Reportagem de Rayssa Motta e Fausto Macedo – publicada nesta terça-feira (15/04/2025) no jornal Estadão – revela que veio a público o depoimento do piloto Alencastro da Cunha Lopes à Polícia Federal, prestado em fevereiro deste ano, no qual narra que o transporte de dinheiro em espécie em jatinhos do empresário Alex Parente era uma prática comum. Parente é um dos principais investigados na Operação Overclean, que apura um esquema de corrupção envolvendo verbas de emendas parlamentares. O piloto relatou também que o empresário José Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, tentou se desvincular do episódio em que R$ 1,5 milhão foram apreendidos em um voo de Salvador para Brasília.
Contexto da apreensão de valores em espécie
Durante a primeira fase da Operação Overclean, deflagrada em dezembro de 2024, a Polícia Federal apreendeu R$ 1,5 milhão transportados em uma aeronave modelo Learjet 60XR, que havia decolado de Salvador com destino a Brasília. O valor estava armazenado em uma mala de mão e uma mochila, conforme os autos do processo.
A aeronave, de acordo com os investigadores, havia sido emprestada a pedido de Marcos Moura (“Rei do Lixo”), empresário que também é alvo da investigação. Além de Moura, viajava na aeronave o advogado Lucas Lobão, ex-coordenador do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) na Bahia. Ambos declararam espontaneamente aos agentes federais que o dinheiro transportado estava em espécie, surpreendendo o piloto responsável pelo voo.
Declarações do piloto à Polícia Federal
Em seu depoimento, o piloto Alencastro da Cunha Lopes afirmou que teve conhecimento prévio de que havia transporte recorrente de valores em espécie em aeronaves pertencentes a Alex Parente, mas disse não saber a origem do dinheiro, tampouco se os recursos eram destinados ao pagamento de propinas.
O piloto declarou que, após o flagrante e o retorno a Salvador, Marcos Moura demonstrou aborrecimento por ter sido citado como responsável pela aeronave e manifestou intenção de se desvincular do episódio, segundo relato de Alencastro.
Apreensão de documentos e investigações em andamento
Além do montante em espécie, a Polícia Federal apreendeu documentos considerados relevantes pelos investigadores, incluindo registros contábeis paralelos que indicam possível movimentação de propina e ocultação de patrimônio.
A Operação Overclean apura contratos firmados com prefeituras em pelo menos cinco estados: Bahia, Tocantins, Amapá, Rio de Janeiro e Goiás. Segundo a PF, em 2024 o grupo investigado obteve mais de R$ 825 milhões em contratos com órgãos públicos.
Os investigadores sustentam que o esquema envolvia pagamento de propina a servidores públicos e agora apuram a existência de colaboração de parlamentares na destinação de emendas. O deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil-BA) foi citado e, por possuir foro privilegiado, o inquérito foi remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Em nota, Elmar Nascimento declarou que não tem responsabilidade pela execução das emendas e afirmou que “o parlamentar apenas indica o destino dos recursos, sem competência para fiscalizar sua aplicação”.
Implicações jurídicas e políticas
O caso apresenta forte potencial de desdobramentos no campo político e jurídico, especialmente diante da citação de nomes com mandato e influência no Congresso Nacional. A tentativa de ocultar a origem dos recursos e a movimentação logística de grandes quantias em aeronaves privadas apontam para um modus operandi sofisticado, ainda sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público.
A conduta de empresários e operadores políticos ligados ao esquema revela estratégias de ocultação patrimonial e de utilização indevida de mecanismos públicos de financiamento local, como as emendas parlamentares, para fins particulares e corruptos.
Aeronaves e Transporte de Valores
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Modelo da aeronave apreendida: Learjet 60XR.
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Origem do voo: Salvador (BA).
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Destino do voo: Brasília (DF).
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Valor apreendido: R$ 1,5 milhão em espécie (distribuídos em mala de mão e mochila).
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Outro modelo citado: Raytheon Hawker 400A (também usado para transporte de dinheiro).
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Piloto responsável: Alencastro da Cunha Lopes.
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Frequência do transporte: Piloto declarou que era comum o transporte de dinheiro vivo.
Declarações do Piloto
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Desconhecimento do conteúdo da bagagem: afirmou que não sabia que havia dinheiro a bordo.
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Surpresa com a abordagem: disse ter sido informado sobre o valor apenas após a abordagem da PF.
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Marcos Moura tentou se desvincular: piloto relatou que o empresário ficou “aborrecido” por ter sido citado como responsável pelo voo e tentou se afastar do episódio publicamente.
Personagens Citados
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Alex Parente: empresário, proprietário das aeronaves e principal investigado.
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José Marcos Moura (“Rei do Lixo”): empresário, requisitou o voo e teria tentado se desvincular do caso.
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Lucas Lobão: ex-coordenador do Dnocs na Bahia, estava a bordo com o dinheiro.
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Elmar Nascimento: deputado federal (União Brasil-BA), citado na investigação; nega envolvimento.
Elementos de Prova Apreendidos
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Dinheiro em espécie: R$ 1,5 milhão.
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Documentos apreendidos: registros de contabilidade paralela de propinas e possível ocultação de patrimônio.
Operação Overclean
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Órgão responsável: Polícia Federal.
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Data da deflagração da 1ª fase: dezembro de 2024.
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Estados investigados: Bahia, Tocantins, Amapá, Rio de Janeiro e Goiás.
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Valor dos contratos públicos investigados em 2024: mais de R$ 825 milhões.
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Natureza dos contratos: firmados com prefeituras e órgãos públicos.
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Hipótese da PF: esquema de propinas pagas a servidores públicos e possível conluio com parlamentares.
Implicações Jurídicas
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Citação de parlamentar com foro privilegiado: Elmar Nascimento.
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Encaminhamento do inquérito: Supremo Tribunal Federal (STF).
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Declaração de Elmar: parlamentares não são responsáveis pela execução ou fiscalização das emendas.
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