Durante depoimento à CPMI do INSS nesta terça-feira (28/10/2025), o piloto Henrique Traugott Binder Galvão informou que duas aeronaves utilizadas pela Confederação Nacional dos Agricultores Familiares (Conafer) pertenciam a Vinícius Ramos da Cruz, cunhado do presidente da entidade, Carlos Roberto Ferreira Lopes. O caso levanta suspeitas sobre transações financeiras e uso irregular de recursos envolvendo associações e sindicatos de agricultores.
Segundo o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), as vendas dos aviões seriam suspeitas e precisam ser apuradas. Atualmente, as aeronaves estão em nome do secretário da Conafer, Silas da Costa Vaz, que, conforme o parlamentar, não possui renda compatível com os valores dos bens.
Contratação e pagamentos sob questionamento
Henrique Galvão afirmou ter realizado cerca de 100 horas de voo em uma das aeronaves, contratado e pago diretamente pela Conafer. A Polícia Federal aponta a entidade como uma das principais beneficiadas pelo esquema de descontos ilegais em aposentadorias e pensões entre 2019 e 2024.
Questionado sobre quem custeava combustível e manutenção, o piloto informou que os pagamentos eram intermediados por Leandro Almeida, seu amigo de infância, residente em Brasília. Almeida confirmou à comissão, por telefone, ter pilotado para a Conafer antes de Galvão, somando cerca de 90 a 100 horas de voo, inclusive em deslocamentos de Carlos Roberto Ferreira Lopes.
Valores milionários e incompatibilidade de rendimentos
De acordo com o relator, Silas da Costa Vaz — atual proprietário formal das aeronaves — vive com a família em uma casa simples no Recanto das Emas, no entorno do Distrito Federal, o que reforça a suspeita de incompatibilidade patrimonial.
O piloto detalhou que o Beechcraft Baron 58, bimotor de seis lugares, tem valor estimado em R$ 1,8 milhão, com custo mensal de R$ 40 mil para manutenção e combustível. Já o Cessna 172RG (prefixo PR-ATM) valeria cerca de R$ 550 mil. Ambos, segundo a investigação, teriam sido comprados da ONG Instituto Terra e Trabalho (ITT), presidida por Vinícius Ramos — também ligado à Conafer.
Diários de bordo e rotas operadas
O piloto foi questionado sobre possíveis registros de passageiros em voos com políticos ou servidores públicos. Ele explicou que o diário de bordo das aeronaves contém apenas dados técnicos, como tempo e destino, e que as listas de passageiros ficam arquivadas no Aeroporto Botelho, em São Sebastião (DF).
Galvão também declarou ter trabalhado anteriormente como piloto do deputado Marcelo Álvaro (PL-MG), realizando voos em aeronaves distintas das investigadas. Atualmente, ele atua em uma empresa privada em Belo Horizonte e afirmou ter deixado a Conafer por inadimplência da entidade.
Envolvimento de parlamentares e possíveis desvios de emendas
O deputado Rogério Correia (PT-MG) destacou a diferença de valores entre as transações das aeronaves: o Baron 58 teria sido adquirido por R$ 1 milhão e revendido por R$ 2,5 milhões. Além disso, o Cessna 172RG, antes de ser comprado por Vinícius Ramos, teria pertencido ao deputado Euclydes Pettersen (Republicanos-MG), que o vendeu por R$ 400 mil e viu o mesmo ser revendido por R$ 700 mil.
Correia também levantou a hipótese de que emendas parlamentares tenham sido utilizadas para financiar a Conafer e o ITT. Segundo dados preliminares da Polícia Federal, Pettersen teria destinado R$ 2,5 milhões ao ITT por meio de emendas. O deputado Marcel Van Hatten (Novo-RS) reforçou que a correlação entre os valores e a compra das aeronaves precisa ser formalmente esclarecida.
Falhas de controle e possíveis crimes
Durante o depoimento, Henrique Galvão mencionou que os voos da Conafer ocorriam principalmente entre Governador Valadares (MG), Ribeirão Preto (SP) e Brasília (DF). Ele afirmou que o Aeroporto Botelho não dispõe de raio-X ou controle de embarque, o que impossibilita o rastreamento de bagagens transportadas.
O vice-presidente da CPMI, deputado Duarte Jr. (PSB-MA), alertou que, caso se confirmem transportes de recursos ilícitos ou substâncias proibidas, o piloto poderá ser responsabilizado criminalmente por lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e associação criminosa.
A segunda parte da reunião será dedicada ao depoimento do empresário Domingos Sávio de Castro, apontado como responsável por transações financeiras com entidades associadas à Conafer e suspeito de repasses ao operador conhecido como “Careca do INSS”.
Desdobramento das fraudes previdenciárias
A CPMI do INSS expõe um novo desdobramento das fraudes previdenciárias que se estendem para o uso de aeronaves particulares e entidades de fachada. O caso da Conafer revela um modelo de associação entre ONGs, parlamentares e dirigentes que operam à sombra da legalidade, explorando brechas em mecanismos de repasse de emendas. As declarações do piloto e as discrepâncias patrimoniais reforçam a necessidade de rastreabilidade e transparência nas entidades do terceiro setor, que muitas vezes funcionam como intermediárias de esquemas de corrupção.
*Com informações da Agência Senado.
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