Em entrevista, os diretores da CENAFERT falam sobre técnicas de reprodução assistida e afirmam que casais contam com tratamento avançado

Simone e Silene Portugal ao lado de Joaquim Lopes. Diretores da CENAFERT utilizam avançadas técnicas de fertilização para ajudar casais com dificuldades em reproduzir.
Simone e Silene Portugal ao lado de Joaquim Lopes. Diretores da CENAFERT utilizam avançadas técnicas de fertilização para ajudar casais com dificuldades em reproduzir.

Com exclusividade, Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia (JGB), entrevista os diretores da CENAFERT (Centro de Medicina Reprodutiva), primeira clínica especializada em reprodução humana do interior da Bahia. Dividida em três partes, foram entrevistados os ginecologistas Joaquim Lopes e Simone Portugal, além da bióloga Silene Portugal.

Os diretores falaram sobre os principais problemas de fertilização existentes no sexo feminino e masculino, sobre as técnicas médicas de tratamento, tabus e dificuldades. Eles foram uníssonos ao falar do objetivo da CENAFERT: “trazer a felicidade para muitos casais que se expressa pelos nascimentos dos filhos” afirmam.

Entrevista com  Joaquim Roberto C. Lopes

JGB – O CENAFERT está há dois anos em Feira de Santana. Além, de Feira de Santana em quais outras cidades o centro atua?

Joaquim Lopes – Nós estamos em Salvador. Meu filho é que tem uma clínica em Brasília. Mas, o CENAFERT é que está em Salvador e Feira de Santana.

JGB – O senhor atua há quantos anos na área de reprodução humana?

Joaquim Lopes – Na área de reprodução humana eu atuo desde 1977. Foi quando a gente abriu a primeira clínica focada na área de reprodução humana. Evidentemente, que quando nós começamos ainda não tinha nascido o primeiro bebê de proveta que nasceu em 1978.

A tecnologia naquele momento era uma tecnologia bem elementar. Nós assistimos e acompanhamos toda essa evolução. Hoje, estamos disponibilizando, no Cenafert, tudo que há de mais moderno em termos de tecnologia na área de reprodução humana assistida. Com isso, hoje, já são milhares de crianças nascidas com essas técnicas modernas.

JGB – Então, estamos falando de uma técnica moderna que já está presente em Feira de Santana.

Joaquim Lopes – Sim, com certeza. A técnica de reprodução assistida está, hoje, com 30 anos. Assim, não sei se podemos dizer que ela é tão nova. Só que a técnica de fertilização in vitro sofreu evoluções. Nós diríamos que a primeira geração que foi a de 1978 é uma geração extremamente elementar e artesanal.

Hoje, os tratamentos tornaram-se muito mais amplos, um leque muito mais aberto e consequentemente se consegue resolver o problema de um universo de homens e mulheres muito maior. Com isso é possível dizermos hoje que poucos casais estão com as portas fechadas para realizar o seu sonho de ter um bebê.

JGB – Existe algum estudo que aponte recorrências de dificuldades na reprodução assistida em pessoas de determinadas regiões? O senhor poderia apontar entre o público que o senhor atende em Salvador e em Feira de Santana quais seriam os tipos de problemas mais recorrentes que inibem a reprodução natural?

Joaquim Lopes – Nós chamamos infertilidade quando um casal tenta obter a gravidez sem usar qualquer medida anticoncepcional e não está evitando também as relações sexuais, tendo um curso normal das relações sexuais e a gravidez não surge com um ano. Então, esse casal tem problema de fertilidade.

Então, dentro desse contingente de cada 100 casais o problema de fertilidade em 40% está sediado no homem, 40% nas mulheres, sendo que, às vezes 20% dos casais têm problemas conjuntos.

Esses problemas variam de acordo com a religião. Isso se a gente for analisar a nível mundial por exemplo. Se chegarmos na África onde as doenças sexualmente transmissíveis são muito incidentes, inclusive o HIV. Veremos que as doenças sexualmente transmissíveis são a principal causa de infertilidade, que leva a obstrução das trompas.

Aqui não. Ela já tem uma tendência menor de existir e aqui segue seguramente, um percentual mais ou menos de 30% as causas ligadas à infecção das trompas. Nós temos isso entre as mulheres. Outras causas frequentes ainda nas mulheres são a endometriose, os problemas de ovulação. No homem, são as alterações no espermograma podem estar ligadas ao fumo, a varicocele e a uma série de outras variações que podem coexistir até mesmo com atividades profissionais. Por exemplo, homens que trabalham com produtos químicos e são tóxicos podem ter a agressão do espermatozoide. Nós temos uma série de situações. Mas, em síntese 40% dos problemas estão no homem, 40% nas mulheres e 20% no casal.

JGB – O JGB lhe agradece pela entrevista e deixa com o senhor as palavras finais.

