O medo da violência – O medo da morte: O poder do Estado em risco | Por Ivandilson Silva

A violência cotidiana mudou nossos hábitos, a arquitetura de nossas casas, a cidade onde vivemos, tudo enfim ao nosso redor. Nossos medos mais ancestrais estão aflorados, motivados, também, pelo tratamento que a mídia oferece. O terror televisivo acaba contribuindo para a materialização de uma prática estressante de cuidados com a segurança pessoal. Embora, muitas vezes, não aprofundado, o medo da morte por conta da violência urbana assumiu a proporção de debate popular, expresso tanto na conversa, como na pauta das instituições que compõem a sociedade.

As respostas a este fenômeno têm-se mostrado múltiplas e diversas, abrangendo uma gama de medidas, nos mais variados níveis: coletivo, individual, estatal. As pessoas se armam, cercam suas casas, pagam segurança privada, organizam passeatas pedindo paz, os políticos apresentam projetos de lei no Congresso para que o Governo implemente um programa nacional de segurança mais eficaz.

A violência é um traço tão marcante das sociedades contemporâneas que Arendt (1993, p.13) propõe uma: “Reconsideração da condição humana à luz de nossas mais novas experiências e nossos temores mais recentes”.

Parece que tudo nos provoca medo e insegurança como afirma o saudoso sociólogo e um dos maiores especialistas em violência urbana da Bahia (meu mestre) Gey Espinheira (2001, p.08) que: “Há uma sensação generalizada que se vive em um período em que a violência está sem controle…” Isso acaba corroborando as análises de Arendt (2001, p.44) que: onde a violência aparece, o poder está em risco, mas, deixada a seu próprio custo, ela conduz à desaparição do poder.

As periferias são exemplos típicos dessa ausência de poder. O Estado que é um poder “coletivo” reconhecido institucionalmente pela sociedade democrática, não se faz presente no atendimento aos principais serviços como: saúde, educação, saneamento, segurança. Essa ausência de poder nos bairros periféricos, provoca a expansão da violência nos seus mais diversos graus: tráfico, roubos, brigas, assassinatos, repressão policial.  As populações dessas localidades vivem com o pânico cotidiano de serem alvos de algum tipo de ação que resulte na sua morte ou no óbito de algum familiar.

A opção por um modelo de Estado resistente ao investimento em áreas sociais, faz com que o cidadão se dê conta que seu papel na sociedade vale menos que as leis de mercado. O drama de quem não tem acesso a uma verdadeira política de segurança pública é terrível e assustador.

Hoje, a violência é uma das questões que mais tem preocupado a sociedade brasileira. Isso se explica pelos seus efeitos deletérios sobre a qualidade de vida da população, assim como sobre o desenvolvimento sócio-econômico do país. A morte é temida por todos, mas é também, assistida diariamente nas ruas, nos confrontos entre polícia e bandidos, nos assaltos, nos diversos tipos de brigas e disputas e nas telas de TV que continua com a overdose de notícias de sangue e dor por toda parte do mundo. O pior de tudo isso é que a verdade não pode ser escondida, a violência é um fato/atitude global e local e todos somos parte desse processo.

O Estado brasileiro e principalmente, o baiano corre um sério risco de perder a sua autoridade (que não é autoritarismo) se não pautar de forma prioritária a discussão política com a sociedade sobre a segurança pública. É preciso discutir com representantes de associações de moradores, com a mídia (televisões, jornais, rádios, internet), integrantes das policias civil e militar, especialistas em violência urbana das universidades e as Secretarias de Segurança Pública, de Justiça e Direitos Humanos. Todos podem ajudar, mas o Estado não pode se ausentar.

Referências

ARENDT, Hannah. Sobre a Violência. Trad. André Duarte. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2001.

ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Trad. Roberto Raposo. 6ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993.

ESPINHEIRA, Gey. Sociabilidade e Violência na Vida Cotidiana de Salvador [8-16] In Bahia Análise & dados, V. I (1999). Salvador: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, 2001.

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