Presidente Jair Bolsonaro nega interferência na PF e diz que Sérgio Moro pediu indicação ao STF em troca da nomeação de diretor-geral da PF

Sergio Moro e Jair Bolsonaro, em registro de 2018.
Sergio Moro e Jair Bolsonaro, em registro de 2018.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) depôs nesta quarta-feira (03/11/2021) à Polícia Federal a respeito do inquérito que investiga suposta interferência na corporação, conforme denúncia do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro.

Segundo reportagem da BandNews TV, durante as perguntas e respostas, o presidente da República confirmou pedidos de trocas nas superintendências da PF no Rio de Janeiro e de Pernambuco, mas alegando “falha de interlocução” e questões de “baixa produtividade”, sem intenção de “obter informações sigilosas de investigações ou de interferência de trabalhos”

Ao delegado Leopoldo Soares Lacerda, Bolsonaro disse que pediu a Moro para que o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, fosse trocado em 2019 “em razão da falta de interlocução que havia entre o presidente da República e o diretor da Polícia Federal”.

Segundo o depoimento, Bolsonaro afirmou que “não havia qualquer insatisfação ou falta de confiança com o trabalho realizado pelo DPF Valeixo, apenas uma falha de interlocução”. Por isso, sugeriu a Moro a indicação de Alexandre Ramagem, “em razão da sua competência e confiança construída ao longo do trabalho de segurança pessoal do declarante durante a campanha eleitoral de 2018”.

O presidente afirmou que Moro teria concordado com a troca de Valeixo por Ramagem, “desde que ocorresse após a indicação do ex-ministro da Justiça à vaga no Supremo Tribunal Federal”.

Perguntado sobre a reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando afirmou que a PF não dava a ele informações, o presidente afirmou que se referia “a relatórios de inteligência sobre fatos que necessitava para a tomada de decisões e nunca informações sigilosas sobre investigações”. Além disso, alegou desconfiar de vazamentos de informações para a imprensa.

Cobranças a Moro

Durante o depoimento, Bolsonaro deixou claro também que cobrou Sergio Moro a respeito de determinadas investigações. Entre elas, a da facada que recebeu durante campanha eleitoral em 2018, na cidade de Juiz de Fora (MG).

De acordo com o documento, o presidente “cobrou do ex-ministro Sergio Moro uma investigação mais célere e objetiva sobre o atentado que sofreu”, e “não observou nenhum empenho do ex-ministro Sergio Moro em solucionar o assunto”.

Bolsonaro ainda cobrou Moro a respeito da investigação a respeito do porteiro do condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro, onde tem casa.

Segundo um funcionário do local, o ex-policial Elcio Queiroz, um dos suspeitos de assassinar a vereadora Marielle Franco (PSOL) em 2018 teve a entrada autorizada no condomínio em 14 de março daquele ano, mesmo dia do crime. Ronnie Lessa, outro suspeito do crime, também tem casa no local.

À época, um porteiro do local disse que a entrada de Queiroz foi autorizada por “senhor Jair”, mas um laudo atestou que o porteiro em questão não foi o mesmo que estava na portaria no momento da entrada do ex-policial. Além disso, Bolsonaro estava em Brasília no dia do assassinato.

No depoimento, Bolsonaro disse que “também cobrou do ex-ministro Sergio Moro um maior empenho na investigação sobre as declarações do porteiro do condomínio da sua residência no Rio de Janeiro”, e que “também não observou nenhum empenho ou preocupação do ex-ministro Sergio Moro em solucionar rapidamente o caso.

Além disso, afirmou que “soube pelo ex-ministro Sergio Moro que foi aberta uma investigação na Polícia Federal e que foi constatado um equívoco por parte do porteiro”.

Jair Bolsonaro confirmou ainda no depoimento que pediu a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro a partir de agosto de 2019, “porque o estado do Rio de Janeiro é muito complicado e entendia que necessitava de um dirigente da Polícia Federal local com maior liberdade de trabalho”. Na época, Carlos Henrique Oliveira de Sousa assumiu o posto de Ricardo Andrade Saadi.

O presidente afirmou que “conheceu o DPF Carlos Henrique em uma reunião ocorrida no gabinete da Presidência quando ele foi indicado para assumir a Superintendência do Rio de Janeiro”. O sucessor, no entanto, foi exonerado em abril de 2020 – o presidente negou ter sugerido a mudança.

Em março de 2020, Bolsonaro ainda pediu a Moro que trocasse a superintendência da PF em Pernambuco. No depoimento, alegou que pediu a troca “em razão da baixa produtividade local” e “pelo fato da então superintendente ter, anteriormente, assumido o cargo de secretária estadual de Pernambuco, o que não daria a isenção necessária nos trabalhos locais”.

Bolsonaro afirmou que “jamais sugeriu a mudança da gestão local com o intuito de obter informações sigilosas de investigações ou de interferência de trabalhos de Polícia Judiciária”.

Operação Furna da Onça

Em dezembro de 2018, um relatório de 422 páginas do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que havia sido anexado pelo MPF à investigação que originou a Operação Furna da Onça deu destaque a um ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro).

Então deputado estadual pelo PSL, Flávio passou a ser investigado pela suspeita de desvio de R$ 1,3 milhão, no que ficou conhecido com o escândalo das “rachadinhas”. Ex- ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno afirmou à época que teria conversado com o presidente sobre o uso dos filhos em manobras políticas.

O empresário Paulo Marinho, ex-aliado de Bolsonaro, chegou a afirmar que a família do presidente recebeu informações da operação em 2018, antes da eleição. O presidente, em depoimento, afirmou “que não soube previamente nada sobre a operação Furna da Onça, antes da sua deflagração”, e “que todo assunto sobre essa operação, ficou sabendo através da imprensa”.

Alegou ainda que “conheceu Paulo Marinho através de Gustavo Bebianno”, e que Paulo Marinho nunca repassou a ele informações que “teria recebido de um delegado de Polícia Federal da SR-PF-RJ sobre a Operação Furna da Onça”.

Questionado sobre o que entenderia por “interferência política” na Polícia Federal, Bolsonaro citou “pedidos políticos e não técnicos, de gestores de órgãos públicos com a intenção de haver influência política sobre os trabalhos desenvolvidos pelo órgão”.

Além disso, alegou que “jamais teve qualquer intenção de interferência política na Polícia Federal quando sugeriu ao ex-ministro Sergio Moro a alteração na gestão da Direção Geral ou em Superintendências Regionais”, e que “sempre respeitou e respeita a autonomia da Polícia Federal e que entende que mesmo com a alteração de dirigentes de unidades da PF não é possível interferir nas investigações em razão do sistema penal brasileiro e na cultura organizacional enraizada na instituição”.

*Com informações da BandNews TV.

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