Joaquim Lopes – É um prazer, realmente, estar comemorando os dois anos do Cenafert em Feira de Santana. Comemoramos, exatamente, o motivo da nossa existência em Feira de Santana: trazer a felicidade para muitos casais que se expressa pelos nascimentos dos filhos. E hoje tivemos muitas crianças participando desta festa o que nos deixou extremamente feliz.

Entrevista com Simone Portugal Silva

JGB – Você poderia nos falar sobre a sua especialização em reprodução humana.

Simone Portugal – A minha especialização é na área de reprodução assistida e é uma área que vem crescendo muito a atenção sobre ela. A reprodução humana envolve tanto o planejamento familiar quanto às técnicas de reprodução assistida no sentido de ajudar as pacientes e os casais com dificuldades em engravidar.

Antigamente, se focava muito na questão do planejamento familiar, pela questão de estarmos num país ainda em desenvolvimento e ter-se a preocupação com o nascimento de um grande número de bebês. Isso há muitos anos atrás. Hoje em dia, o avanço das técnicas de reprodução assistida, a conscientização das mulheres no sentido de que existem meios para que se consiga engravidar, sendo que ao ter dificuldades praticamente todos os problemas podem ser resolvidos por meio da técnica de reprodução assistida.

Então, é uma área que vem crescendo muito. Há mais de 30 anos que já existe a técnica de reprodução assistida e hoje em dia as pacientes estão mais esclarecidas neste sentido e nós temos ajudado muito as pessoas.

JGB – Em dois anos de atuação do Cenafert, a senhora já conseguiu fazer com que quantas crianças, por meio da técnica de reprodução assistida, nascessem?

Simone Portugal – Estamos com 24 crianças nascidas e 18 crianças que estão chegando.

JGB – Existe algum tipo de preconceito quando a mulher ou o homem procura esse tipo de assistência?

Simone Portugal – Eu acredito que isso já existiu com maior frequência. Hoje, as pacientes que nos procuram são pacientes bastantes esclarecidas, sendo a questão um assunto que está sendo muito discutido. Por conta do esclarecimento e da discussão alguns mitos vão sendo extintos.

A mulher, realmente, tem deixado para engravidar mais tarde, ela tem algumas prioridades na vida dela mais cedo e geralmente essas pacientes conseguem com as técnicas resolver esse sonho, essa questão que ficou postergada. Porém, o que acontece é que a sociedade que não convive com esse problema tem receio em falar sobre o assunto.

No caso dos homens eles vão ao centro e acompanham as esposas e mesmo quando a mulher não tem problema e ele já sabe que tem, eles vão e já vão conscientes de que é uma coisa natural fazer o tratamento para os casais que têm dificuldade em engravidar.

JGB – As pessoas costumam comentar que durante o processo de assistência para que o casal consiga ter o filho ocorre a possibilidade de ter gêmeos. O que tem de mito e o que tem de verdade nesse comentário?

Simone Portugal – Na realidade, realmente, existe um aumento da gemelaridade por que no tratamento há uma estimulação ovariana em ciclos naturais, sendo que na grande maioria dos ciclos, a paciente ovula apenas um óvulo. O óvulo amadurece e, portanto ocorre uma gravidez que pode se dividir ou não ou pode fecundar dois óvulos.

Com as técnicas de reprodução assistida a gente faz com exista um estímulo no recrutamento desses óvulos. Então, por conta disso aumentam as chances de gemelaridade, sendo que hoje em dia não temos presado à quantidade de bebês, mas o filho vivo em casa. Então, a nossa preocupação é que a paciente engravide, tenha uma gravidez tranquila não tendo uma gravidez de risco que é representada pela gravidez gemelar ou trigemelar.

JGB – O Jornal Grande Bahia agradece a sua entrevista e deixa com a senhora as últimas palavras.

Simone Portugal – Nós estamos, hoje, confraternizando com os nossos pacientes, sendo o nosso principal objetivo a felicidades desses casais. Nossa felicidade é essa estar com eles aqui festejando e podendo ajudar a nossa sociedade e o nosso meio a realizar os seus sonhos.

Entrevista com Silene Portugal S. Souza

JGB – Existe a possibilidade do casal escolher o sexo da criança?

Silene Portugal – Existe. Mas, aqui no Brasil isso ainda não é permitido. É o que chamamos de sexagem. Assim, a igreja, o Conselho Nacional de Medicina, como a própria ética proíbem. No exterior, em alguns centros, isso é aplicado legalmente. No Brasil isso é proibido.

JGB – Existem várias publicações que falam da existência de técnicas que possibilitam verificar se a combinação de um óvulo, de um espermatozoide para criar uma criança saudável. Essa técnica que evita que a criança nasça com doenças congênitas é possível em Feira de Santana?

Silene Portugal – Essa técnica é chamada de diagnóstico pré-implantacional. É um diagnóstico de DNA que é feito antes da própria implantação do embrião no organismo da mulher. Pois, bem. Em quais casos isso é feito? Isso não é feito aleatoriamente em todo tipo de tratamento, apenas em casos que o pai, a mãe ou a família de um dos pais apresente um problema hereditário recorrente.

