Cleptocracia Autocrática: STF amplia blindagem institucional e agrava crise de legitimidade do setor público

O agravamento das penas para crimes contra a honra de servidores públicos, aprovado pelo STF, é sintoma de uma cleptocracia autocrática em ascensão no Brasil. O país ocupa a 107ª posição global em percepção de corrupção e convive com uma elite funcional protegida, improdutiva e hostil à crítica. A medida compromete a liberdade de expressão e aprofunda o abismo entre Estado e sociedade.
Decisão do STF que agrava penas por crimes contra a honra de servidores públicos reforça os traços de um Estado capturado por corporações com baixa accountability e altos níveis de corrupção institucional. Lideranças do Judiciário, como Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes e Mauro Campbell Marques, têm sido associadas a episódios que colocam em xeque a ética pública e comprometem a legitimidade do Poder Judiciário. Todos foram mencionados em contextos controversos, incluindo relações com a CBF, contratos e propaganda para o IDP, além de investigações da Polícia Federal sobre suposta corrupção no STJ.

No dia 7 de maio de 2025 (terça-feira), o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu agravar as penas aplicadas aos crimes de injúria, calúnia e difamação cometidos contra servidores públicos, no exercício de suas funções. A medida, embora revestida de juridicidade, representa um marco preocupante no processo de autoproteção das elites do setor público contra o controle social e jornalístico.

A criminalização ampliada de críticas legítimas à atuação funcional de autoridades públicas inverte os princípios republicanos, ao colocar a figura do servidor acima do cidadão e da liberdade de expressão — fundamento essencial do Estado Democrático de Direito. Tal medida aproxima o sistema institucional brasileiro do conceito de “cleptocracia autocrática”, em que o aparato de Estado se utiliza das estruturas formais do Direito para proteger a si próprio, em detrimento da transparência, do controle e da accountability.

Conceito de Cleptocracia Autocrática

Cleptocracia Autocrática Judicial é uma teoria desenvolvida pelo jornalista e cientista social Carlos Augusto, editor do Jornal Grande Bahia, que designa um regime no qual grupos corporativos incrustados no Estado — especialmente no Judiciário, Ministério Público e altos escalões administrativos — utilizam os instrumentos legais e institucionais para autopreservação e enriquecimento ilícito, ao mesmo tempo em que impõem limites crescentes à crítica e à fiscalização externa, além de agirem em conluio para silenciar vozes da imprensa que reporta sobre evidencias de atividades criminosas desenvolvidas por seus membros. 

Essa dinâmica se manifesta por meio de:

  • supersalários, penduricalhos e verbas indenizatórias obscuras;

  • decisões judiciais com interesses corporativos;

  • perseguição institucional contra críticos, jornalistas e cidadãos;

  • aparelhamento do controle interno e externo.

Liberdade de expressão: última trincheira da democracia

A decisão do STF impõe um grave retrocesso ao art. 5º, incisos IV e IX, da Constituição, que garantem a liberdade de manifestação do pensamento e a atividade crítica da imprensa. Em vez de enfrentar a corrupção e os abusos funcionais, o Judiciário opta por blindar-se contra o escrutínio público.

O resultado é o avanço de uma cultura de impunidade sistêmica, onde a crítica passa a ser tratada como delito e a corrupção como norma tácita de governança. Ao criminalizar a dissidência, o Estado brasileiro reforça traços autoritários e reprime sua própria capacidade de regeneração institucional.

Corrupção institucionalizada: Brasil entre os piores do mundo

Dados do Índice de Percepção da Corrupção (2024) da Transparency International revelam o aprofundamento dessa crise. O Brasil ocupa a 107ª posição entre 180 países, com apenas 36 pontos de 100 possíveis, o que o coloca entre as nações com maior percepção de corrupção no setor público no mundo. A tabela a seguir ilustra a comparação:

Ranking de Percepção da Corrupção 2024 (Transparency International)

País Índice (0–100) Ranking Global (180 países)
Dinamarca 90
Finlândia 87
Nova Zelândia 85
Alemanha 78
Estados Unidos 69 24º
Chile 67 27º
Colômbia 39 92º
Brasil 36 107º (alto índice)
México 31 126º
Rússia 26 142º

Custo da cleptocracia: privilégios, improdutividade e miséria social

A cleptocracia autocrática imposta por setores do Judiciário, do Ministério Público e da alta burocracia tem impactos diretos na vida do cidadão comum. Segundo o Banco Mundial, a produtividade brasileira cresceu apenas 1,6% ao ano entre 2001 e 2013, enquanto países como China e Rússia registraram avanços de 9,6% e 3,5%, respectivamente.

Essa estagnação está associada a um modelo de Estado disfuncional e extrativista, onde:

  • Recursos públicos são drenados por supersalários, aposentadorias integrais e auxílio-moradia mesmo para quem possui imóvel próprio;

  • Greves recorrentes paralisam serviços essenciais;

  • Falta avaliação de desempenho real e políticas de meritocracia.

A consequência é a precarização de serviços públicos e a perpetuação da desigualdade social, mesmo com uma das maiores cargas tributárias da América Latina.

Supremo compromete democracia

A decisão do STF de agravar penas para crimes contra a honra de servidores públicos evidencia o estágio avançado de degeneração institucional que caracteriza uma cleptocracia autocrática. Ao blindar agentes estatais contra críticas legítimas, o Supremo compromete pilares fundamentais da democracia, como a liberdade de expressão, o controle social e a transparência pública.

Com privilégios descolados da realidade nacional, corrupção sistemática e serviços ineficientes, o Brasil caminha para um modelo de Estado autorreferente e repressivo. Proteger a honra funcional não pode servir de instrumento para suprimir o direito do cidadão à crítica e à fiscalização dos poderes constituídos. É hora de recolocar a República a serviço do povo — e não dos seus servidores.


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