Ex-presidente da Codevasf é acusado de obstruir investigação da PF; Veja a linha do tempo da Operação Overclean

O ex-presidente da Codevasf, Marcelo Andrade Moreira Pinto, foi acusado de tentar obstruir as investigações da Operação Overclean, que apura fraudes em contratos de pavimentação financiados por emendas parlamentares. As conexões políticas com o deputado Elmar Nascimento e o prefeito Elmo Nascimento, além da exoneração de um superintendente que denunciou irregularidades, reforçam a suspeita de uso político da estatal. O caso amplia o debate sobre governança, transparência e captura institucional.
Marcelo Andrade Moreira Pinto, ex-presidente da Codevasf, é citado pelo STF por tentativa de obstrução à Operação Overclean, revela UOL.

Reportagem de Natália Portinari, publicada no UOL nesta segunda-feira (15/09/2025), veio a público decisão do ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), que apontou que o ex-presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Marcelo Andrade Moreira Pinto, tentou obstruir a investigação conduzida pela Polícia Federal (PF) no âmbito da Operação Overclean.

A decisão se baseia em depoimentos e documentos que mostram que Marcelo buscou interferir nas apurações relativas a contratos de pavimentação em Campo Formoso (BA). O ministro autorizou seu afastamento do cargo, mas, como o executivo havia deixado a estatal semanas antes, a medida acabou sem efeito prático.

A Operação Overclean e o papel da Codevasf

A Operação Overclean foi deflagrada em 2022 e já se encontra em sua quinta fase. O foco das investigações é um esquema de fraudes em licitações, superfaturamento e desvio de verbas públicas em contratos municipais de pavimentação e limpeza urbana.

Segundo a PF, a organização criminosa atuava em parceria com empresas favorecidas em editais, entre elas a Allpha Pavimentações, que venceu obras financiadas com emendas parlamentares da Codevasf. Em Campo Formoso, o valor destinado ultrapassou R$ 40 milhões, provenientes do orçamento secreto, mecanismo de emendas de relator que inflou os recursos da estatal.

A Codevasf, originalmente criada para promover irrigação, combater a seca e impulsionar o desenvolvimento do semiárido, viu seu orçamento saltar de R$ 1,2 bilhão em 2019 para R$ 3,3 bilhões em 2022, sendo direcionado principalmente para pavimentação e aquisição de máquinas agrícolas com forte viés eleitoral.

Conexões políticas e influência de Elmar Nascimento

A apuração alcança o deputado federal Elmar Nascimento (União-BA) e seu irmão, Elmo Nascimento (União), prefeito de Campo Formoso. Ambos são apontados como beneficiários da destinação das emendas que resultaram nos contratos investigados.

Marcelo Andrade, segundo registros, foi indicado à presidência da Codevasf ainda no governo Bolsonaro por influência direta de Elmar e permaneceu no cargo durante parte do governo Lula. Depoimentos colhidos pela PF reforçam que ele atuava em sintonia com interesses políticos do parlamentar e de seu grupo.

Um dos pontos destacados foi a exoneração do ex-superintendente da Codevasf em Juazeiro, Miled Cussa Filho, que denunciou irregularidades em ofícios encaminhados aos órgãos de controle. Ele relatou ter sofrido pressão para recuar das denúncias e relatou episódio em que Marcelo sugeriu que se encontrasse com Elmar e Elmo “sem portar celular” para recompor confiança política. Dias depois, acabou afastado do cargo.

Tentativas de retaliação e novos indícios

O ministro Nunes Marques entendeu que a exoneração de Cussa teve caráter retaliatório e serviu para obstruir a apuração de ilícitos. Em sua decisão, destacou que a conduta do ex-presidente da estatal configurou risco concreto à lisura do processo investigativo.

A PF também interceptou mensagens de aliados políticos em que Marcelo era tratado como “nosso amigo” e “indicação nossa”, reforçando os vínculos com o grupo de Elmar Nascimento. Esses diálogos fortalecem a tese de que sua permanência na Codevasf servia para blindar contratos e manter a influência política sobre a execução de recursos.

Situação atual de Marcelo Andrade

Após deixar a presidência da Codevasf, Marcelo contribuiu para a nomeação de Lucas Felipe Oliveira, considerado seu braço-direito, como novo presidente da estatal. O nome contou ainda com o apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).

Paralelamente, Marcelo buscava retornar ao setor privado em posição executiva na Odebrecht, onde já havia trabalhado. Contudo, a Comissão de Ética Pública da Presidência (CEP) vetou a movimentação por conflito de interesses e determinou que ele cumprisse quarentena remunerada até dezembro, recebendo R$ 37 mil mensais.

A estatal sob pressão

A Codevasf tem sido alvo recorrente de críticas por se transformar em um instrumento político. O modelo de execução das emendas de relator tornou a estatal uma das principais portas de entrada para a destinação de verbas federais a municípios controlados por aliados políticos.

