Neste domingo (21/09/2025), milhares de brasileiros foram às ruas em 33 cidades, incluindo todas as capitais, para protestar contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia. As manifestações ocorreram em locais simbólicos como a Avenida Paulista (SP), a Esplanada dos Ministérios (DF), a Praia de Copacabana (RJ) e a Barra (Salvador-BA), reunindo artistas, sindicatos, movimentos sociais e lideranças políticas.
Os protestos, convocados por frentes como Brasil Popular e Povo Sem Medo, ligados ao PSOL e ao PT, tiveram forte adesão popular e cultural, transformando-se em atos de resistência contra o que os organizadores chamam de tentativa de “normalizar crimes contra a democracia”.
O epicentro em Salvador: trio elétrico, artistas e discursos políticos
Na capital baiana, o protesto concentrou-se no Morro do Cristo, na Barra, onde um trio elétrico comandado por Daniela Mercury animou milhares de pessoas. Ao lado da cantora, o ator Wagner Moura fez duras críticas à tentativa de anistia aos condenados do 8 de Janeiro, exaltando a força da democracia brasileira.
“Aqui na Bahia a extrema-direita não se cria. Sem bandidagem, sem anistia e sem esculhambação”, declarou Moura, em discurso aplaudido pelo público.
Também participaram do ato o rapper Baco Exu do Blues, que afirmou que “anistia é para oprimido, não para bandido”, além do Cortejo Afro, da atriz Nanda Costa e da percussionista Lan Lahn.
A presença de artistas como catalisador das manifestações
Além de Salvador, outros atos tiveram forte presença artística:
- Rio de Janeiro: shows anunciados de Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil em Copacabana.
- Brasília: o cantor Chico César encerrou a marcha com apresentação em frente ao Congresso Nacional.
- Belo Horizonte: a cantora Fernanda Takai, da banda Pato Fu, participou da concentração na Praça Raul Soares.
- Recife: o desfile do bloco Eu Acho é Pouco e grupos de maracatu deram tom cultural ao ato.
O engajamento de artistas reforçou a mobilização e ampliou a visibilidade nacional e internacional dos protestos.
PEC da Blindagem: a chamada “PEC da Bandidagem”
A PEC da Blindagem, aprovada recentemente na Câmara, propõe que processos judiciais contra deputados e senadores dependam de autorização do Congresso. Para críticos, a medida equivale a um escudo de autoproteção parlamentar, dificultando o combate à corrupção e à criminalidade política.
Cartazes exibidos durante os protestos traziam frases como “PEC da Bandidagem” e “Congresso Inimigo do Povo”, refletindo a insatisfação da população com o avanço da proposta.
O PL da Anistia e as negociações em curso
O PL da Anistia divide ainda mais o debate político. Parlamentares bolsonaristas defendem uma anistia ampla, capaz de perdoar o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão pelo STF por tentativa de golpe de Estado, organização criminosa e incitação à violência.
No entanto, o relator da proposta, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), articula uma versão intermediária que prevê apenas a redução de penas, em vez de perdão total. Essa saída tem apoio do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Segundo Paulinho, o projeto já não deve ser chamado de anistia, mas de “PL da Dosimetria”, para suavizar resistências no STF e entre setores moderados do Congresso.
Resistência no Senado e pressão política
Enquanto a Câmara busca acelerar a votação, o Senado tende a impor maior resistência. Davi Alcolumbre declarou ser contra uma anistia ampla e trabalha em uma versão alternativa de redução de penas.
Entretanto, líderes do PL, como Valdemar da Costa Neto, e senadores ligados a Bolsonaro, como Flávio Bolsonaro (PL-RJ), ameaçam obstruir votações caso a proposta não avance conforme seus interesses. A pressão política se intensifica, e governadores como Tarcísio de Freitas (SP), Cláudio Castro (RJ) e Romeu Zema (MG) já foram procurados por Paulinho da Força para influenciar suas bancadas.
Rejeição popular à anistia e à blindagem parlamentar
Pesquisas recentes reforçam a percepção de crise institucional. Levantamento Datafolha aponta que 54% dos brasileiros rejeitam a anistia a Bolsonaro, enquanto 39% a apoiam. A PEC da Blindagem também registra alta desaprovação popular.
Entre os manifestantes, cartazes criticavam diretamente o presidente da Câmara, Hugo Motta, com frases como “Centrão ladrão” e “Motta capacho”. O sentimento comum era de indignação contra medidas vistas como tentativas de impunidade parlamentar e autoproteção política.
Depoimentos de manifestantes
Diversos depoimentos reforçaram o tom de insatisfação:
- Keyla Soares, bancária (42 anos): “É ofensiva essa PEC. Eles só trabalham em defesa deles mesmos. Estamos lutando pela democracia.”
- Sara Santos, estudante (26 anos): “Depois da ditadura militar, não podemos aceitar anistia para quem tentou dar golpe de Estado.”
- Maria Lúcia de Souza, delegada aposentada (62 anos): “Bolsonaro sempre quis o golpe. Essa PEC é um insulto ao povo.”
- Albert Scott, servidor público (47 anos): “É inaceitável. É um retrocesso. O Brasil não pode tolerar blindagem para parlamentares.”
Impacto institucional e repercussões
O embate entre sociedade civil e Congresso acirra o clima de instabilidade política. A insistência em pautar a anistia ameaça aprofundar a divisão entre os poderes, sobretudo porque o STF já se manifestou contra o perdão de crimes contra a democracia.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou em entrevista que vetará qualquer anistia, mas o Congresso pode derrubar o veto. O impasse pode se tornar um novo teste de força entre Executivo e Legislativo em pleno ano pré-eleitoral.PL
Análise crítica
A mobilização nacional contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia revela a desconfiança da sociedade em relação ao Congresso e a crescente percepção de que setores da classe política buscam autoproteção diante da Justiça. A anistia a Bolsonaro é vista não apenas como uma medida de perdão, mas como um ataque direto à credibilidade do sistema democrático.
O simbolismo da participação de artistas reforça a conexão entre cultura e política, transformando os atos em manifestações cívicas de grande impacto social. O resultado é um confronto direto entre a voz das ruas e a lógica de bastidores do Congresso, cujo desfecho pode redefinir os rumos da política brasileira até 2026.
*Com informações da Agência Brasil, BBC Brasil e Poder360.
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