O cancro da corrupção | Por Joaci Góes

Joaci Góes: vivemos um momento escabroso quando ministros da Suprema Corte descaradamente se articulam para torpedear a Operação Lava Jato, como denunciou o jornalista e professor Luiz Holanda, em artigo de 1º de maio de 2018, publicado no Jornal Grande Bahia (JGB), sob o título 'Caos Jurídico e Institucional'.
Joaci Góes: vivemos um momento escabroso quando ministros da Suprema Corte descaradamente se articulam para torpedear a Operação Lava Jato, como denunciou o jornalista e professor Luiz Holanda, em artigo de 1º de maio de 2018, publicado no Jornal Grande Bahia (JGB), sob o título 'Caos Jurídico e Institucional'.

Ao querido amigo e grande brasileiro, Professor Roberto Santos.

Relendo artigos que escrevemos neste mesmo espaço, ao longo dos últimos vinte e dois anos, constatamos a recorrência inevitável a certos temas que permanecem de gritante e trágica atualidade na poluída vida política brasileira. Com intensidade variada, questões como a corrupção, ineficiência administrativa, descompromisso com o mérito e a verdade, privilégios de apaniguados, impunidade, tudo se repete em caráter endêmico. Desse desregramento advém o fracasso da administração pública no cumprimento de sua missão fundamental que é a implantação de uma infraestrutura física de qualidade, como saneamento básico, estradas, portos, aeroportos, e o atendimento de necessidades fundamentais, na área da infraestrutura social, como educação, saúde e segurança pública.

Relativamente à impunidade, vivemos um momento escabroso quando ministros da Suprema Corte descaradamente se articulam para torpedear a Operação Lava Jato, como denunciou o jornalista e professor Luiz Holanda, em artigo de 1º de maio de 2018, publicado no Jornal Grande Bahia (JGB), sob o título ‘Caos Jurídico e Institucional’, além de trabalharem para garantir que no Brasil o crime compensa, acabando com o início do cumprimento de pena a partir da condenação em segundo grau. Como se vê, o poder da corrupção instalada no aparelho estatal chega, até, aos tribunais superiores.

Nas eleições presidenciais de 1989, as primeiras depois do governo militar que se estendeu de 1964 a 1985, Collor e Lula, candidatos de partidos pequenos, passaram ao segundo turno, deixando para trás gente do peso de Mário Covas, Leonel Brizola e Ulisses Guimarães, líderes de grandes legendas. De ambos os candidatos, Collor e Lula, jorravam promessas assecuratórias de honestidade na gestão pública.

Eleito no verdor dos 40 anos, Collor, apesar de algumas iniciativas importantes e corajosas, revelou-se emocional e moralmente despreparado para o exercício das altas responsabilidades presidenciais, e acabou defenestrado pelo impeachment. Os governos de Itamar Franco e Fernando Henrique restauraram a normalidade da vida política brasileira, com o PT nos calcanhares, prometendo, sobretudo às populações mais carentes, o céu na terra, a partir de uma gestão da coisa pública pautada pela honradez. A mensagem subliminar contida nos inflamados e messiânicos discursos era que mais do que sinônimo de honestidade o PT era a consubstanciação da virtude em estado de pureza absoluta e os seus integrantes os arautos da honra e da decência, e os seus adversários agentes do mal, a serviço de interesses escusos, como os do capitalismo selvagem, de dentro e de fora do País. A coisa era tão séria que de Waldir Pires o PT cobrou, como condição para ingressar no Partido, uma pública apostasia do seu necessariamente pecaminoso passado político.

Finalmente, depois de três derrotas sucessivas, o povo brasileiro deu ao PT a oportunidade que tanto reclamava e elegeu Lula. O êxito aparente do seu governo sobreviveu ao tsunami do Mensalão e empolgou amplos segmentos da opinião pública brasileira e mundial, a ponto de eleger Dilma Roussef, considerada um poste político, sua sucessora. Toda essa popularidade foi conquistada, apesar da manutenção e ampliação dos privilégios das classes dominantes, enquanto o povaréu era mesmerizado com o magro pão do Bolsa-família, o precário Minha Casa, Minha Vida, e o circo da Copa do Mundo e das Olimpíadas realizadas no Brasil, massa de manobra para corrupção de obras super-faturadas.

Os partidos de esquerda que gravitam em torno do PT, sob a orientação de José Dirceu, o estrategista do grupo, cuidaram de mentalizar todos os setores da vida nacional, consoante as recomendações do pensador revolucionário italiano, Antônio Gramsci, segundo quem mais eficaz do que derrotar o adversário pelas armas é fazer a cabeça dos seus líderes, conquistando-os para a causa. A Universidade, forja de pensadores, foi o principal alvo que tem hoje sua área social dominada pelo espírito da esquerda bolivariana, modelo chavista incorporado pela auto-denominada esquerda nacional, de prática compatível com o que há de pior na direita mais reacionária, como já tivemos ocasião de expor. A defesa dos interesses dos pobres só existia no discurso com vistas à realização do propósito único de assegurar a continuidade do poder, para fazer o que todos sabem: sangrar o Erário.

Com a opinião pública e folgada maioria parlamentar ao seu lado, o PT, deixando de atuar em sintonia com o discurso de esquerda, perdeu oportunidade de ouro para modernizar o Brasil, acabando com os privilégios dos marajás, adotando o foro privilegiado como o fazem as nações mais avançadas, moralizando o sistema de seleção dos integrantes dos tribunais, aprimorando a educação da juventude, treinando os beneficiários de programas assistenciais para o exercício de dignificantes atividades profissionais, pondo fim à corrupção que nos rebaixa aos olhos do Planeta              A recente divulgação dos números que mostram a distribuição social de renda no Nordeste brasileiro, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, evidenciou aumento significativo do fosso existente entre esta região e o centro-sul, a região mais rica do país.

No Nordeste se encontram:

1 – mais da metade dos analfabetos do País;

2 – metade das sub-habitações;

3 – metade dos que ganham cinquenta por cento ou menos do salário mínimo;

4 – o maior número per capita de chagásicos, tuberculosos, xistosomóticos e leprosos;

5 – um déficit calórico que responde pela formação de uma sub-raça de nanicos     físico-mentais.

A condição de nordestino de Lula sequer serviu aos interesses de sua região.

Artigo para o dia 03/05/2018, na Tribuna da Bahia (TB).

*Joaci Fonseca de Góes (Ipirá, 25 de agosto de 1938) é advogado, jornalista, empresário e político brasileiro, de linha conservadora, foi aliado do senador Antônio Carlos Magalhães (ACM, DEM, 1927-2007) na Aliança Renovadora Nacional (Arena).


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.