Uma luz de liberdade | Por Luiz Holanda

Senador Rogério Marinho (PL-RN).
Senador Rogério Marinho (PL-RN).

O STF queria ser o protagonista da analise dos processos que, na prática, deverão estabelecer as regras para o uso das redes sociais, utilizando trechos do PL das Fake News agora incluídos na Resolução 23.732/24 do TSE para estas eleições. Possíveis modificações sobre as plataformas contendo mensagens consideradas desinformativas ou veiculadoras de fake News poderão ocorrer, já que, segundo o PL 2.630/2020, reproduzido na resolução acima descrita, poderiam ser removidas sem autorização judicial.

É bem possível que o Marco Civil da Internet, que estabelece que a remoção dessas mensagens só deve ocorrer com autorização judicial, seja desconsiderado, caso as regras sobre o assunto sejam estabelecidas pelo STF. Prevendo isso, o senador Marcos Rogério, reagindo a essa tentativa, apresentou uma emenda à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da liberdade de imprensa, a PEC 67/2023, apresentada pelo senador Rogério Marinho (PL-RN), cujo objetivo é garantir a liberdade de expressão no Brasil, protegendo o direito à informação e assegurando que jornalistas e veículos de comunicação possam atuar na fiscalização do governo e das instituições sem serem processados pela divulgação de entrevistas ou declarações de terceiros. O senador também busca expandir essa proteção para a internet.

A emenda visa garantir que as plataformas online como redes sociais e provedores de conteúdo, não sejam responsabilizadas por opiniões e informações postadas por usuários, desde que sigam os seus termos de uso. Segundo Marcos Rogério, “Em 2014, quando aprovamos no Parlamento o Marco Civil da Internet, atuamos para garantir a liberdade de expressão online sem censura. O modelo de responsabilização escolhido para a responsabilização dos provedores de internet por conteúdos e manifestações de terceiro foi feito de maneira equilibrada e sem fomentar a censura prévia (efeito resfriador)”.

A ideia da emenda é fortalecer um modelo garantindo que a população tenha mais acesso à informação por diferentes meios, além da mídia tradicional, podendo avaliar os fatos a partir de vários pontos de vista. Isso também inclui a possibilidade de recorrer à Justiça nos casos em que as plataformas não consigam resolver os problemas por conta própria.

Marcos Rogério busca garantir um equilíbrio entre a responsabilidade das plataformas e o direito de as pessoas acessarem informações de forma livre e diversificada. Segundo ele”Precisamos garantir que a internet continue sendo um espaço de liberdade, onde todos possam ter acesso à informação e expressar suas opiniões sem medo de censura. A emenda que eu apresentei busca proteger esse direito e, ao mesmo tempo, assegurar que as plataformas sejam justas e transparentes ao lidar com eventuais abusos”.

Somos o 3º país que mais perdeu liberdade de expressão nesses [últimos anos, ficando atrás somente de Hong Kong e do Afeganistão. Segundo Relatório Global de Expressão, documento anual da organização não-governamental de defesa e promoção do direito à liberdade de expressão e acesso à informação, o país teve redução de 38 pontos na escala do ranking global que reúne informações de 161 nações.

O número de ataques a jornalistas e meios de comunicação alcançou neste ano um patamar bastante expressivo, se comparado à década de 1990. Enfrentamos desafios no campo dos direitos humanos e da liberdade de expressão. Não avançamos em políticas de fortalecimento da comunicação popular, comunitária e independente. A violência contra defensores de direitos humanos, comunicadores e ambientalistas continua, além de um alarmante número de ataques direcionados às mulheres, comunidade LGBTQIAP+, povos indígenas e populações periféricas, cujas dificuldades de se expressarem e defenderem os seus direitos são enormes.

 No universo da política não é diferente, com o aumento da violência política de gênero e ausência de balizas claras em relação ao exercício do direito à liberdade de expressão por parte dos nossos tribunais superiores.  A atuação do Judiciário tem sido questionável e sem linha definida, gerando insegurança quanto ao exercício do direito de liberdade de expressão. Isso sem falar no campo das tecnologias digitais, onde as dificuldades são ainda maiores. Atualmente, o país vive uma realidade de perseguição aos meios de comunicação independentes, ataques a opositores e minorias religiosas, entre outras ações de cunho autoritário. Daí a PEC apresentada por Marcos Rogério, que não deixa de ser uma luz de liberdade.

*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.