No dia 7 de maio de 2025 (terça-feira), o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu agravar as penas aplicadas aos crimes de injúria, calúnia e difamação cometidos contra servidores públicos, no exercício de suas funções. A medida, embora revestida de juridicidade, representa um marco preocupante no processo de autoproteção das elites do setor público contra o controle social e jornalístico.
A criminalização ampliada de críticas legítimas à atuação funcional de autoridades públicas inverte os princípios republicanos, ao colocar a figura do servidor acima do cidadão e da liberdade de expressão — fundamento essencial do Estado Democrático de Direito. Tal medida aproxima o sistema institucional brasileiro do conceito de “cleptocracia autocrática”, em que o aparato de Estado se utiliza das estruturas formais do Direito para proteger a si próprio, em detrimento da transparência, do controle e da accountability.
Conceito de Cleptocracia Autocrática
Cleptocracia Autocrática Judicial é uma teoria desenvolvida pelo jornalista e cientista social Carlos Augusto, editor do Jornal Grande Bahia, que designa um regime no qual grupos corporativos incrustados no Estado — especialmente no Judiciário, Ministério Público e altos escalões administrativos — utilizam os instrumentos legais e institucionais para autopreservação e enriquecimento ilícito, ao mesmo tempo em que impõem limites crescentes à crítica e à fiscalização externa, além de agirem em conluio para silenciar vozes da imprensa que reporta sobre evidencias de atividades criminosas desenvolvidas por seus membros.
Essa dinâmica se manifesta por meio de:
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supersalários, penduricalhos e verbas indenizatórias obscuras;
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decisões judiciais com interesses corporativos;
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perseguição institucional contra críticos, jornalistas e cidadãos;
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aparelhamento do controle interno e externo.
Liberdade de expressão: última trincheira da democracia
A decisão do STF impõe um grave retrocesso ao art. 5º, incisos IV e IX, da Constituição, que garantem a liberdade de manifestação do pensamento e a atividade crítica da imprensa. Em vez de enfrentar a corrupção e os abusos funcionais, o Judiciário opta por blindar-se contra o escrutínio público.
O resultado é o avanço de uma cultura de impunidade sistêmica, onde a crítica passa a ser tratada como delito e a corrupção como norma tácita de governança. Ao criminalizar a dissidência, o Estado brasileiro reforça traços autoritários e reprime sua própria capacidade de regeneração institucional.
Corrupção institucionalizada: Brasil entre os piores do mundo
Dados do Índice de Percepção da Corrupção (2024) da Transparency International revelam o aprofundamento dessa crise. O Brasil ocupa a 107ª posição entre 180 países, com apenas 36 pontos de 100 possíveis, o que o coloca entre as nações com maior percepção de corrupção no setor público no mundo. A tabela a seguir ilustra a comparação:
Ranking de Percepção da Corrupção 2024 (Transparency International)
| País | Índice (0–100) | Ranking Global (180 países) |
|---|---|---|
| Dinamarca | 90 | 1º |
| Finlândia | 87 | 2º |
| Nova Zelândia | 85 | 3º |
| Alemanha | 78 | 9º |
| Estados Unidos | 69 | 24º |
| Chile | 67 | 27º |
| Colômbia | 39 | 92º |
| Brasil | 36 | 107º (alto índice) |
| México | 31 | 126º |
| Rússia | 26 | 142º |
Custo da cleptocracia: privilégios, improdutividade e miséria social
A cleptocracia autocrática imposta por setores do Judiciário, do Ministério Público e da alta burocracia tem impactos diretos na vida do cidadão comum. Segundo o Banco Mundial, a produtividade brasileira cresceu apenas 1,6% ao ano entre 2001 e 2013, enquanto países como China e Rússia registraram avanços de 9,6% e 3,5%, respectivamente.
Essa estagnação está associada a um modelo de Estado disfuncional e extrativista, onde:
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Recursos públicos são drenados por supersalários, aposentadorias integrais e auxílio-moradia mesmo para quem possui imóvel próprio;
-
Greves recorrentes paralisam serviços essenciais;
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Falta avaliação de desempenho real e políticas de meritocracia.
A consequência é a precarização de serviços públicos e a perpetuação da desigualdade social, mesmo com uma das maiores cargas tributárias da América Latina.
Supremo compromete democracia
A decisão do STF de agravar penas para crimes contra a honra de servidores públicos evidencia o estágio avançado de degeneração institucional que caracteriza uma cleptocracia autocrática. Ao blindar agentes estatais contra críticas legítimas, o Supremo compromete pilares fundamentais da democracia, como a liberdade de expressão, o controle social e a transparência pública.
Com privilégios descolados da realidade nacional, corrupção sistemática e serviços ineficientes, o Brasil caminha para um modelo de Estado autorreferente e repressivo. Proteger a honra funcional não pode servir de instrumento para suprimir o direito do cidadão à crítica e à fiscalização dos poderes constituídos. É hora de recolocar a República a serviço do povo — e não dos seus servidores.
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