Denúncia contra ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 33: PGR aponta organização criminosa e atentado à democracia

A PGR denunciou Jair Bolsonaro e outros 33 investigados por crimes contra a democracia, incluindo organização criminosa e tentativa de golpe. A investigação aponta elaboração de estratégias para questionar as eleições de 2022 e influenciar setores das Forças Armadas. O caso tramita no STF sob a relatoria de Alexandre de Moraes. Caso a denúncia seja aceita, os acusados podem responder por crimes com penas de até 20 anos de prisão.
Procuradoria-Geral da República formaliza acusação contra ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 33 aliados por tentativa de Golpe de Estado e outros crimes.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou, na segunda-feira (18/02/2025), uma denúncia formal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 33 investigados, incluindo militares e ex-ministros. A acusação aponta a existência de uma organização criminosa estruturada para deslegitimar o resultado das eleições de 2022 e atentar contra a democracia. O caso tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

Principais Acusações

De acordo com a PGR, Bolsonaro e seus aliados integraram uma estrutura organizada para disseminar desinformação e questionar a lisura do processo eleitoral. A atuação desse grupo teria se intensificado entre 2021 e 2023, culminando nos atos violentos de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília.

A denúncia lista várias condutas criminosas, incluindo:

  • Formação de organização criminosa (art. 2º da Lei 12.850/2013);
  • Atentado contra o Estado Democrático de Direito (art. 359-L e 359-M do Código Penal);
  • Dano ao patrimônio público (art. 163, parágrafo único, do Código Penal);
  • Deterioração de bem tombado (art. 62, I, da Lei 9.605/1998).

Entre os denunciados estão os ex-ministros Braga Netto (Defesa), Anderson Torres (Justiça) e o ex-chefe da Segurança do Distrito Federal, Silvinei Vasques.

Evidências Apresentadas

A investigação revelou mensagens e documentos que demonstram a elaboração de estratégias para descredibilizar o sistema eleitoral brasileiro. Um dos principais elementos utilizados na denúncia é uma minuta de decreto que previa a intervenção federal no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a prisão de ministros do STF.

As peças acusatórias baseiam-se em manuscritos, arquivos digitais, planilhas e trocas de mensagens que revelam o esquema de ruptura da ordem democrática. E descrevem, de forma pormenorizada, a trama conspiratória armada e executada contra as instituições democráticas.

A organização tinha como líderes o então presidente da República e o seu candidato a vice-presidente. Aliados a outras pessoas, dentre civis e militares, eles tentaram impedir, de forma coordenada, que o resultado das eleições presidenciais de 2022 fosse cumprido.

Ação planejada – De acordo com as investigações, o plano teve início em 2021, com os ataques sistemáticos ao sistema eletrônico de votação, por meio de declarações públicas e na internet. Em julho do ano seguinte, o então presidente da República se reuniu com embaixadores e representantes diplomáticos acreditados no país para verbalizar as conhecidas e desmentidas acusações sobre fraudes nas urnas eletrônicas, na tentativa de preparar a comunidade internacional para o desrespeito à vontade popular nas eleições presidenciais.

Durante o segundo turno das eleições, foram mobilizados aparatos de órgãos de segurança para mapear e impedir eleitores de votar no candidato da oposição. E as pessoas envolvidas nessa etapa atuavam na Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, facilitando os atos de violência e depredação, em 8 de janeiro de 2023.

Ao não encontrarem falhas no sistema eleitoral, os envolvidos mantiveram o discurso de fraude e mantiveram a militância com os acampamentos montados em frente a quartéis do Exército em várias capitais do país.

Em outra frente, a organização criminosa pressionou o Comandante do Exército e o Alto Comando, formulando cartas e agitando colegas em prol de ações de força no cenário político para impedir que o presidente eleito assumisse o cargo. A denúncia aponta a elaboração de minutas de atos de formalização de quebra da ordem constitucional, dentre os quais se cogitava a prisão de ministros do STF.

As investigações revelaram a operação de execução do golpe, em que se admitia até mesmo a morte do presidente e do vice-presidente da República eleitos, bem como a de ministro do STF. O plano teve anuência do então presidente da República.

A violência no dia 8 de janeiro foi a última tentativa. A organização incentivou a mobilização do grupo de pessoas em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, que pedia a intervenção militar na política. Os participantes fizeram o percurso acompanhados e escoltados por policiais militares do DF, invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes. O episódio gerou prejuízos de mais de R$ 20 milhões.

O Papel do Ex-Presidente

Segundo a PGR, Jair Bolsonaro teria liderado a articulação do grupo, promovendo reuniões e discursos que instigaram a desconfiança sobre o processo eleitoral. A estratégia incluía ataques sistemáticos à Justiça Eleitoral e a disseminação de conteúdo falso sobre supostas fraudes nas urnas eletrônicas.

A denúncia também destaca que, após a derrota eleitoral, Bolsonaro teria apoiado atos de insubordinação militar e incentivado acampamentos golpistas em frente a quartéis do Exército.

Lista de Acusados

A denúncia envolve nomes de diferentes categorias, conforme abaixo:

Liderança do grupo

  • Jair Messias Bolsonaro (Ex-presidente da República)
  • Walter Souza Braga Netto (Ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente)

Ex-ministros e autoridades políticas

  • Anderson Gustavo Torres (Ex-ministro da Justiça)
  • Augusto Heleno Ribeiro Pereira (Ex-ministro do GSI)
  • Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Ex-ministro da Defesa)
  • Marcelo Costa Câmara (Ex-assessor especial da Presidência)
  • Filipe Garcia Martins Pereira (Ex-assessor de assuntos internacionais)

Militares de alta patente

  • Almir Garnier Santos (Ex-comandante da Marinha)
  • Mauro César Barbosa Cid (Tenente-coronel do Exército, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro)
  • Cleverson Ney Magalhães (Ex-integrante do Alto Comando do Exército)

Policiais e agentes de segurança

  • Silvinei Vasques (Ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal)
  • Alexandre Rodrigues Ramagem (Ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência)
  • Anderson Gustavo Torres (Ex-secretário de Segurança Pública do DF)

Outros envolvidos

  • Ângelo Martins Denicoli
  • Bernardo Romão Correa Netto
  • Carlos Cesar Moretzsohn Rocha
  • Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
  • Fabrício Moreira de Bastos
  • Fernando de Sousa Oliveira
  • Giancarlo Gomes Rodrigues
  • Guilherme Marques de Almeida
  • Hélio Ferreira Lima
  • Marcelo Araújo Bormevet
  • Márcio Nunes de Resende Júnior
  • Mário Fernandes
  • Marília Ferreira de Alencar
  • Nilton Diniz Rodrigues
  • Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho
  • Rafael Martins de Oliveira
  • Reginaldo Vieira de Abreu
  • Rodrigo Bezerra de Azevedo
  • Ronald Ferreira de Araújo Júnior
  • Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros
  • Wladimir Matos Soares

Impactos e Próximos Passos

A aceitação da denúncia pelo STF poderá levar à abertura de uma ação penal, resultando na responsabilização criminal dos envolvidos. Caso condenados, os denunciados podem enfrentar penas que variam de três a vinte anos de prisão, dependendo da gravidade dos crimes.

O caso também poderá ter reflexos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde Bolsonaro já foi declarado inelegível até 2030 por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação pública.


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