Em meio a uma semana marcada pela alta da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo desgaste da família Bolsonaro após revelações da Polícia Federal, o governo sofreu três neste mês de agosto de 2025 derrotas significativas no Congresso Nacional, que expuseram falhas na articulação política e fragilizaram a base aliada. A mais grave foi a perda do controle da CPI do INSS para a oposição, em uma articulação que surpreendeu o Planalto e colocou em evidência a vulnerabilidade do presidencialismo de coalizão. Além disso, avançaram projetos sobre o voto impresso, já declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e sobre a mineração em terras indígenas, ambos contrários às diretrizes do governo e com potencial de desgaste internacional às vésperas da COP-30.
As derrotas também abalaram a autoridade dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), apontados como fiadores da governabilidade, mas que não conseguiram conter o avanço da oposição. O cenário revela uma contradição central do Brasil em 2025: enquanto Lula cresce nas pesquisas, sua capacidade de conduzir a agenda legislativa se mostra limitada, em meio ao peso do Centrão, à pressão por emendas parlamentares e à influência persistente do bolsonarismo no debate político.
A disputa pelo controle da CPI do INSS
A articulação do governo previa a indicação de Omar Aziz (PSD-AM) e Ricardo Ayres (Republicanos-TO) para os cargos de presidente e relator da CPI do INSS. Entretanto, uma manobra liderada por Rogério Marinho (PL-RN) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) entregou o comando ao senador Carlos Viana (Podemos-MG), ligado à bancada evangélica, e ao deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL).
A derrota pegou o Planalto de surpresa. Gaspar afirmou que sua indicação foi decisão pessoal do presidente do União Brasil, Antonio Rueda, partido que avalia se manterá apoio ao governo. A oposição anunciou que pretende mirar o irmão de Lula, José Ferreira da Silva, o Frei Chico, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, investigado por supostos descontos indevidos em benefícios do INSS.
Reação da base governista
O revés gerou caça às bruxas dentro da base governista. Líderes passaram a culpar falhas de mobilização e a demora na liberação de emendas parlamentares. O senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) admitiu que a equipe entrou de “salto alto” e subestimou a articulação adversária. O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) reconheceu que houve falhas na mobilização da base.
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, convocou reunião emergencial com aliados para tentar reverter o quadro e minimizar os impactos da derrota.
Avanço da oposição no voto impresso
Outro ponto sensível foi a aprovação, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, de projeto que prevê a impressão do registro de cada voto eletrônico. O tema, já declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), representa bandeira do bolsonarismo e tende a intensificar embates jurídicos e políticos.
Caso avance no Congresso, a medida criará novos atritos entre o Executivo, a base governista e o Judiciário, em pleno período de preparação para a COP-30, evento no qual o Brasil busca se apresentar como defensor da democracia e da estabilidade institucional.
Mineração em terras indígenas
A Comissão de Direitos Humanos do Senado também aprovou projeto que regulamenta o garimpo em áreas indígenas. A proposta contraria diretamente o posicionamento do governo e de sua base, além de gerar desgaste internacional em meio às negociações ambientais.
O texto ainda será analisado pela Comissão de Meio Ambiente, mas já representa desafio diplomático diante da agenda climática que culminará na realização da COP-30 no Brasil.
Fragilidade de Motta e Alcolumbre
As derrotas também abalaram a imagem dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Ambos eram apontados como fiadores de um ambiente controlado no Legislativo, mas não conseguiram evitar a vitória da oposição na CPI.
A perda de espaço de aliados, somada à pressão por emendas parlamentares e ao incômodo com a atuação do STF sobre prerrogativas do Congresso, fragilizou a liderança de Motta e Alcolumbre e ampliou o questionamento interno sobre sua capacidade de conter crises.
Cenário de crise política e dificuldade econômica
As derrotas no Congresso evidenciam uma contradição central do cenário político brasileiro em 2025: enquanto o presidente Lula colhe dividendos de uma recuperação de popularidade em pesquisas recentes, o governo demonstra fragilidade em sua capacidade de conduzir a agenda legislativa. Essa dissonância ilustra um fenômeno recorrente na política nacional: a distância entre a opinião pública e a correlação de forças dentro do Parlamento, marcado pelo peso do Centrão e pela atuação coesa da oposição de direita.
O episódio da CPI do INSS é simbólico porque vai além da perda de cargos estratégicos. Trata-se de um sinal de que partidos oficialmente da base, como União Brasil e PP, não hesitam em adotar uma postura de enfrentamento quando percebem falhas na articulação palaciana ou quando a liberação de emendas e cargos não ocorre no ritmo esperado. Isso coloca em xeque a eficácia do presidencialismo de coalizão brasileiro, cada vez mais dependente de negociações imediatistas e de concessões orçamentárias bilionárias.
Ao mesmo tempo, a aprovação do voto impresso e da mineração em terras indígenas aponta para a capacidade da oposição de pautar temas identitários e ideológicos, que, mesmo já rechaçados pelo STF ou pela comunidade internacional, encontram eco em setores expressivos da sociedade. O bolsonarismo, ainda que enfraquecido pela prisão domiciliar do ex-presidente e por investigações da Polícia Federal, continua ditando parte da agenda legislativa, tensionando a relação entre os Poderes.
O STF permanece como fator de instabilidade. A Corte já barrou o voto impresso, e deverá agir novamente caso a proposta avance. Esse movimento reforçará o discurso da oposição de que o Supremo “interfere” no Legislativo, alimentando o clima de polarização. No caso da mineração em terras indígenas, a pressão será internacional: o Brasil sediará a COP-30 em novembro, e qualquer sinal de retrocesso ambiental pode comprometer a imagem que o governo tenta construir como liderança global no combate às mudanças climáticas.
Há, ainda, uma dimensão institucional: a crise expõe a vulnerabilidade de Hugo Motta e Davi Alcolumbre, que vinham sendo tratados como fiadores da governabilidade. A perda de autoridade dos presidentes da Câmara e do Senado demonstra que o sistema político brasileiro carece de lideranças sólidas capazes de estabilizar a relação Executivo-Legislativo, abrindo espaço para maior imprevisibilidade.
Em síntese, as derrotas no Congresso refletem não apenas falhas de articulação momentâneas, mas um quadro estrutural de instabilidade política. A governabilidade no Brasil segue refém de interesses fragmentados, do peso desproporcional das emendas parlamentares e da capacidade da oposição em explorar temas sensíveis. O governo Lula, mesmo fortalecido nas pesquisas, enfrenta o desafio de recompor sua base, acelerar a liberação de recursos e construir pontes institucionais em um ambiente onde o tempo político é cada vez mais curto e os custos de erro, cada vez maiores.
*Com informações do Jornal O Globo e Revista Veja.
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