O Mestre viveu entre nós. 24 de abril, mahasamadhi de Bhagavan Sri Sathya Sai Baba | Por Juarez Duarte Bomfim

Benção de Sai Baba aos devotos.
Śri Sathya Sai Baba

Certo dia, o pai do misterioso menino Sathyanarayana Raju, lhe perguntou:

— Quem é você?

O menino Sathya colheu algumas flores e as jogou ao chão. As flores formaram as seguintes palavras em télegu (língua local):

— Eu sou Sai Baba, que significa “Mãe e Pai Divinos”.

Em 23 de novembro de 1926, nasceu Sathya Sai Baba, numa pequena vila no sul da Índia, chamada Puttaparthi.

O seu advento foi cercado de prodígios. Os instrumentos musicais de sua modesta casa tocaram maviosas canções, celebrando a descida à Terra do Avatar (Encarnação Divina).

É dito que no dia seguinte ao seu advento, o grande mestre indiano Sri Aurobindo entrou em transe e declarou:

— Shiva desceu à Terra!

Esse enigmático menino desde pequeno se destacava entre os demais, pela sua devoção a Deus e os prodígios que realizava. Na sua pequena aldeia ainda existe uma tamarineira de onde ele extraia qualquer fruta que seus amiguinhos desejassem. Essa “árvore dos desejos” hoje é local de peregrinação devocional e de rogos.

Sai Baba inicia o seu apostolado ainda criança (1940), quando, ao retornar mais cedo da escola joga os livros no chão, frente à sua cunhada, e anuncia:

— Eu sou Sai Baba. Vou partir. Maya (a ilusão) saiu de mim e meus devotos estão me esperando. Não posso ficar nesta casa nem mais um instante.

Desde então, vários prodígios acompanharam a missão deste Avatar (Encarnação Divina) que viveu para a caridade. O seu lema é: “a todos amar, a todos servir”.

O primeiro homem inglês que visitou a vila de Puttaparthi — durante a colonização britânica — foi um suboficial de Divisão do Exército, chamado Horsley. Voltava para casa, depois de ter caçado à tiros um tigre. O seu carro quebrou ao cruzar o arenoso rio Chitravati. Moradores do lugar o aconselharam a pedir ajuda ao jovem mestre que vivia ali perto.

Frente ao inglês, Sai Baba lhe comunica que havia matado à uma tigresa, e que seus três famintos filhotes estavam chorando. Disse-lhe que precisava retornar ao lugar da caça e levar as crias a algum zoológico e que, a partir de então, deveria parar de matar à tiro os animais.

Sai Baba deu vibuthi (cinza sagrada) ao suboficial inglês, para que o espalhasse em volta do veículo. Horsley fez como o indicado e seu automóvel andou. Impressionado com os acontecimentos, se deu conta de seu erro. Nunca mais voltou a usar arma de fogo, seguiu as instruções de Baba e recolheu os filhotes de tigre, e presenteou a pele da tigresa ao Avatar. Esta pele ornamenta até hoje o solo onde está situada a cadeira de Sai Baba, no Mandir (Templo) do Ashram Prashanti Nilayam.

Quem divulgou o mestre espiritual indiano para o mundo foi o escritor australiano Howard Murphet, no seu livro “Sai Baba – O Homem dos Milagres”, que chegou ao Brasil pela tradução de um ilustre devoto, o Professor Hermógenes. Profícuo em enumerar os prodígios realizados por Baba, o livro de Murphet é leitura obrigatória àqueles que desejam saber quem é Swami Sathya Sai Baba.

Sobre os milagres que realizava, o Avatar dizia que:

— Algumas vezes, para revelar quem sou, eu mesmo mostro a vocês meu ‘cartão de visitas’, algo que vocês chamam de milagre.

Frase semelhante havia usado Jesus:

— Se, porventura, não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis.

Sai Baba foi Deus na Terra? Essa pergunta era repetida inúmeras vezes. A qual ele respondia:

— Eu Sou Deus, mas vocês também o são; a diferença é que eu sei disso e vocês não!

Em um passado distante, os judeus tentaram matar Jesus, dizendo-lhe:

— Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.

Respondeu-lhes Jesus:

— Não está escrito na vossa lei? Eu declarei: ‘vós sois deuses, todos vós sois filhos do Altíssimo’.

Também disse Jesus, profetizando sobre aqueles que viriam em seu nome:

— Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai.

Assim, 2.000 anos depois veio à Terra Sathya Sai Baba, para nos mostrar a nossa natureza divina.

Jesus Cristo e Sai Baba vieram ao mundo para revelar a essência divina em nós mesmos, e nos reconduzir à casa do Pai.

Divaldo Franco e Sai Baba

Além do Professor Hermógenes, quem muito contribuiu para difundir no meio espiritualista brasileiro este mestre indiano foi o médium e orador espírita Divaldo Franco.  Atendendo a um convite de Hermógenes, Divaldo foi à Índia conhecer pessoalmente Bhagavan Sri Sathya Sai Baba, o mestre que ele, Divaldo, tinha invocado espiritualmente, algumas semanas antes, durante uma crise de angina, que lhe apareceu e socorreu.

Em sua frente, quando abençoava (darshan) os presentes, Sai Baba lhe falou:

— Já nos conhecemos.

E o convidou para uma audiência privada, isto é, com alguns poucos visitantes.

Nestas audiências, Sai Baba costumava materializar objetos e presentear os seus devotos e visitantes com anéis, cordões de ouro, pulseiras etc.

Sai Baba perguntou a Divaldo Franco:

— Você crê que Eu Sou Deus?

Humildemente, Divaldo lhe respondeu:

— Swami, de onde eu venho Deus não se manifesta desta forma.

