Nesta terça-feira (23/09/2025), durante a abertura do Debate Geral da 80ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, utilizou cerca de dois minutos de sua fala para abordar o Brasil e o encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O republicano afirmou ter sentido uma “química excelente” com Lula por “pelo menos uns 39 segundos”, mas voltou a criticar duramente o governo brasileiro, reforçando que as tarifas de 50% impostas a produtos do Brasil são uma resposta a supostas tentativas de “interferência nos direitos dos cidadãos norte-americanos” por meio de “censura, repressão e corrupção judicial”.
Encontro breve e promessa de nova reunião
Trump relatou que o encontro com Lula, realizado nos bastidores da ONU, foi breve, com duração aproximada de 20 segundos. Apesar da brevidade, disse que os dois trocaram cumprimentos e marcaram uma reunião oficial para a semana seguinte.
“Ele parecia um homem muito legal, na verdade. Ele gostou de mim, eu gostei dele. E eu só faço negócios com pessoas de quem gosto”, declarou Trump, reforçando sua visão pragmática de relações internacionais.
Críticas ao Brasil e defesa da soberania dos EUA
O presidente norte-americano vinculou diretamente a imposição das tarifas ao que classificou como “censura e perseguição política” praticadas pelo Brasil, sugerindo que tais práticas afetariam também cidadãos e interesses nos Estados Unidos.
“O Brasil agora enfrenta tarifas pesadas em resposta aos seus esforços sem precedentes para interferir nos direitos e liberdades dos nossos cidadãos americanos e de outros, com censura, repressão, corrupção judicial e perseguição de críticos políticos”, afirmou.
Trump também acusou o Brasil de ter praticado tarifas injustas contra os EUA no passado e disse que sua gestão está apenas “revidando com força” para defender a soberania norte-americana.
Corrupção judicial no Brasil: contexto das acusações
Embora Trump não tenha citado casos específicos em sua fala na ONU, suas declarações ecoam um debate interno sobre a corrupção no Judiciário brasileiro, alvo de diversas investigações nos últimos anos.
A Polícia Federal já apura irregularidades em 17 tribunais estaduais, envolvendo supostos esquemas de venda de sentenças, manipulação de processos e tráfico de influência. Entre as operações em andamento, a Operação Faroeste é considerada a de maior alcance: resultou no afastamento de cerca de 12 desembargadores do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) por participação em um esquema de grilagem de terras e decisões judiciais suspeitas.
O caso revelou conexões com outras investigações, como o caso Sisamnes, que apontou indícios de corrupção no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo relatos, cerca de oito gabinetes de desembargadores já foram identificados em esquemas semelhantes.
A situação ganha contornos ainda mais delicados quando se observa que mais da metade dos ministros do STJ têm parentes atuando em processos na própria Corte, prática criticada por juristas e pela sociedade brasileira por violar princípios de imparcialidade e neutralidade. Esse cenário também levanta suspeitas sobre a influência de familiares no Supremo Tribunal Federal (STF), ampliando a percepção de fragilidade ética no mais alto patamar da Justiça brasileira.
Para observadores internacionais, esse contexto é visto como um exemplo negativo de governança institucional, uma vez que a presença de parentes em instâncias superiores é incompatível com a transparência e independência exigidas de magistrados.
Corrupção da República e restrição às liberdades
A crítica de Trump também encontra eco em outro debate sensível: a relação entre o ativismo judicial e os limites impostos à Liberdade de Expressão e à Liberdade de Imprensa no Brasil.
Nos últimos anos, decisões de membros do Judiciário têm levado à remoção de conteúdos jornalísticos, bloqueio de perfis em redes sociais e abertura de inquéritos contra jornalistas e veículos de comunicação. Essas medidas, justificadas sob o argumento de combater a desinformação, são interpretadas por setores da sociedade civil e da comunidade internacional como formas de censura prévia e repressão política.
O efeito cumulativo desses atos tem sido descrito por analistas como uma “corrupção da República”, na medida em que enfraquece pilares constitucionais, restringe o espaço democrático e compromete a confiança pública no sistema judicial. Para além dos casos de enriquecimento ilícito e venda de sentenças, a corrupção também se manifesta quando o Judiciário, em vez de atuar como garantidor de direitos, é percebido como agente de perseguição e instrumento de poder.
Impactos nas relações bilaterais
As declarações ocorrem em meio ao agravamento da crise comercial entre os dois países. Desde o anúncio do tarifaço de 50% contra exportações brasileiras, setores como o agronegócio, siderurgia e manufaturados vêm relatando prejuízos imediatos, enquanto diplomatas trabalham para evitar um colapso nas negociações bilaterais.
Lula, por sua vez, tem buscado diversificar parcerias econômicas, aproximando-se da China, Índia e países do BRICS, mas enfrenta pressão interna e externa para negociar uma solução direta com Washington.
Política externa como defesa
O discurso de Trump revela uma estratégia política clara: associar tarifas comerciais a valores democráticos e de soberania nacional. Ao relacionar o tarifaço com acusações de censura e corrupção judicial no Brasil, o presidente norte-americano amplia o alcance do embate, que deixa de ser apenas econômico e passa a envolver temas de governança institucional e direitos humanos.
Essa narrativa fortalece a posição de Trump no cenário interno, ao apresentar sua política externa como defesa dos interesses norte-americanos contra práticas consideradas autoritárias no Brasil. Para Lula, a fala representa um desafio diplomático de grandes proporções, exigindo respostas que conciliem a defesa da soberania nacional com a preservação de mercados estratégicos para a economia brasileira.
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