Areia movediça | Por Joaci Góes 

Trabalhador realiza manutenção da estrutura da sede do Congresso Nacional do Brasil, após atos antidemocráticos promovidos no dia 8 de janeiro de 2023.
    • Existe um povo que a bandeira empresta
    • P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!…
    • E deixa-a transformar-se nessa festa
    • Em manto impuro de bacante fria!…
    • Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
    • Que impudente na gávea tripudia?
    • Silêncio. Musa… chora, e chora tanto
    • Que o pavilhão se lave no teu pranto! …

 

    • Auriverde pendão de minha terra,
    • Que a brisa do Brasil beija e balança,
    • Estandarte que a luz do sol encerra
    • E as promessas divinas da esperança…
    • Tu que, da liberdade após a guerra,
    • Foste hasteado dos heróis na lança
    • Antes te houvessem roto na batalha,
    • Que servires a um povo de mortalha!…

(Castro Alves, Navio Negreiro)

Costumo usar o aforismo “o homem é o único animal que tropeça mais de uma vez na mesma pedra”, como meio de expressar a tendência humana de repetir erros, como se vê no comportamento de Lula ao renovar os mesmos equívocos que inviabilizaram a reeleição de Jair Bolsonaro, não obstante haver realizado um governo de marcante qualidade. Não tivesse ele feito da irreflexão e incontinência verbal uma prática diária, poderia ter sido reeleito com a mais alta aprovação popular de nossa trepidante democracia.

Como Bolsonaro depois de eleito, Lula age como se ainda estivesse em campanha, com o agravante de reiteradamente falar como se quisesse insultar os que, além de não votarem nele, querem vê-lo pelas costas por considerarem-no destituído dos atributos morais mínimos para exercer as mais elevadas atribuições da República. O gesto de histórico desassombro do Almirante Almir Garnier, ao recusar bater continência para Lula, expressa esse desapreço ostensivo de metade do eleitorado nacional. A eleição do agronegócio, carro chefe da economia brasileira, na atualidade, como o alvo predileto dos seus ataques verbais é, apenas, uma das provas de como a insensatez ganha curso acelerado na vida política nacional.

Ao declarar a disposição de enquadrar as Forças Armadas na bitola estreita de sua visão disciplinar, transferindo para o gabinete presidencial as promoções militares, tradicional responsabilidade dos respectivos estados maiores das diferentes armas, como lhe orientou Hugo Chavez, Lula mexe em casa de marimbondo e dá um tiro no pé, criando um clima de suspeição do seu propósito de consolidar uma ditadura petista no País de padrão bolivariano. Recorde-se que a Venezuela chegou a concorrer com 12% do PIB da América Latina, hoje reduzido a 1%!

O objetivo dessa mudança é de clareza solar: ao saberem que promoções e transferências de locais de trabalho passam para o chefe do Executivo, os militares, sobretudo os mais jovens, procurariam enquadrar suas palavras e ações no arcabouço do titular do poder. A perpetuação no poder seria, apenas, uma questão de tempo. Fica faltando combinar com os russos.

Nunca é demais repetir que o Brasil, em razão da qualidade histórica de suas elites, é um dos países de mais baixo desempenho do Globo, de padrão haitiano, em matéria de construir o bem-estar do seu povo. Levando-se em conta as enormes riquezas naturais e potencialidades que possui, o Brasil deveria competir com os Estados Unidos e o Canadá. Compare-se, como exemplo, o que possuem e o que são países como Cingapura e Israel.

Ainda há tempo para Lula rever sua temerária postura, parando de se movimentar como se estivesse prisioneiro de um banco de areia movediça: quanto mais se mexe, mais afunda.

*Joaci Góes, advogado, jornalista, empresário, ex-deputado federal constituinte e presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (IGHB).


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