Bytes não precisam de caneta. Será o fim da escrita? | Por Décio Nascimento

Por Toni Carvalho

Os processos comunicacionais entre os indivíduos tiveram início a partir de gestos e sons, há muito tempo. Esses sons logo se transformaram em sinais mais específicos para diferentes situações, e assim nasceu a fala. Mas aí – como sempre – surgiram outras demandas, era necessário que essa comunicação falada ganhasse portabilidade e que pudesse ser guardada de alguma forma. A partir de tal necessidade surgiram diferentes formas de expressões gráficas: desenhos pintados, símbolos cunhados e tantos outros recursos que a evolução permitiu nascer. A portabilidade, ou seja, a possibilidade de levar a informação registrada de um lugar para outro se deu principalmente com o advento da escrita, o que possibilitou também um registro teoricamente eterno do que fosse dito por alguém. Quem cunhou os primeiros símbolos, registrou os primeiros mitos e dogmas teria imaginado o quanto a escrita significaria para a história da humanidade? Mal sabiam que a história propriamente dita tinha início justamente com o advento da escrita.

O século XX foi especialista na extinção em alta velocidade. Nunca tanta coisa e tantos costumes sumiram e com tanta rapidez. E foi justamente neste século – que passou – que demos início a um enfraquecimento brutal do hábito da escrita. Atualmente para muita gente a caneta só está presente no dia-a-dia quando se precisa fazer anotações corriqueiras e, mesmo assim, só se o celular estiver com a bateria descarregada ou esquecido em algum lugar. As letras L, H,T e B na mesma altura e todos os “Is” com o famoso e quase sempre sumido “pingo” nunca foram unanimidade, mas hoje são raríssimos. Até os pingos nos “Is” estão lá porque aparecem automaticamente quando pressionamos as teclas, já os acentos ainda são encobertos pelos famosos erros de digitação, que quase sempre justificam a ortografia deficiente. Posso economizar muitos argumentos aqui, apenas sugerindo que o leitor analise o nosso cotidiano e pense no quanto usava-se a escrita até o final da década de noventa do século XX e no quanto dependemos dela hoje.

Em tempos de telas sensíveis ao toque, já existe quem nem queira mais saber de digitação e mouse. A preguiça é sem dúvida uma das faculdades humanas que mais impulsiona o avanço das tecnologias. O que diremos então da escrita? Vai continuar decaindo? Defendo que as pessoas poderiam ser alfabetizadas primeiro digitando, assim não se teriam duas preocupações ao mesmo tempo: a de reconhecer o que está escrito e a de aprender a desenhar as letras. Seria uma coisa de cada vez, ainda que na prática isso já venha acontecendo em alguns camadas da sociedade, muitas crianças estão tendo acesso ao computador antes das aulas de escrita na escola. Estamos invertendo um processo, e talvez aos poucos substituindo um pelo outro. Sou então obrigado a fazer um questionamento inevitável: será esse artigo produto de um apego a algo que logo será extinto de forma natural e sem ninguém perceber? Sim, pode até ser, talvez seja perfeitamente natural que daqui a algum tempo ninguém escreva mesmo, talvez tudo não passe de um apego, talvez…

Atualmente até o e-mail está ficando para trás, pelo menos entre os jovens, que já o acham um tanto quanto burocrático demais. A instantaneidade de orkuts e messengers não requer mais a paciência de uma espera pela resposta do destinatário. O e-mail tem mais utilidade entre a juventude como um requisito para “logar” em comunicadores instantâneos e comunidades virtuais, que exigem o endereço eletrônico no cadastro e na hora de acessá-los. Tempo real é a chave de qualquer negócio hoje em dia, principalmente quando se trata de comunicação. Com os novos rumos que se apontam, uma boa caligrafia se tornará cada vez mais rara. Tente você mesmo lembrar da ultima vez em que viu alguém escrevendo lindamente aquela informação de forma cursiva sobre uma folha pautada. Logo, comandos de voz deverão fazer toda a comunicação necessária com interfaces de acesso e registro de informações. A tecnologia necessária para isso já não é novidade e, pode ser ultrapassada quando alcançarmos a imitação de “sobrenaturalidades” como a telepatia. Não duvide se novidades como essa estiverem estampadas na capa da próxima revista ou site que você tiver acesso. Escreva… aliás… digite o que estou dizendo.

Toni Carvalho é monitor da disciplina Tecnologia da Informação, do curso de Comunicação Social da UNEB – Universidade do Estado da Bahia, Campus XIV – Conceição do Coité-BA.

 

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