Dos meados para o fim dos anos 70, na praça João Pedreira, um menino com sonhos de liberdade, escondido das ordens, no fundo do palanque, admirava aquele ícone que ia se aquecendo como um atleta, que arrumando sua boina, apagando sua piteira, enchia o peito para soltar sua voz e seus ideais levando aos montes, esperança e aço de que os dias seriam outros, que os ares seriam outros, que a tirania perderia força e que a vitória seria do povo…
A voz potente, olhos afiados e firmes, braços em movimento, barbas nunca de molho, silenciava a multidão imprimindo uma atenção tal, que até “Zabumba”, “Alô” e “Nisseto”
firmavam as visadas em sua direção…
Em cada frase e cada pausa, em movimentos coreográficos denunciava os golpeadores,
se alinhava aos oprimidos, impunha coragem e convicção levando a luta de ideais ao porvir do discurso e aos corações da sua gente, que ao lado de Chico renovava a resistência.
Ao fim do ato, fidelidade, liderança, confiança, paixão e aplausos: “tá com Pinto, ou tá com medo?”, cantava a multidão!
Pela frente do palanque, Pinto se jogava aos braços do povo, uma apoteose ideológica em marcha libertária contra a ditadura, “China” e “Uai” abrindo passagem e aos cantos de saudação e afirmação, lá vai o povo carregando seu líder de volta ao casarão branco da Avenida de Penumbras, muito similares à época, onde dona “Pombinha” sua mãe, já estava esperando com portas e janelas escancaradas, para os companheiros madrugarem em escritas de uma história que a Feira nunca vai esquecer.
Assim, guardo Francisco Pinto, como referência e iniciador de uma resistência que se modela e permanece como farol de um menino e uma geração que nele teve uma das primeiras companhias na tendência popular e o levará com suas próprias palavras: “Não existem derrotas definitivas para a liberdade”.
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