Então, nestes casos, quando a paciente chega ao centro e que é diagnosticado que existe essa possibilidade de ter um problema congênito transferido a gente recorre à técnica de diagnóstico pré-implantacional. Nós fazemos isso, além de outras técnicas mais avançadas.

A ciência está aí para ajudar, a cada dia que passa, novas técnicas são lançadas no mercado e temos que aproveitar tudo isso, justamente, para trazer segurança ao casal. Pois, não é só procurar o centro fazer o bebê e resolvido o problema. Não. O mais importante para a gente é ter o bebê em casa vivo e saudável.

JGB – O homem que tenha feito vasectomia ainda pode ter um filho dele mesmo?

Silene Portugal – Pode. Ele pode ter o filho por duas técnicas. Ou uma reversão de vasectomia ou a fertilização em vitro. Na fertilização em vitro o médico que acompanhar o paciente vai programar uma biopsia e ao invés dele liberar espermatozoide via canal normal esse espermatozoide vai ser coletado diretamente dos testículos.

JGB – Com a mulher acontece a mesma coisa ao ter feito uma laqueadura?

Silene Portugal – Pode a mulher também. Agora tem alguns problemas. A reversão de laqueadura é um tratamento muito caro. E existem vários estudos que mostram que tanto a reversão de laqueadura quanto à vasectomia podem não ter sucesso, havendo um percentual de sucesso.

Aos casais que procuram o centro para fazer esse tipo de tratamento, geralmente a equipe médica orienta, imediatamente, um tratamento de fertilização em vitro por quê? Porque o gasto vai ser semelhante, sendo que na fertilização em vitro a chance de se conseguir i bebê desejado vai ser muito mais garantida do que na reversão. Às vezes, após a reversão o paciente tem de aguardar um ano, dois anos, três anos para ver se houve resultado na reversão. Assim, muitos casais não estão dispostos a fazer a reversão, gastar um valor alto para depois de três anos saber se houve resultado.

JGB – No caso do homem existe a coleta do espermatozoide e no caso da mulher o óvulo pode ser coletado?

Silene Portugal – Pode. Ainda no ovário. O estímulo que o médico faz, estímulo ovariano, faz com que ela produza folículos em quantidade X e no dia programado, especificado pelo médico, de acordo com as medicações que ela usa e com toda monitoração ecográfica, no dia específico no centro cirúrgico essa coleta é feita. O médico retira dela todos os folículos, sendo que dentro desses folículos estão os óvulos. Depois esses óvulos são manuseados e na sequência são selecionados os óvulos e espermatozoides para seguir com a fertilização.

JGB – Você foi a idealizadora e é também responsável pela gestão do centro. Você se sente realizada?

Silene Portugal – Muito realizada. Eu já venho de um trabalho desde Brasília, já faço parte da equipe do Dr. Joaquim desde Brasília, desde 2000. Lá realizávamos um trabalho com pessoas de baixa renda, depois viemos para Salvador e, nos últimos dois anos, estamos atuando em Feira de Santana. Para mim em particular e creio que também para toda equipe é a nossa realização maior é o sonho desses casais. Saber que de alguma forma podemos ajuda-los nesse sentido.

Costumo dizer que para os casais, que seria inútil o nosso trabalho se não fosse a esperança e perseverança deles, sendo que uns conseguem na primeira tentativa, outros na segunda, outros na terceira, sendo que eles não desistem. Então, a nossa realização é completa, principalmente, quando vemos tantos bebês nascidos.

JGB – A equipe do JGB agradece e deixa com a senhora as últimas palavras.

Silene Portugal – Parabéns. Quero dizer que não só a equipe, como a cidade de Feira de Santana, de modo geral, a mídia que nos dá sempre a oportunidade de esclarecer alguns mitos, que para a sociedade de Feira de Santana ainda são muito fortes, não por serem novos, mas por serem desconhecidos realmente.

Assim, com a ajuda da mídia conseguimos esclarecer muitas coisas e ajudar a sociedade de forma geral, bem como na realização de um sonho que não é só da mãe e do pai, são dos médicos que indicam as pacientes porque confiam no nosso trabalho e na nossa vontade querer ajudar sempre.

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Sobre Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia 10933 artigos
Carlos Augusto é Mestre em Ciências Sociais, na área de concentração da cultura, desigualdades e desenvolvimento, através do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Ensino Superior da Cidade de Feira de Santana (FAESF/UNEF) e Ex-aluno Especial do Programa de Doutorado em Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atua como jornalista e cientista social, é filiado à Federação Internacional de Jornalistas (FIJ, Reg. Nº 14.405), Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ, Reg. Nº 4.518) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI Bahia), dirige e edita o Jornal Grande Bahia (JGB), além de atuar como venerável mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Maçônica ∴ Cavaleiros de York.

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