Assinado após duas décadas de tratativas, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE), divulgado na sexta-feira (06/12/2024), preservou os termos do texto original de 2019 para o comércio de produtos agropecuários. As negociações enfrentaram resistências de países europeus, como França e Polônia, que manifestaram preocupação com a competitividade de seus mercados internos. Outras nações, incluindo Itália, Países Baixos e Áustria, ainda avaliam possíveis objeções ao tratado.
Condições de exportação e abrangência do tratado
O documento governamental sobre o acordo detalha as condições para a entrada de produtos agrícolas do Mercosul no mercado europeu. Café e sete tipos de frutas, como abacate, melancia e uva de mesa, terão acesso livre, sem tarifas ou cotas. Para itens como carne, açúcar e etanol, foram definidas cotas com volumes iniciais delimitados, sendo progressivamente ampliados.
No caso de produtos agrícolas que excederem as cotas estipuladas, serão aplicadas as tarifas vigentes. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o acordo reflete um equilíbrio entre a abertura de mercados e a proteção de setores sensíveis nos dois blocos.
Impactos por segmento produtivo
O tratado abrange cerca de 95% dos bens exportados pelo Brasil à União Europeia e 92% do valor comercializado. Itens sujeitos a cotas ou tratamentos não tarifários representam aproximadamente 3% dos bens e 5% do valor exportado.
Entre os produtos beneficiados, destacam-se:
- Café: Eliminação de tarifas de até 11% entre quatro e sete anos.
- Frutas frescas: Tarifas zeradas para uva de mesa, abacate, limão, lima, melancia, melão e maçã, com prazos de eliminação que variam de imediato até 10 anos.
- Etanol: Cotas de 450 mil toneladas para uso industrial e 200 mil toneladas para combustível, com eliminação gradual de tarifas.
- Carnes: Cotas específicas com tarifas reduzidas ou zeradas, incluindo 99 mil toneladas para carne bovina e 180 mil toneladas para carne de aves.
- Açúcar: Cota de 180 mil toneladas com tarifa zero, sendo aplicadas tarifas atuais para volumes excedentes.
- Laticínios e derivados: Regras diferenciadas por produto, como margens de preferência tarifária para iogurte e manteiga e cotas específicas para queijos.
Adaptação gradual e desafios comerciais
A transição para as condições previstas no tratado ocorrerá de forma escalonada, com prazos de até 12 anos para a eliminação completa de tarifas para determinados itens. Os benefícios esperados incluem a ampliação do mercado para produtores do Mercosul e maior competitividade no comércio com a União Europeia. No entanto, o tratado também estabelece desafios para os setores agrícolas dos dois blocos, que precisarão adaptar-se às novas condições comerciais e regulamentações ambientais e sanitárias.
Principais dados sobre o Acordo Mercosul-União Europeia
1. Dados gerais do acordo
- Objetivo: Criação de uma das maiores áreas de livre comércio do mundo.
- Duração das negociações: Aproximadamente 25 anos (início em 1999).
- Blocos envolvidos: Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e União Europeia.
- População abrangida: 718 milhões de pessoas.
- Valor combinado das economias: Aproximadamente US$ 22 trilhões.
2. Marcos do acordo
- Data de conclusão: 6 de dezembro de 2024.
- Local do anúncio: 65ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em Montevidéu, Uruguai.
- Principais avanços no texto final:
- Preservação de interesses em compras governamentais.
- Prolongamento da abertura do mercado automotivo.
- Criação de mecanismos para evitar retirada unilateral de concessões.
- Reconhecimento das credenciais ambientais do Mercosul.
3. Impactos econômicos e políticos
- Econômicos:
- Facilitação de exportações do Mercosul para a Europa.
- Vantagens comerciais para 60 mil empresas europeias (30 mil pequenas e médias empresas).
- Políticos:
- Reforço da cooperação entre democracias.
- Promoção de desenvolvimento sustentável com base nos Acordos de Paris.
4. Declarações de líderes
- Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil):
- “Estamos criando uma das maiores áreas de livre comércio do mundo.”
- Destacou a importância do crescimento sustentável, Direitos Humanos e redução das desigualdades.
- Ursula von der Leyen (Comissão Europeia):
- Ressaltou a importância política e ambiental do acordo.
- Enfatizou a preservação da Amazônia como uma responsabilidade global.
- Luis Alberto Lacalle Pou (Uruguai):
- Reconheceu o acordo como um marco comercial e um reforço dos laços além do econômico.
5. Aspectos ambientais e sociais
- Ambientais:
- Compromisso com preservação ambiental e credenciais sustentáveis.
- Garantias para investimentos que respeitem o patrimônio natural.
- Sociais:
- Promoção de igualdade de gênero, combate ao racismo e justiça social.
- Participação da sociedade civil nos debates sobre o futuro do bloco.
6. Perspectivas futuras
- Expansão de parcerias:
- Acordos com Singapura concluídos e negociações avançadas com os Emirados Árabes Unidos (previsão de conclusão em 2025).
- Perspectivas de cooperação econômica com China, Japão e Vietnã.
- Reforço do Mercosul:
- Consolidação como plataforma eficiente de inserção internacional.
- Aumento da competitividade global do bloco.
Leia +
Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




