MPBA apresenta nova denúncia contra deputado Binho Galinha por suposta continuidade em liderança de organização criminosa

O MPBA apresentou nova denúncia contra Binho Galinha por manter liderança de organização criminosa após a El Patrón. As operações Patrocínio Indigno, Fallen e Estado Anômico reforçam o conjunto probatório: obstrução de Justiça, braço armado, bloqueio de R$ 9 milhões e alienação antecipada de 45 imóveis. A ALBA manteve a prisão do deputado, mas enfrenta críticas por reação tardia e déficits de integridade na resposta institucional.
Ações do Gaeco/MPBA, Polícia Federal e Receita Federal compõem um arco investigativo que mira a rede atribuída a Binho Galinha, com bloqueios de bens, prisões e apreensões de provas digitais em operações como El Patrón, Estado Anômico, Fallen e Patrocínio Indigno.

O Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), apresentou nova denúncia contra o deputado estadual afastado Kléber Cristian Escolano de Almeida (Binho Galinha). Segundo o órgão, o parlamentar manteve o comando de uma organização criminosa sediada em Feira de Santana após a deflagração da Operação El Patrón e mesmo após o recebimento de denúncia anterior contra integrantes do grupo. A informação foi divulgada pelo próprio MPBA na sexta-feira (31/11/2025).

Nova acusação aponta continuidade de práticas ilícitas

A denúncia, oferecida na quinta-feira (30/10), descreve que o grupo — ativo há mais de uma décadaprosseguiu as atividades ilegais com o uso de “laranjas”, como Cristiano de Oliveira Machado, responsável por movimentação financeira e ocultação de bens. O MP sustenta que, sob comando direto de Binho Galinha, o esquema abrangeu jogos de azar, agiotagem, extorsão e lavagem de dinheiro.

O órgão registra que o deputado “manteve em funcionamento seus negócios ilícitos, em flagrante desrespeito às medidas cautelares impostas anteriormente”. Mesmo diante de restrições judiciais decorrentes da primeira denúncia, a organização adotou novas táticas para burlar investigações e preservar o fluxo de recursos ilícitos.

Atuação familiar e divisão hierárquica

As investigações apontam que Mayana Cerqueira da Silva, companheira do parlamentar, e João Guilherme Cerqueira da Silva Escolano, seu filho, tiveram papel central na manutenção das atividades. Mayana teria assumido rotinas administrativas do grupo, enquanto João Guilherme é acusado de ocultar e destruir provas, configurando embaraço às investigações.

Interceptações e relatórios policiais indicam que operadores financeiros subordinados ao parlamentar dividiam valores oriundos das operações ilícitas, repassando a maior parte a Binho Galinha. Em uma transação identificada de R$ 160 mil, R$ 155 mil teriam sido destinados ao deputado.

Alcance e composição da organização criminosa

Além do parlamentar, foram denunciados Mayana Cerqueira da Silva, João Guilherme Cerqueira da Silva Escolano, Cristiano de Oliveira Machado e outros dez integrantes. O MPBA descreve características milicianas na atuação do grupo, concentrada em Feira de Santana e com ramificações em outros municípios.

De acordo com os inquéritos das operações El Patrón e Estado Anômico, a rede é associada a lavagem de dinheiro, obstrução da Justiça, agiotagem, receptação qualificada, comércio ilegal de armas, usurpação de função pública, tráfico de drogas e jogo do bicho — um modelo empresarial ilícito robusto, resiliente e resistente à ação penal.

Histórico: operações e medidas patrimoniais

Esta é a terceira denúncia contra Binho Galinha no intervalo de um ano. Em dezembro de 2023 e fevereiro de 2025, o MPBA já havia denunciado o parlamentar no âmbito da Operação El Patrón, que mapeou estrutura financeira e esquemas de lavagem. Paralelamente, a Justiça determinou a alienação antecipada de bens apreendidos — 45 imóveis urbanos e rurais — para evitar depreciação e re-lavagem de ativos.