Especialistas em governança pública apontam que a ausência de mecanismos de transparência e rastreabilidade das emendas torna a estatal vulnerável a esquemas de corrupção e tráfico de influência. A Overclean, ao envolver gestores da Codevasf e parlamentares de destaque, amplia a pressão por uma reformulação de seu modelo administrativo.

Esquema com apadrinhados políticos

O episódio envolvendo Marcelo Andrade escancara as fragilidades da governança das estatais brasileiras. A Codevasf, criada com finalidades técnicas, foi convertida em instrumento de barganha política, revelando a erosão institucional provocada pelo uso das emendas como moeda de troca.

A tentativa de obstrução apontada pelo STF mostra como apadrinhados políticos podem manipular cargos estratégicos para neutralizar denúncias e proteger interesses de grupos parlamentares. Além disso, a manutenção do esquema ao longo de diferentes governos demonstra a natureza suprapartidária das práticas de captura da máquina pública.

A continuidade das investigações é crucial para medir a capacidade do Estado de reverter a captura de estatais, sob pena de perpetuar um sistema que favorece a corrupção estrutural em detrimento das finalidades originais das instituições.

Linha do tempo da Operação Overclean

Linha do tempo apresenta os principais marcos da Operação Overclean, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em cooperação com a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Receita Federal do Brasil (RFB). A operação tem como foco o combate a fraudes envolvendo emendas parlamentares, corrupção, lavagem de dinheiro e irregularidades em licitações em diversos municípios baianos.

Fase 1 da Operação Overclean – 10/12/2024

Início das investigações sigilosas

  • A PF, CGU e RFB identificaram movimentações financeiras atípicas ligadas a verbas federais provenientes de emendas parlamentares.
  • O levantamento preliminar apontou a existência de uma possível rede de empresas de fachada, contratos simulados e um esquema coordenado para fraudar licitações.

Fase 2 da Operação Overclean – 23/12/2024

Primeiras diligências operacionais e mandados judiciais

  • Cumprimento de mandados de busca e apreensão em residências e sedes de empresas investigadas.
  • Apreensão de documentos, contratos, computadores e dados bancários.
  • Indícios do envolvimento de agentes públicos municipais e da intermediação de recursos federais com pagamento de propina.

Fase 3 da Operação Overclean – 03/04/2025

Aprofundamento da apuração e ampliação dos alvos

  • Descobertos novos vínculos entre empresários, servidores públicos e operadores políticos.
  • Mapeamento de emendas parlamentares direcionadas a municípios específicos da Bahia.
  • Identificação de um padrão de fraudes estruturadas e recorrentes em processos licitatórios.

Fase 4 da Operação Overclean – 27/06/2025

Desarticulação do núcleo central do esquema

  • Deflagração simultânea em cinco municípios baianos: Salvador, Camaçari, Boquira, Ibipitanga e Paratinga.
  • Cumprimento de 16 mandados de busca e apreensão e 3 ordens de afastamento cautelar de servidores públicos.
  • Ação autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sinalizando possível envolvimento de agentes com foro privilegiado.
  • Investigações concentradas em desvios ocorridos entre 2021 e 2024, com destaque para as emendas destinadas a Boquira, Ibipitanga e Paratinga.

Fase 5 da Operação Overclean – 17/07/2025

Desarticulação de organização criminosa e bloqueio de bens

  • A PF, em conjunto com a CGU e a RFB, deflagrou a quinta fase da Overclean em Salvador, Campo Formoso, Senhor do Bonfim, Petrolina, Mata de São João e Brasília.
  • Foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão e determinada a suspensão cautelar de um servidor público, todos expedidos pelo STF.
  • O núcleo investigado manipulava procedimentos licitatórios e desviava recursos de emendas parlamentares destinadas a Campo Formoso (BA), mediante pagamento de propina, além de atuar na obstrução das investigações.
  • O STF determinou o bloqueio de R$ 85,7 milhões em contas de pessoas físicas e jurídicas investigadas, a fim de preservar ativos e assegurar reparação aos cofres públicos.
  • Crimes apurados: organização criminosa, embaraço a investigação, corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e contratos administrativos, e lavagem de dinheiro.
Linha do tempo da Operação Overclean (2024–2025) — A PF e o MPF desarticularam um esquema bilionário de fraudes em emendas parlamentares e contratos públicos. Em cinco fases, foram identificadas empresas de fachada, contratos simulados e sofisticada engenharia financeira para desviar recursos federais. As apurações atingiram prefeitos, vice-prefeitos, secretários, parlamentares e servidores, revelando conexões políticas e infiltração em órgãos de controle.
Linha do tempo da Operação Overclean (2024–2025) — A PF e o MPF desarticularam um esquema bilionário de fraudes em emendas parlamentares e contratos públicos. Em cinco fases, foram identificadas empresas de fachada, contratos simulados e sofisticada engenharia financeira para desviar recursos federais. As apurações atingiram prefeitos, vice-prefeitos, secretários, parlamentares e servidores, revelando conexões políticas e infiltração em órgãos de controle.

Leia +

Operação Overclean: PF aponta fraudes, emendas suspeitas e citações ao deputado Elmar Nascimento no STF


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.