Eleições 2022: Desejo de Rui Costa concorrer ao Senado provocou crise na aliança entre PT, PSD e PP; Governador estabelece data limite para fim do impasse e chapa dominada por petistas pode ser lançada

Governador Rui Costa tergiversa sobre possível candidatura ao Senado nas Eleições 2022, mas possibilidade gerou crise na aliança entre PT, PSD e PP e fato pode gerar chapa majoritária formada por maioria petista.
Governador Rui Costa tergiversa sobre possível candidatura ao Senado nas Eleições 2022, mas possibilidade gerou crise na aliança entre PT, PSD e PP e fato pode gerar chapa majoritária formada por maioria petista.

Durante entrevista coletiva ocorrida nesta quinta-feira (17/02/2022), o governador Rui Costa (PT) tergiversou sobre o desejo em concorrer ao Senado Federal nas Eleições 2022, mas informou que dia 13 de março é a data limite para que o Partido dos Trabalhadores e aliados apresentem chapa majoritária, preenchendo os cargos de governador, vice e senador.

Reeleito governador em 2018, Rui Costa cumpre o segundo mandato e está impedido, por força da legislação, de concorrer a uma nova reeleição.

O prazo para que deixe o executivo e possa disputar mandato em um cargo legislativo encerra no dia 2 de abril.

De acordo com a Lei de Inelegibilidades (Lei Complementar nº 64/1990), tem de deixar o cargo até seis meses antes da eleição geral os ministros e secretários de Estado; chefes de órgãos de assessoramento direto, civil e militar da Presidência da República; magistrados; presidentes, diretores e superintendentes de autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas.

Em 2022, a eleição ocorre no dia 2 de outubro.

PT lançou pré-candidatura

Com a confirmação de que ACM Neto (DEM, União Brasil) pretende disputar o cargo de governador nas Eleições de 2022 e, com o mesmo, liderando as pesquisas de intenção de voto, o Partido dos Trabalhadores passou a defender a candidatura do senador e ex-governador Jaques Wagner (PT) ao governo da Bahia, rompendo com a promessa de que apoiaria o senador Otto Alencar (PSD) para governador.

Trajetória

Jaques Wagner e Otto Alencar estabeleceram uma sólida parceria política ao longo dos últimos 16 anos.

Em 2006, Otto Alencar firmou aliança estratégica com Jaques Wagner, fato que contribuiu para a derrocada do magalhismo na Bahia, resultando na vitória sobre o então governador Paulo Souto (DEM).

Em 2010, Otto Alencar aceitou o convite de Jaques Wagner para o cargo de vice-governador e, mais uma vez, contribuiu com a vitória do PT, levando o partido ao segundo ciclo de poder no estado.

Em 2014, Jaques Wagner estava no auge do prestígio político, com força interna no PT e com o governo bem avaliado, ao passo que desde o primeiro mandato foi preparando o então deputado federal Rui Costa (PT) para sucedê-lo.

Apoiado por Jaque Wagner, Rui Costa venceu nas Eleições de 2014 e 2018.

A articulação política liderada por Wagner colocou Otto Alencar no senado e o deputado federal João Leão, presidente do PP da Bahia, no cargo de vice-governador.

No mesmo pleito de 2014, com a segunda vitória de Dilma Rousseff, Jaques Wagner foi convidado à assumir o Ministério da Defesa.

Desejo de poder

No cargo de governador desde 2015, Rui Costa conduziu e refez alguns dos projetos das gestões de Jaques Wagner, ao passo que foi imprimindo uma marca de poder pessoal em realizações do Estado da Bahia.

Prestigiado internamente no PT e com o governo bem avaliado, Rui Costa esqueceu de fazer política partidária e, nas Eleições Municipais de 2020, sofreu derrota em três importantes colégios eleitorais do estado — Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista.

A mais acachapante ocorreu em Salvador, quando apresentou a policial militar Denice Santiago Santos do Rosário (Major Denice Santiago) para encabeçar a aliança política liderada pelo Partido dos Trabalhadores, ou seja, prestou homenagem ao bolsonarismo.

