas. De ambos os candidatos, Collor e Lula, jorravam promessas assecuratórias de honestidade na gestão pública.
Eleito no verdor dos 40 anos, Collor, apesar de algumas iniciativas importantes e corajosas, revelou-se emocional e moralmente despreparado para o exercício das altas responsabilidades presidenciais, e acabou defenestrado pelo impeachment. Os governos de Itamar Franco e Fernando Henrique restauraram a normalidade da vida política brasileira, com o PT nos calcanhares, prometendo, sobretudo às populações mais carentes, o céu na terra, a partir de uma gestão da coisa pública pautada pela honradez. A mensagem subliminar contida nos inflamados e messiânicos discursos era que mais do que sinônimo de honestidade o PT era a consubstanciação da virtude em estado de pureza absoluta e os seus integrantes os arautos da honra e da decência, e os seus adversários agentes do mal, a serviço de interesses escusos, como os do capitalismo selvagem, de dentro e de fora do País. A coisa era tão séria que de Waldir Pires o PT cobrou, como condição para ingressar no Partido, uma pública apostasia do seu necessariamente pecaminoso passado político.
Finalmente, depois de três derrotas sucessivas, o povo brasileiro deu ao PT a oportunidade que tanto reclamava e elegeu Lula. O êxito aparente do seu governo sobreviveu ao tsunami do Mensalão e empolgou amplos segmentos da opinião pública brasileira e mundial, a ponto de eleger Dilma Roussef, considerada um poste político, sua sucessora. Toda essa popularidade foi conquistada, apesar da manutenção e ampliação dos privilégios das classes dominantes, enquanto o povaréu era mesmerizado com o magro pão do Bolsa-família, o precário Minha Casa, Minha Vida, e o circo da Copa do Mundo e das Olimpíadas realizadas no Brasil, massa de manobra para corrupção de obras super-faturadas.
Os partidos de esquerda que gravitam em torno do PT, sob a orientação de José Dirceu, o estrategista do grupo, cuidaram de mentalizar todos os setores da vida nacional, consoante as recomendações do pensador revolucionário italiano, Antônio Gramsci, segundo quem mais eficaz do que derrotar o adversário pelas armas é fazer a cabeça dos seus líderes, conquistando-os para a causa. A Universidade, forja de pensadores, foi o principal alvo que tem hoje sua área social dominada pelo espírito da esquerda bolivariana, modelo chavista incorporado pela auto-denominada esquerda nacional, de prática compatível com o que há de pior na direita mais reacionária, como já tivemos ocasião de expor. A defesa dos interesses dos pobres só existia no discurso com vistas à realização do propósito único de assegurar a continuidade do poder, para fazer o que todos sabem: sangrar o Erário.
Com a opinião pública e folgada maioria parlamentar ao seu lado, o PT, deixando de atuar em sintonia com o discurso de esquerda, perdeu oportunidade de ouro para modernizar o Brasil, acabando com os privilégios dos marajás, adotando o foro privilegiado como o fazem as nações mais avançadas, moralizando o sistema de seleção dos integrantes dos tribunais, aprimorando a educação da juventude, treinando os beneficiários de programas assistenciais para o exercício de dignificantes atividades profissionais, pondo fim à corrupção que nos rebaixa aos olhos do Planeta A recente divulgação dos números que mostram a distribuição social de renda no Nordeste brasileiro, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, evidenciou aumento significativo do fosso existente entre esta região e o centro-sul, a região mais rica do país.
No Nordeste se encontram:
1 – mais da metade dos analfabetos do País;
2 – metade das sub-habitações;
3 – metade dos que ganham cinquenta por cento ou menos do salário mínimo;
4 – o maior número per capita de chagásicos, tuberculosos, xistosomóticos e leprosos;
5 – um déficit calórico que responde pela formação de uma sub-raça de nanicos físico-mentais.
A condição de nordestino de Lula sequer serviu aos interesses de sua região.
Artigo para o dia 03/05/2018, na Tribuna da Bahia (TB).
*Joaci Fonseca de Góes (Ipirá, 25 de agosto de 1938) é advogado, jornalista, empresário e político brasileiro, de linha conservadora, foi aliado do senador Antônio Carlos Magalhães (ACM, DEM, 1927-2007) na Aliança Renovadora Nacional (Arena).
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