Sathya Sai Baba apontou para o coração doente de Divaldo Franco e repetiu três vezes em télugu, sua língua natal:

— Deus! Deus! Deus!

Quando Divaldo voltou ao Brasil, e realizou os exames periódicos do seu gravíssimo problema cardíaco, os médicos não atestaram mais nenhum problema, nenhuma doença. O notável orador espírita está encarnado até hoje, muito saudável em idade provecta.

Amar a todos. Servir a todos

Buscadores espirituais do mundo inteiro tentam entender o mistério: quem foi Sai Baba?

O Avatar respondia:

— Vocês não precisam perder tempo tentando compreender a mim e à minha natureza. Compreendam o que eu ensino, e não ‘quem’ é o professor, pois estou além de seu intelecto e de sua shakti (porção do poder divino no indivíduo). Vocês irão me compreender apenas através do meu trabalho.

E qual foi o trabalho (missão) de Sathya Sai Baba? Bem, para entender, vamos fazer um breve relato da sua trajetória: em 1950 os seus seguidores (devotos) indianos iniciaram a construção do Ashram Prashanti Nilayam — que significa “a Morada da Paz Suprema”. Em 1960, o movimento foi institucionalizado na Organização Sathya Sai Baba, e se ramificou pelo mundo.

Os ensinos de Sai Baba são supra-religiosos. É ilustrativo que o seu dístico reúna os símbolos das cinco grandes tradições religiosas do mundo: cristianismo, islamismo, budismo, zoroastrismo e hinduísmo.

No cotidiano do Ashram de Puttaparthi, se irmanam pessoas de todos os credos, todas as religiões: hinduístas, budistas, mulçumanos, cristãos, judeus, sikhs, parsis… Um amigo baiano comparou Prashanti Nilayam à uma ONU espiritual. Todos vêm ouvir a mensagem deixada pelo Mestre Sai Baba, que ele sintetizava: “só há uma religião, a Religião do Amor”.

E o amor de Sai Baba pelos semelhantes se realiza através de uma grande rede de serviços para a caridade, administrada pela Organização Sai, que envolve hospitais, escolas de ensino fundamental e médio, faculdades e a universidade Sai. Todos esses serviços são gratuitos e disponíveis especialmente para os mais necessitados.

A Organização Sai desenvolve projetos de erradicação da pobreza no sul da Índia, que já beneficiou milhões de pessoas, que foram atendidas por acesso à água potável em suas residências e áreas de plantio.

As organizações Sai pelo mundo buscam realizar, dentro das suas possibilidades, ações de promoção social nas áreas de saúde e educação.

O movimento Sai se destaca particularmente no campo educacional, pois Sai Baba foi criador de um paradigma pedagógico: Educação em Valores Humanos, adotado pelo governo indiano na rede oficial de ensino.

São cinco os pilares da Educação em Valores Humanos: amor (prema), verdade (sathya), paz (shanti), retidão (dharma) e não-violência (ahimsa).

Na Índia, gerações e gerações de jovens se graduam nas faculdades e Universidade Sai para prestarem serviço público e privado, imbuídos da ética universal de praticar o bem e servir ao próximo, moralizando a administração pública e o setor privado daquele país.

Porém, a principal missão de Bhagavan Sri Sathya Sai Baba foi de nos reconduzir a Deus, despertar o divino que reside em nós. Para que possamos conquistar a felicidade e a paz.

— Se você deseja Deus, terá que desenvolver a sagrada qualidade do Amor. Somente através do amor você estará apto a experienciar Deus, que é o próprio Amor, dizia o Mestre.

Em 24 de abril de 2011, Bhagavan Sri Sathya Sai Baba abandonou o seu corpo físico (Mahasamadhi) e viajou para a eternidade.

Significativo para muitos devotos baianos é que, na data do seu Mahasamadhi, Domingo da Ressurreição, concluíamos um curso de EVH — Educação em Valores Humanos — e, satisfeitos, receberíamos os nossos diplomas. Feliz coincidência foi saber que o dia 24 de abril foi declarado “Dia de Educação em Valores Humanos”, e a Missão educativa do nosso Mestre se tornou também a nossa missão: disseminar o amor (prema), verdade (sathya), paz (shanti), retidão (dharma) e não-violência (ahimsa).

Quando o Divino Mestre Bhagavan Sri Sathya Sai Baba abandonou o seu corpo físico (Mahasamadhi), isto comoveu a todos nós.

Porém, Ele a todo instante nos preparou para este momento. Busquemos conforto refletindo nas suas palavras:

— Eu não Sou o corpo, Sou o Morador Interno. Vocês devem ter fé inabalável e forte, sem qualquer traço de dúvida.

Por isso, hoje não é dia de lamentarmos a morte física do nosso Mestre espiritual, e sim de festejarmos a felicidade que foi de tê-lo entre nós.

Alegrai-vos irmãos.

Jesus Cristo está entre nós.

Senhor Shiva está entre nós:

Bhagavan Sri Sathya Sai Baba.

Jay Sai Ram!

No Guru Purnima de 2009, a Lua do Guru, 300 brasileiros cantaram para Sai Baba. Eu e minha amada consorte, Cecilia Maringoni, estávamos lá.

*Juarez Duarte Bomfim, sociólogo e mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em Geografia Humana pela Universidade de Salamanca, Espanha; e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

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Baiano de Salvador, Juarez Duarte Bomfim é sociólogo e mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em Geografia Humana pela Universidade de Salamanca, Espanha; e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Tem trabalhos publicados no campo da Sociologia, Ciência Política, Teoria das Organizações e Geografia Humana. Diversas outras publicações também sobre religiosidade e espiritualidade. Suas aventuras poético-literárias são divulgadas no Blog abrigado no Jornal Grande Bahia. E-mail para contato: juarezbomfim@uol.com.br.