O ex-ministro Onyx Lorenzoni admitiu, nesta quinta-feira (06/11/2025), durante depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, que recebeu R$ 60 mil de Felipe Macedo Gomes, ex-presidente da Amar Clube de Benefícios, investigada por desviar dinheiro de aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A doação foi registrada durante sua campanha ao governo do Rio Grande do Sul, em 2022.
Questionado pelo relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), Onyx negou qualquer relação pessoal ou profissional com o empresário. Segundo ele, as contas de campanha foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS), e a doação ocorreu de forma regular, sem contrapartidas.
“Nunca pedi dinheiro para bandido”, declarou o ex-ministro, afirmando que desconhecia o histórico do doador.
Relator confronta ministro sobre nomeações e atuação do filho
O relator Alfredo Gaspar também questionou Onyx sobre a atuação de seu filho, Pietro Lorenzoni, advogado da União Brasileira de Aposentados da Previdência (Unibap), entidade investigada por envolvimento no mesmo esquema. O deputado sugeriu possível tráfico de influência devido à relação entre o advogado e o então ministro da Previdência.
Onyx negou as acusações e afirmou que o filho atua de forma independente:
“Ele tinha sociedade com um escritório em Porto Alegre e outro em Brasília. Não interferi em nada. Não sei quem são os contratantes dele.”
O ex-ministro também admitiu ter indicado José Carlos Oliveira — conhecido como Ahmed Mohamad Oliveira — para sucedê-lo no ministério em 2022, mas alegou que a nomeação foi decisão técnica de Jair Bolsonaro, baseada no histórico funcional de Oliveira no INSS.
Críticas a mudanças legislativas e defesa de gestão técnica
Durante o depoimento, Onyx criticou alterações promovidas pelo Congresso Nacional em medidas provisórias que, segundo ele, flexibilizaram controles sobre descontos associativos e facilitaram irregularidades no sistema previdenciário.
Negou, porém, conhecer os principais investigados pelo esquema de desvio — Antônio Carlos Camilo Antunes (“Careca do INSS”) e Maurício Camisotti — e defendeu sua gestão como “técnica e transparente”.
Senadoras cobram explicações sobre assédio a aposentados
As senadoras Leila Barros (PDT-DF) e Eliziane Gama (PSD-MA) confrontaram Onyx sobre decisões adotadas durante o governo Bolsonaro que, segundo elas, ampliaram o assédio comercial contra aposentados.
Leila citou o veto ao dispositivo da MP 871/2019, que proibia o uso de dados de beneficiários para marketing e crédito consignado, e o Decreto 10.537/2020, que aumentou o número de entidades autorizadas a realizar descontos em folha.
— “Depois de tudo que sabemos hoje, o senhor recomendaria esse veto diante da exposição dos dados dos aposentados?”, perguntou a senadora.
Onyx respondeu que a decisão foi “técnica”, com base na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Atuação do Ministério e acordos com entidades investigadas
A senadora Eliziane Gama também cobrou explicações sobre acordos de cooperação técnica (ACTs) firmados entre o INSS e entidades suspeitas, como a Amar Brasil e a Unibap, ambas investigadas pela Polícia Federal.
Onyx negou qualquer envolvimento direto do ministério nos convênios, afirmando que a responsabilidade era exclusiva do INSS.
O ex-ministro citou medidas de combate a fraudes implementadas durante sua gestão, como a MP 871, o Decreto 10.410/2020 e novas instruções normativas voltadas à modernização dos controles previdenciários.
Parlamentares pedem responsabilização e punição de envolvidos
O senador Izalci Lucas (PL-DF) afirmou que o INSS foi capturado por um esquema criminoso e defendeu a responsabilização de todos os envolvidos, independentemente de partidos ou cargos ocupados.
“Precisamos colocar atrás das grades todos os que roubaram bilhões dos aposentados”, declarou o parlamentar, pedindo maior rigor na investigação conduzida pela CPMI.
Lobby previdenciário e falhas regulatórias
O depoimento de Onyx Lorenzoni à CPMI do INSS expõe a complexa teia entre financiamento político, lobby previdenciário e falhas regulatórias. Embora o ex-ministro tenha se apoiado em argumentos técnicos e legais, as contradições entre o discurso e as consequências das medidas adotadas durante sua gestão reforçam questionamentos sobre a permeabilidade política do sistema previdenciário. A insistência em negar vínculos diretos com investigados não elimina o problema estrutural de relações opacas entre Estado, campanhas eleitorais e entidades privadas — um traço recorrente na administração pública brasileira.
*Com informações da Agência Senado.
Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




