Hoje deixei a aula de Psicologia do Desenvolvimento sentindo certa frustração. Este sentimento não apareceu apenas pelo fato de ao deixar a sala de aula ter percebido que o dia que havia começado ensolarado dera espaço a uma tempestade, com ventos fortes. O que me deixou decepcionado foi ter concluído que apesar de já ter ouvido tantas vezes que “não podemos mudar as pessoas” ainda insisto em fazer isto.
A última vez em que tentei mudar alguém foi na noite passada. Conheci Mark a pouco tempo e desde o primeiro momento em que conversamos em uma fila de aeroporto, ele se mostrou bastante sincero. Depois de algum tempo de conversa eu já sabia que ele havia recentemente se divorciado e que todo o processo de separação o havia ferido indizivelmente, e a ferida ainda doía.
Dias depois nos falamos por telefone e combinamos de jantar juntos. Nos primeiros minutos a conversa foi leve e comentamos sobre nossas atividades recentes. Todavia, ao mencionar os acertos que ainda precisava fazer no apartamento novo, ele falou de sua ex-esposa e contou-me sobre as discussões, o modo como ele deixou a casa e a tristeza por um casamento de apenas quatro anos ter terminado assim.
Durante os 50 minutos em que Mark partilhou sua vida, tentei fazer algumas perguntas para melhor entender a situação e também fiz o esforço para não assumir sua defesa imediatamente, pois o que eu estava conhecendo desta história era a versão dele. A ex-esposa dele certamente tem outra versão igualmente interessante.
Desde aquela noite decidi que daria um apoio emocional a Mark. Desde então nos falamos quase todos os dias. Na última vez que conversamos, interrompi o fluxo da conversa para fazer algumas sugestões: ir à academia, visitar mais os familiares etc. Quando terminei minha pequena lista de conselhos, ele ironicamente disse: “Sim, papai!”, e sorriu. Fiquei constrangido…
Hoje, durante a aula de Psicologia do Desenvolvimento, enquanto discutíamos porque é tão difícil para as pessoas mudarem atitudes e comportamentos, minha professora repetiu diversas vezes que não podemos mudar as pessoas. Ela também nos recordou que mudanças profundas demoram e que geralmente acontecem quando algo muito importante entra em jogo. Esta fala e mais a última conversa que tive com Mark me fez perceber minha tendência de direcionar as pessoas.
Agora, depois de mais uma vez ter conversado rapidamente com Mark, percebo que o que ele mais precisa no momento não são os meus conselhos ou dicas, apesar de toda minha boa intenção. Talvez o que ele simplesmente precise seja de alguém com quem se abrir e por quem possa se sentir apoiado a dar os passos necessários no caminho para si mesmo.
Não podemos mudar as pessoas, mas podemos apoiá-las para que assumam suas próprias mudanças, apesar dos embates que toda mudança criativa provoca. Afinal, o caminho que trilhei é diferente, pelo menos em significado, do caminho que você percorrerá.
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