Javier Milei venceu as eleições na Argentina atuando com uma desenvoltura sem precedentes. Prometeu tanto que pode não cumprir as promessas de campanha. Além disso, age de acordo com a clássica intemperança latina, atacando instituições e pessoas. Ainda como candidato, chamou Lula de comunista e disse que, se eleito, não se reuniria com o petista. Não contente com isso, taxou o Mercosul como uma união aduaneira sem futuro para o comércio latino e mundial. Prometeu acabar com a “casta” da política, fechar o Banco Central argentino e privatizar tudo que puder. Até agora não cumpriu nenhuma de suas promessas. Com o Papa, não se conteve: chamou-o de “Burro, burro, ignorante, desastroso, canhoto cultivador do modelo baseado no ódio, na inveja e no ressentimento”. E mais: “um merda”. Tempos depois, em visita ao Vaticano, disse que o Papa era “o argentino mais importante da história”. Na economia, o indicador vem apresentando quedas sucessivas desde 2018, com ligeira recuperação em 2021 e 2022, mas a crise econômica existente derrubou o PIB de US$ 1,8 trilhão para US$ 1,4 trilhão.
Mário Jorge Bergoglio era cardeal quando foi escolhido Papa da Igreja Católica, gerando inúmeras críticas e muitas controvérsias. Alguns jornalistas e integrantes do grupo de defesa dos direitos humanos argentinos, como as Mães da Praça de Maio, o acusam de ter sido “omisso” durante a ditadura ou mesmo “cumplice” da repressão, muito embora nenhuma acusação formal tenha sido aberta contra sua pessoa até o presente momento. Como cardeal estava à frente da Ordem Jesuíta quando os militares tomaram o poder. Seu nome é associado a dois episódios obscuros desse período: a retirada da proteção da Igreja a dois sacerdotes jesuítas (ambos sequestrados e torturados) que ajudavam os carentes de Buenos Aires, e à obrigação de prestar esclarecimentos à Justiça sobre o desaparecimento da bebê Ana de La Quadra. a pedido da Promotoria e das Mães da Praça de Maio.
Bergoglio depôs sobre o desaparecimento De Ana por escrito. A irmã da mãe da bebê, Estela, acusou-o de mentir ao dizer que apenas nos últimos dez anos do seu cardinalato tomou conhecimento sobre o sequestro de Bebês por militares argentinos. Seu biógrafo, Sérgio Rubin, diz que toda a Igreja Católica falhou ao não confrontar diretamente a ditadura, e que Bergoglio teria tentado salvar alguns argentinos perseguidos pelo regime. Seja como for, ambos cometeram erros: Milei, por prometer o que não pode cumprir, ser imprudente, destrambelhado e violento, podendo, inclusive, sofrer um impeachment. Já o Papa, para Milei, continuará sendo -mesmo depois das desculpas-, “um dos piores e mais desastrosos personagens”, e que “Ele, como jesuíta, promoveu o comunismo, que foi um fracasso econômico, social e cultural”.
*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.

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