Domingo, 18/05/2025 — O município de Serra Preta, localizado no interior da Bahia, enfrenta um processo acelerado de degradação urbana e patrimonial, apesar de sua relevância histórica como um dos centros urbanos mais antigos da América. Elevada à categoria de vila em 1722, cem anos antes da independência do Brasil, a cidade guarda vestígios do período colonial e da formação identitária brasileira. Contudo, a ausência de políticas públicas efetivas de preservação tem colocado em risco irreversível seu legado.
A atual conjuntura do município revela a precarização dos serviços essenciais. A inexistência de farmácias, padarias e atividades comerciais básicas compromete o cotidiano da população, empurrando o município para o colapso social e econômico. Ao mesmo tempo, o patrimônio arquitetônico segue em ruínas, sem manutenção, documentação ou iniciativas de restauração.
Tombamento pode impulsionar desenvolvimento econômico e cultural
Diante do quadro de abandono, especialistas e representantes da sociedade civil defendem o tombamento oficial do patrimônio de Serra Preta por órgãos como o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O reconhecimento formal dos bens culturais e naturais — como o Tanque Velho e o Monte da Capina — permitiria a implementação de políticas de valorização do turismo histórico, geração de empregos e fomento à economia criativa.
Segundo o radialista e ativista cultural Valter Vieira, “a inércia administrativa, sobretudo da atual gestão municipal, tem agravado o cenário de abandono. Faltam sensibilidade, visão e compromisso com a memória do povo serrapretense”. A crítica expõe a responsabilidade dos gestores públicos no processo de decadência do município.
Serra Preta como síntese do Brasil Colonial
O professor e historiador Mário Ângelo destaca que Serra Preta representa uma síntese histórica do Brasil Colonial, marcada pela violência contra os povos indígenas Paiaiás e pela exploração do trabalho escravizado da população negra. Conforme alerta, “ignorar essa história é apagar parte essencial da narrativa brasileira”.
Em publicação divulgada nas redes sociais, o historiador propôs o tombamento como estratégia para impulsionar a economia local, com efeitos diretos sobre emprego, renda e identidade cultural:
“Hoje, a cidade está praticamente abandonada, tendo seu patrimônio arquitetônico destruído paulatinamente. […] O reconhecimento histórico pode impulsionar a economia local, desenvolvendo emprego e renda.”
Caminhos para a proteção do patrimônio de Serra Preta
A mobilização para o tombamento de Serra Preta exige articulação institucional, participação comunitária e engajamento de órgãos culturais em nível estadual e federal. A tramitação de propostas de reconhecimento patrimonial junto ao IPAC e ao IPHAN pode representar um divisor de águas na trajetória da cidade. A criação de um plano de salvaguarda histórico-urbanístico seria essencial para conter a deterioração e garantir o uso sustentável do patrimônio local.
Além do tombamento, outras medidas podem ser adotadas:
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Elaboração de inventário participativo dos bens culturais;
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Estabelecimento de linhas de fomento à restauração urbana;
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Implantação de roteiros turísticos temáticos;
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Parcerias com universidades e centros de pesquisa para documentação histórica e arqueológica.
Um dever histórico com o Brasil
Preservar Serra Preta não é apenas um resgate simbólico, mas uma estratégia concreta de desenvolvimento sustentável, com base na valorização da memória e na reativação da economia local. A omissão diante do colapso patrimonial compromete a integridade da história nacional e priva futuras gerações de uma herança fundamental.
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