Raízes da violência contra entregadores remontam à herança escravista, aponta pesquisador

Entregador baleado no Rio de Janeiro evidencia questões estruturais que remontam ao passado escravista, segundo pesquisador.
Entregador baleado no Rio de Janeiro evidencia questões estruturais que remontam ao passado escravista, segundo pesquisador.

O recente caso de Nilton Ramon de Oliveira, um entregador baleado por um cliente policial militar no Rio de Janeiro, desvela questões profundas que remontam à história escravista do Brasil, argumenta Leonardo Dias Alves, mestre em política social e professor da Universidade de Brasília (UnB).

Segundo o pesquisador, apesar da abolição da escravidão há mais de um século, alguns princípios que regiam as relações raciais e laborais persistem. A exploração da força de trabalho escrava baseada no controle e na violência continua a reverberar nos dias atuais, marginalizando a população negra em espaços de trabalho subvalorizados e sujeitos à violência.

Dias Alves ressalta que a violência contra entregadores, predominantemente negros, é uma manifestação do racismo estrutural na sociedade brasileira. Ele aponta para a necessidade de uma mudança de consciência coletiva e para uma atuação mais incisiva das plataformas digitais, como o iFood, na promoção de políticas antirracistas e na garantia da segurança dos trabalhadores.

Entregadores de aplicativo sofrem violência e discriminação, revela pesquisa

O dia a dia dos entregadores de aplicativo é marcado por episódios de agressão, ofensas e humilhação, revela uma pesquisa realizada com trabalhadores do Rio de Janeiro e São Paulo, as duas maiores cidades do Brasil. O recente caso do entregador Nilton Ramon de Oliveira, baleado por um cliente policial militar, traz à tona uma realidade de violência e desrespeito enfrentada por esses profissionais.

O desentendimento entre Nilton e o cliente, que resultou em um disparo de arma de fogo e deixou o entregador gravemente ferido, expõe a vulnerabilidade desses trabalhadores diante de situações de conflito. O iFood, plataforma para a qual Nilton prestava serviços, reforçou que os entregadores não têm a obrigação de subir até o apartamento dos clientes, mas sim realizar a entrega no primeiro ponto de contato, como portões ou portarias.

De acordo com Leonardo Dias Alves, mestre em política social, as raízes da violência contra entregadores remontam ao passado escravista do país. O tratamento desrespeitoso e discriminatório enfrentado por esses profissionais reflete uma estrutura social que marginaliza a população negra, colocando-os em situações de vulnerabilidade e risco.

Além da violência física, os entregadores enfrentam discriminação e desrespeito por parte de alguns clientes, que os tratam de maneira inferiorizada e exigem serviços além do estabelecido. Rafael Simões, entregador em Niterói, relata que muitos clientes confundem os entregadores com garçons, esperando que subam até seus apartamentos para realizar a entrega, mesmo quando não é obrigatório.

A falta de direitos trabalhistas e a pressão por produtividade são outros fatores que contribuem para a vulnerabilidade dos entregadores. Edgar Francisco da Silva, presidente da Associação dos Motofretistas de Aplicativo e Autônomos do Brasil (AMABR), ressalta que a busca por eficiência e o aumento da competição entre os trabalhadores podem levar a situações de conflito e desrespeito por parte dos clientes.

Diante desse cenário, a iFood implementou uma central de apoio jurídico e psicológico para oferecer assistência aos entregadores vítimas de discriminação e violência. No entanto, é necessária uma abordagem mais ampla para garantir a proteção e os direitos desses profissionais, incluindo a criação de políticas que assegurem um ambiente de trabalho seguro e respeitoso.

*Com informações da Agência Brasil.

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