Queridos leitores, escrevi este texto em 2004. Por acaso, hoje o reencontrei e decidi partilhá-lo com vocês. Algumas coisas mudaram. O sentimento, talvez, ainda seja o mesmo.
Hoje percebi claramente o bem que pude fazer a dois de meus amigos da universidade e me pus a pensar sobre amizade, sobre a escuta atenta, a pergunta pertinente, a confiança da partilha… Pensando nisso não vi tanto a mim, mas a meus amigos, minhas amigas que de diversas formas me estenderam a mão em algum momento de fragilidade. Ao lembrar dessas pessoas e desses eventos senti por todo o meu ser tranquilidade e gratidão. Gratidão por notar por notar que o céu de minha vida está repleto de estrelas, cada uma delas com nome e rosto próprios e também um modo muito específico de tocar meu rosto com sua luz.
Pensando em meus amigos como estrelas, percebi que na noite de minha vida, estrelas que antes brilhavam intensamente, agora parecem menores, distantes, brilhando tenuemente. Uma vez mais listei seus nomes. São os amigos e amigas que marcaram algum momento de minha história, mas que pelas novas situações que a vida nos apresentou distanciaram-se de mim. Interessante que o primeiro passo para este distanciamento foi o afastamento geográfico. Por mais que troquemos e-mails ou nos falemos ao telefone, a intensidade de nossas relações diminuiu. Entretanto, quando reencontro alguns destes me sinto inteiramente à vontade, como se o tempo e a distância nada tivessem causado. Ao contrário, quando nos encontramos, todos os fatos ocorridos, com cada um, servem de pretexto para estarmos juntos e rirmos de nós mesmos.
Há outros que encontro raramente, e percebo que já não há muito vínculo entre nós. Há pouco pão para ser partilhado e os caminhos a serem percorridos já não são os mesmos.
Também existem aqueles que há anos não vejo e que possivelmente não mais reencontrarei, dos quais levo boas lembranças e saudades. Quem sabe numa dessas noites de céu estrelado, dando-me um pouco de tempo e a devida tranquilidade para contemplar cada um desses astros possa enxergar algumas dessas estrelas e deixar-me iluminar por elas.
Seguia em meus pensamentos questionando-me sobre o que pessoas tão diferentes, de lugares tão distantes tinham em comum, tentei algumas respostas, mas elas pareciam demasiadamente frágeis… Todavia, foi ao sentir o sol no meu rosto e perceber seus efeitos sobre a natureza, sobre as pessoas e em mim mesmo, que pude concluir rapidamente e com clareza que a mais importante característica de todas essas estrelas é que elas com suas luzes despertam em mim o desejo pela luz do sol. São exatamente estas estrelas maiores ou menores, mais ou menos brilhantes que semeiam em meu coração o desejo pelos novos amanheceres.
Os amigos que conquistei e que me conquistaram são estas estrelas que não me deixam perdido nas trevas, pois me presenteiam com sua luz. E mais, mesmo tendo ou não consciência do poder que têm sobre mim, eles simplesmente não me deixam preso à noite, me acompanham na espera pelo sol.
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