A LUTA DE CLASSES NA ESCOLA

Desde os tempos de minha formação acadêmica e quando do meu engajamento político-partidário no PT (pois é já fui petista de carterinha) já sabia da concepção de que a escola era considerada um mero reprodutor ideológico do sistema hegemônico vigente, Regina Leite Garcia, no seu texto: O Cotidiano Escolar: pista para o novo, revela esta tendência: A escola refletindo a estrutura social limitar-se-ia a reproduzir os valores, as habilidades, os comportamentos e as práticas sociais necessários à manutenção do status quo. Para diferentes classes e grupos sociais, diferentes conhecimentos (quantidade e qualidade), diferentes habilidades (para mando ou para obediência), legitimando a cultura dominante e preparando de forma diferenciada para a força de trabalho (de acordo com a classe social, com a raça e o gênero).

No entanto, avaliando as implicações da minha ação em denunciar o desmantelo da Rede Pública Municipal de Ensino de Feira de Santana, a partir da minha visão privilegiada do “chão” da sala de aula da escola municipal que trabalhei e que fui expulsa por ter revelado que a situação não estava tão boa por lá, sou obrigada a rever esta concepção, afinal eu tenho agora dois elementos que me permitem construir novos paradigmas para avaliar o fracasso escolar: não aceito o papel de funcionária do estado a serviço dos interesses capitalistas que esmagam e subalternizam a classe trabalhadora, da qual me reconheço como uma orgulhosa integrante e que qualquer escola, e o Ana Maria Alves dos Santos não foge a regra – é um espaço de micro poder. A combinação destes dois elementos me revela que na escola há uma permanente luta de classes e, Regina Garcia assim expressa: “onde estão em permanente conflito os interesses de grupos dominantes e a luta emancipatória de grupos subalternizados”.

Por isso, a defesa antes velada e agora escancarada da Secretaria de Educação em dar apoio à ação intempestiva e grosseira da diretora de ter me expulsado da escola em questão por considerar que eu estava lhe causando problemas (estou sabendo que esta ainda continua reinando por lá, naquelas terras arrasadas, foi reeleita no último pleito – se não me engano, cumpre seu terceiro mandato consecutivo, nem os mandantes do poder executivo goza de tal regalia.) sustenta esta tese e, Raimundo Faoro, aponta esse fato como uma artimanha dos “Donos do Poder” que joga uma classe contra a outra e, até mesmo colegas se digladiam entre si, de um lado – os professores inconformados (oh, infelizmente, lá nesta escola, há tão poucos) – aqueles que recusam a cultura do fracasso escolar e buscam conhecer as suas engrenagens; aqueles que crêem no seu papel social e sabem que esta é que mantém a margem os nossos alunos de qualquer benefício que a escolaridade possa lhe auferir, inclusive de se reconhecerem cidadãos; àqueles que entendem este fracasso é também seu e, do outro lado – aqueles professores que se acomodam e resumem a desempenhar as funções que a burocracia oficial determina.

PROFESSORA IARA MARIA FERRIERA BATISTA, FEIRA IX, 25, FONE 3226-5794

Estes últimos não se importam em fazer o papel que cabe ao órgão gestor do ensino no gerenciamento de insumos e recursos: “pagam e compram as suas merendas e as das confraternizações, as xéroxs de textos para seus alunos, pagam até pelo seu material – do giz, pincel atômico para quadros brancos, a ESPONJA para apagar o quadro, o papel ofício e ainda, contribuem para festinhas das mães, pais, dia do estudante, dia disso e daquilo…” como bem mencionou a Esmeralda Rocha, que me ajudou ao tecer seus comentários neste blog.

A luta de classe travada no seio da escola pública consagra os DONOS DO PODER como vitoriosos.. Recordo-me de Brecht no seu texto – Elogios à Dialética: “Os tiranos fazem planos para dez mil anos. O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são”.

Claro que não continuará, pois “aqueles que buscam no coletivo a troca, pois sabem que contribuem para a construção de uma competência docente participativa, sem que, não há mudanças significativas na escola” (in Garcia).

…Há esperanças.

Depois de falarem os dominantes

Falarão os dominados

Quem, pois ousa dizer:

Nunca?

De quem depende que a opressão

Prossiga?De nós. De quem depende de que ela acabe? Também de nós. Bertolt Brecht

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