Em janeiro de 2020, oito meses antes das eleições municipais, a reportagem do Jornal Grande Bahia (JGB) com título ‘Governador Rui Costa e senador Jaques Wagner escolhem policial militar para aventura eleitoral em Salvador; Falhas analíticas podem prenunciar erros políticos’, criticava severamente a opção do governador para disputar o mandato de prefeita da capital, conforme observa-se a seguir:

— Por fim, a escolha de uma militar para disputar as eleições de 2020 em Salvador provoca estupor, em função do desastre político, administrativo, social e intelectual no qual se constitui a gestão do capitão da reserva do Exército e extremista de direita Jair Bolsonaro, ao promover o desgoverno do Brasil, através da presidência da República. Neste aspecto, os petistas da Bahia emulam uma trágica antevisão de sociedade. — Registrou a reportagem do JGB.

Entre outubro e dezembro de 2021, motivados por pesquisas eleitorais que apontavam Luiz Inácio Lula da Silva — como uma liderança consolidada à conquistar, no primeiro turno das Eleições 2022, o cargo de presidente da República, o que pode alçá-lo à condição de ser o primeiro político da história do país a obter, através do voto direto e por três vezes, o mandato presidencial — os petistas da Bahia conectaram a eleição para presidente com a de governador e aumentaram o tom em defesa da candidatura de Jaques Wagner.

Ocorre que a chapa majoritária de 2022 possui apenas três vagas e a aliança liderada pelo PT Bahia possui outros quatro partidos aliados preferenciais: PSD, PP, PSB e PCdoB.

O mandato de Otto Alencar encerra em 2022 e o ex-presidente Lula está articulando com o presidente nacional do PSD, ex-ministro Gilberto Kassab, o apoio da legenda à candidatura nacional.  

Reunião da discórdia

Em 15 de fevereiro de 2022 (terça-feira), o ex-presidente Lula manteve reunião com Rui Costa, Jaques Wagner e Otto Alencar na qual discutiu a composição de chapa na Bahia e o apoio do PSD na disputa nacional.

Várias versões da reunião passaram a circular na imprensa. Mas, publicamente, Jaques Wagner e Otto Alencar reafirmaram que a chapa majoritária estava formada pelo PT na disputa pelo cargo de governador e PSD ao senado. Caberia ao PP indicar o candidato a vice-governador.

Ocorre que ao tergiversar sobre a pretensão de ser candidato ao senado nas Eleições 2022, Rui Costa terminou por colidir com forças internas do PT que defendem a chapa com Jaques Wagner e Otto Alencar. Neste sentido, um cartaz passou a circular mostrando a aprovação de Lula para que essa composição fosse concretizada.

Todavia, existam claros indicativos de que Rui Costa deseje ser candidato ao Senado, o que implica em alguns cenários eleitorais possíveis:

  • Chapa com Jaques Wagner, governador; Rui Costa, senador; e Otto Alencar, vice-governador;
  • Chapa com Jaques Wagner, governador; Otto Alencar, senador; e indicação do PP para vice-governador;
  • Chapa com Otto Alencar, governador; Rui Costa; senador e a indicação do PP para vice-governador; ou
  • Ruptura da aliança entre PT, PP e PSD, essa, menos provável no momento.

Em síntese, a força eleitoral do PT da Bahia, impulsionada pelo prestígio político de Lula, Jaques Wagner e Rui Costa colocou os aliados em uma posição de fragilidade, ao passo em que Otto Alencar pode contar com o apoio do PSD nacional para impor uma candidatura própria ao governo da Bahia, o mesmo enfrenta oposição do PT da Bahia, que defende Wagner para o governo.

Neste cenário, três deputados federais do PT manifestaram apoio à chapa com Jaques Wagner e Otto Alencar, foram José Cerqueira Neto (Zé Neto), Valmir Assunção e Jorge Solla. Além destes, a presidência estadual da legenda também segue a liderança de Jaques Wagner.

Neste contexto, o peso do desejo pessoal de Rui Costa em ser candidato ao senado e a data limite estipulada pelo governador são fatores que seguem criando instabilidade política à aliança liderada pelo PT, no momento em que o magalhismo ganha força através da preferência de parte do eleitorado por uma renovação política da gestão estadual.

Não é improvável que diante do momento político-eleitoral do PT, uma chapa com Jaques Wagner, governador e Rui Costa, senador, seja confirmada. Mas, as implicações disso junto aos aliados e o reflexo eleitoral que pode provocar não são claras.

Por fim, o embate entre esquerda e direita na Bahia deve repetir a polarização nacional apresentada entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL), esse é o cenário mais provável.

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