A crise que levou à liquidação do Banco Master pelo Banco Central em 18 novembro de 2025, uma terça-feira, consolidou-se como o maior colapso bancário brasileiro desde os anos 1990. As investigações decorrentes da Operação Compliance Zero (Caso Master-BRB) revelam um esquema de créditos fictícios, operações sem lastro e repasses bilionários do Banco de Brasília (BRB) ao conglomerado de Daniel Vorcaro, totalizando R$ 16,7 bilhões entre julho de 2024 e outubro de 2025. Desse montante, R$ 12,2 bilhões concentram indícios de fraude, conforme apontam Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal (PF) e técnicos do Banco Central (BC).
A engenharia financeira irregular envolveu a fabricação de carteiras de crédito, o uso de empresas de fachada, registros contábeis sem respaldo e tentativas de aquisição estruturadas para mascarar a crise de liquidez do Master. O episódio resultará no maior desembolso da história do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), estimado em R$ 41 bilhões para ressarcir 1,6 milhão de investidores.
A origem da fraude: criação da Tirreno e fabricação de carteiras (novembro a dezembro de 2024)
O esquema começou a tomar forma em novembro de 2024, com a criação da empresa SX 016 Empreendimentos, que semanas depois, em dezembro de 2024, mudou de nome para Tirreno Consultoria, alterou seu objeto social e passou a ser dirigida por um ex-funcionário do Banco Master. A empresa não apresentava movimentação típica de uma originadora de crédito: não usava TED, Pix, boletos, câmbio ou aplicações em entidades registradoras.
A partir de dezembro de 2024, a Tirreno passou a gerar carteiras de crédito consignado compostas por tomadores inexistentes. Essas carteiras foram repassadas ao Banco Master sem pagamento e, em seguida, revendidas ao BRB como se fossem ativos legítimos.
Primeiros repasses e alerta regulatório (janeiro a fevereiro de 2025)
Entre janeiro e fevereiro de 2025, o BRB pagou R$ 12,2 bilhões ao Master por essas carteiras — valor composto por aproximadamente R$ 6,7 bilhões em supostos créditos e R$ 5,5 bilhões em prêmios financeiros altamente atípicos para operações desse tipo.
Em fevereiro de 2025, o Banco Central identificou inconsistências e determinou o distrato parcial das operações. O Master recomprou parte dos ativos, mas o problema estrutural estava apenas começando: as carteiras continuavam sem comprovação documental.
Tentativa de compra do Master pelo BRB (março de 2025)
Em 28/03/2025, mesmo sob investigação, o BRB anunciou ao mercado intenção de comprar 58% do Banco Master por R$ 2 bilhões. Em 31/03/2025, o BC recebeu o pedido formal e iniciou a verificação preliminar, que poderia levar até 360 dias.
No mesmo período, o Master divulgou balanço de 2024 afirmando lucro de R$ 1,068 bilhão, patrimônio de R$ 4,74 bilhões e ativos de crédito de R$ 40,31 bilhões. A auditoria da KPMG validou os números, que agora são objeto de escrutínio pelas autoridades.
Interferência judicial e disputa política no DF (maio a agosto de 2025)
Em 06/05/2025, o MPDFT obteve liminar suspendendo a assinatura do contrato, por falta de autorização legislativa e ausência de convocação da assembleia de acionistas.
Em 09/05/2025, o TJDFT liberou novamente a tramitação, alegando que ainda não havia urgência regulatória.
Em 19/08/2025, por determinação judicial, a Câmara Legislativa do DF aprovou a autorização para compra, em sessão marcada por críticas sobre falta de transparência e risco fiscal ao Iprev-DF, que detém participação acionária no BRB.
Os debates legislativos evidenciaram preocupação com o uso de um banco público para adquirir ativos duvidosos. Parlamentares alertaram que eventuais prejuízos poderiam afetar aposentadorias e a solvência do DF.
Rejeição do Banco Central e aprofundamento da crise (setembro de 2025)
Em 03/09/2025, o Banco Central rejeitou definitivamente a compra, eliminando qualquer possibilidade de consolidação entre Master e BRB. O veto veio após análise de risco de sucessão, inconsistências contábeis e operações atípicas detectadas pelas áreas técnicas.
Mesmo após esse veto, repasses do BRB ao Master continuaram ocorrendo — ponto considerado altamente suspeito pelo MPF.
Operação Compliance Zero e a prisão de Vorcaro (17 e 18 de novembro de 2025)
Na noite de 17/11/2025, Daniel Vorcaro foi detido no Aeroporto de Guarulhos ao tentar embarcar para o exterior. A PF suspeitava de fuga. Horas depois, em 18/11/2025, foi deflagrada a Operação Compliance Zero, que cumpriu mandados de busca, apreensão e afastou o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa.
A PF identificou indícios de que o BRB auxiliou o Master a superar sua crise de liquidez ao continuar adquirindo carteiras e repassando recursos mesmo após alertas do Banco Central.
Liquidação extrajudicial do Master e impacto sobre o sistema financeiro (18/11/2025)
Na tarde de 18/11/2025, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master. A decisão citou:
- grave crise de liquidez;
- severas violações regulatórias;
- impossibilidade de recuperação;
- risco de continuidade da fraude.
O FGC confirmou que terá de desembolsar R$ 41 bilhões — o maior resgate de sua história. O caso superará em impacto financeiro a liquidação do Bamerindus, em 1997.
Reação política na Câmara Legislativa (18/11/2025)
A operação repercutiu imediatamente no plenário da CLDF. Deputados cobraram uma CPI para investigar a aquisição frustrada, os repasses bilionários, a gestão do BRB e possíveis responsabilidades políticas no governo do DF.
Parlamentares afirmaram que o episódio pode se tornar “o maior escândalo financeiro da história do Distrito Federal”.
CPI em discussão no DF
A crise BRB–Master expõe uma confluência rara de falhas institucionais. No plano operacional, o BRB adquiriu carteiras de crédito sem lastro, apesar de alertas formais do Banco Central. No âmbito regulatório, o sistema de supervisão só impediu o avanço da aquisição após bilhões terem sido repassados. No campo político, a tentativa de compra avançou sob clima de urgência, sem transparência documental e com grande impacto potencial para recursos previdenciários.
O episódio representa uma distorção grave do papel de um banco público: em vez de atuar com prudência e foco no desenvolvimento regional, o BRB acabou sustentando artificialmente um banco privado em colapso. A liquidação do Master, embora mitigada pelo FGC, revela vulnerabilidades que podem se repetir caso falhas de governança e captura institucional não sejam enfrentadas com rigor.
A CPI em discussão no DF e as ações do MPF deverão aprofundar as responsabilidades individuais e coletivas, definindo até que ponto houve negligência, dolo, pressão política ou gestão temerária na condução das operações.

Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