Operação Patrocínio Indigno (2024–2025). Desdobramento da El Patrón após indícios de destruição de provas digitais por um preso, seu advogado e a esposa. Foram cumpridas prisões e buscas em Feira de Santana e Serrinha; a denúncia foi recebida em fevereiro de 2025 e, em junho de 2025, quatro réus foram condenados por embaraço às investigações.

Operação Fallen (maio/2025). Ação de PF, SSP-BA (COGER/FORCE), MP e PM com mandados de busca contra policiais militares suspeitos de compor braço armado do grupo, ampliando o foco para extorsão, receptação qualificada e lavagem oriunda do jogo do bicho.

Operação Estado Anômico (outubro/2025). Executou nove prisões e bloqueio de R$ 9 milhões, mirando continuidade delitiva e empresas de fachada usadas para circular recursos ilícitos em Feira de Santana e Salvador. A ação contou com 100 policiais, 11 auditores e 3 analistas da Receita Federal.

Principais elementos probatórios

Estrutura e comando. Divisão de tarefas entre núcleo financeiro, operadores e braço armado, com familiares em funções administrativas.

Fluxo de valores. Pagamentos fracionados e contas de passagem; exemplo: de R$ 160 mil, R$ 155 mil teriam sido repassados ao parlamentar.

Obstrução e forense digital. Apagamento de mídias, destruição remota e coação sobre vestígios digitais.

Medidas patrimoniais. Bloqueios e alienação antecipada de 45 imóveis, além do bloqueio de R$ 9 milhões (2025).

Repercussão política e integridade institucional

Na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), o caso gerou pressão pública por respostas padronizadas a parlamentares investigados por crimes comuns. Após apresentação espontânea, o deputado foi preso, e a ALBA manteve a prisão, mas a reação tardia suscitou críticas sobre governança, transparência e compliance no Legislativo.

A cooperação interagênciasGaeco/MPBA, PF, Receita Federal e FORCE/COGER — consolidou boas práticas em investigações complexas: bloqueios patrimoniais precoces, alienação antecipada, cadeia de custódia de evidências digitais e integração pericial desde a fase inicial.

Intersecção persistente política local, economia subterrânea e aparato coercitivo

O caso expõe uma intersecção persistente entre política local, economia subterrânea e aparato coercitivo. A reincidência de denúncias e a continuidade operacional sob cautelares indicam governança criminosa adaptativa, com “compliance às avessas” para blindar fluxos financeiros e intimidar o ambiente probatório.
Do ponto de vista institucional, duas frentes são inadiáveis:

  1. Respostas legislativas céleres e protocolos claros para casos de crimes comuns envolvendo mandatários;
  2. Blindagem da segurança pública contra captura por redes econômicas ilícitas, com correções internas e auditorias independentes.
    No eixo patrimonial e digital, bloqueios tempestivos, alienação antecipada e cadeia de custódia rigorosa diminuem a capacidade de recomposição dos ativos e elevam o custo da criminalidade organizada.

Linha do tempo

  • 12/2023El Patrón: foco na cadeia de comando e lavagem; prisões e buscas.
  • 11/2024Patrocínio Indigno: obstrução e destruição de provas; prisões em Feira e Serrinha.
  • 02/2025 — Justiça recebe denúncia da Patrocínio Indigno; El Patrón tem denúncia reforçada.
  • 05/2025Fallen: PMs suspeitos de braço armado; mandados de busca.
  • 06/2025Condenações por embaraço (Patrocínio Indigno).
  • 10/2025Estado Anômico: 9 prisões e R$ 9 milhões bloqueados.
  • 10/2025MPBA ajuíza nova denúncia por continuidade delitiva contra Binho Galinha.

Leia +

Tudo sobre a Operação Estado Anômico: Fuga do deputado Binho Galinha, nove prisões executadas, bloqueio de R$ 9 milhões e conivência da ALBA com o Crime Organizado


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