Uma operação conjunta entre o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Polícia Civil, o Departamento de Polícia Técnica, o Exército Brasileiro e a Superintendência Regional do Trabalho na Bahia (SRT-BA) resultou na apreensão de 2.880.791 unidades de fogos de artifício ilegais e 61 quilos de bombas a granel, além da interdição de três locais clandestinos de produção no município de Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo Baiano, na quarta-feira (14/05/2025).
Durante a Operação Brincar com Fogo, agentes se dividiram em três grupos e inspecionaram nove imóveis previamente mapeados por denúncias e investigações policiais. Em três desses locais, foram encontrados materiais explosivos armazenados de forma irregular, com risco iminente de explosão. Um dos pontos críticos foi identificado no bairro Maria Preta, onde uma residência abrigava centenas de caixas de fogos sem qualquer medida de segurança.
A apreensão ocorre semanas após a explosão de uma casa com função semelhante na cidade vizinha de Muniz Ferreira. A continuidade da operação revelou que os imóveis interditados possuíam conexão direta com o grupo liderado por Gilson Prazeres, ex-vereador do município e filho de Osvaldo Prazeres Bastos, conhecido como Vardo dos Fogos, responsável pela explosão que matou 64 pessoas em 1998, incluindo 20 crianças.
Prisões e apreensões associadas ao grupo econômico de Gilson Prazeres
Foram detidos Gilson Prazeres e Pedro Marcos Peleteiro de Araújo, este último flagrado fumando em meio a fogos estocados em sua residência. Ambos foram conduzidos à delegacia, ouvidos e liberados. A polícia também identificou uma rede articulada de produção e distribuição ilegal, com atuação em áreas rurais e residenciais, incluindo uma fazenda e imóveis com estruturas improvisadas de fábrica.
Todo o material recolhido foi contabilizado por peritos do Departamento de Polícia Técnica e armazenado em um caminhão-baú para ser destruído em pedreira autorizada, sob supervisão do Exército.
Atuação ilegal persiste apesar de proibição judicial
Desde 2024, Gilson e seus familiares estão proibidos judicialmente de fabricar, armazenar ou comercializar fogos de artifício, conforme decisão liminar obtida pelo MPT em ação civil pública. A decisão impõe multa de R$ 200 mil por item descumprido, valor passível de execução judicial. A sentença acolheu integralmente os argumentos do MPT, que apontou a existência de um grupo econômico estruturado para burlar a fiscalização, mantendo a produção em locais diversos para dificultar a atuação de órgãos reguladores como o Exército, Corpo de Bombeiros e o Conselho Regional de Química.
Histórico de reincidência e atuação na informalidade
Em dezembro de 2023, Gilson foi preso em flagrante durante ação semelhante. Desde então, foram registradas novas apreensões em chácaras e imóveis sob seu controle. Segundo o MPT, as empresas Fogos Boa Vista, Fogos Import e Fogos São João, apesar de formalmente desvinculadas, operam sob seu comando indireto, caracterizando fraude trabalhista e risco à saúde pública.
A investigação aponta que, após os desdobramentos da tragédia de 1998, a família Prazeres passou a operar fora da legalidade, eliminando qualquer figura jurídica formal para dificultar a responsabilização por eventuais danos. Com isso, as condições de trabalho e segurança nas unidades clandestinas tornaram-se inexistentes, expondo trabalhadores e vizinhos a riscos graves.
Próximas medidas e penalidades
A auditoria-fiscal do trabalho interditou os imóveis e prepara autuações por infrações às normas de segurança e saúde ocupacional. O Exército Brasileiro deverá intensificar o controle sobre o comércio de insumos explosivos na região. O MPT já informou que requererá o cumprimento das multas previstas em sentença, diante da reincidência das infrações.
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