Jornalista afirma que ACM foi ‘o preposto da ditadura militar na Bahia’

João Carlos Teixeira Gomes, Walter Pinheiro e Ernesto Marques participaram de audiência pública da Comissão Estadual da Verdade - Bahia.
João Carlos Teixeira Gomes, Walter Pinheiro e Ernesto Marques participaram de audiência pública da Comissão Estadual da Verdade - Bahia.

O ex-redator-chefe do Jornal da Bahia, jornalista João Carlos Teixeira Gomes (Joca) disse hoje (21/05/2015) que “após o golpe de 1964 houve o bloqueio da capacidade de você expressar seu pensamento” e ressaltou que “foi uma época trágica, da qual não se pode esquecer”.

Ao depor na Comissão Estadual da Verdade – Bahia, em audiência pública realizada na sede da Associação Baiana de Imprensa (ABI), Joca recordou a “perseguição sistemática” que o Jornal da Bahia sofreu de Antonio Carlos Magalhães, “o preposto da ditadura militar na Bahia”.

Luta pela democracia

A audiência foi aberta pelo presidente da ABI e membro da Comissão Estadual da Verdade, Walter Pinheiro, que destacou “a importância da atuação de João Carlos Teixeira Gomes para o restabelecimento da plenitude democrática no país”.

O coordenador da CEV- Bahia, Jackson Azevedo, também ressaltou a importância da luta de Joca pela liberdade de imprensa e falou sobre o trabalho da Comissão da Verdade, lamentando “a falta de apoio do Governo do Estado, pois hoje estamos até sem sala para trabalhar”.

João Carlos Teixeira Gomes esteve na linha de frente de uma guerra travada por Antonio Carlos Magalhães contra o Jornal da Bahia, com a intenção de destruir o veículo. A luta de seis anos, que teve início em 1969, pós-Ato Institucional nº 5, colocou “Joca” no banco dos réus de um tribunal militar.

Em seu depoimento, Joca lembrou as diversas fases da Censura à imprensa durante a ditadura militar: “Primeiro, foram soldados do Exército com metralhadora dentro do Jornal da Bahia, quando censuraram a manchete do jornal na madrugada de 1º de abril de 1964, depois veio a figura do censor na Redação e finalmente as proibições chegavam em tirinhas de papel enviadas pela Polícia Federal”.

O Jornal da Bahia foi fundado em 1958, pelo militante comunista João Falcão. Veículo progressista, ligado à esquerda, foi fortemente perseguido por Antônio Carlos Magalhães, que suspendeu toda a publicidade oficial, pressionou empresários para que não anunciassem e usou meios jurídicos para desmoralizar o jornal, que criou o slogan “Não deixe esta chama se apagar”, obtendo o apoio da população para que não sucumbisse às dificuldades financeiras. O Jornal da Bahia circulou até 1994.

“Nutrido pela  ditadura”

Em janeiro de 2001, João Carlos Teixeira Gomes lançou o livro “Memórias das Trevas – Uma devassa na vida de Antonio Carlos Magalhães”, que vendeu 25 mil exemplares em apenas seis dias.

“Levei quatro anos sem conseguir publicar o livro, pela covardia de editoras brasileira”, disse Joca.

Na época do lançamento do livro, revelou, em entrevista à revista “ISTOÉ”, que ACM “foi criado e nutrido pela ditadura, velho perseguidor de desafetos, jornalistas e jornais”.

Na mesma entrevista, descreveu assim “Memórias das Trevas”: “Canalizei para o livro a traumática experiência de quem enfrentou ACM durante seis anos consecutivos, de 1969 a 1975, quando ele,  então prefeito de Salvador e governador da Bahia – biônico em ambos os casos – tentou esmagar o Jornal da Bahia, do qual eu era redator-chefe, e me lançar na cadeia, usando a Lei de Segurança Nacional. Ele queria ser meu carrasco. Não conseguiu. Resisti até o fim e o derrotei”.

Membro da Academia de Letras da Bahia, João Carlos Teixeira Gomes escreveu ainda três livros de poesias, ensaios literários sobre Camões e Gregório de Matos, o “Boca do Inferno”, e uma biografia do cineasta Glauber Rocha.

Vinculada ao gabinete do governador, a Comissão Estadual da Verdade –  Bahia tem o objetivo de apurar e esclarecer violações aos direitos humanos cometidas por agentes públicos entre os anos de 1946 e 1988, principalmente as violações ocorridas durante a ditadura militar, de 1964 a 1985. No momento, a CEV-BA prepara o relatório final para ser divulgado em agosto próximo.

João Carlos Teixeira Gomes, Walter Pinheiro e Ernesto Marques participaram de audiência pública da Comissão Estadual da Verdade - Bahia.
João Carlos Teixeira Gomes, Walter Pinheiro e Ernesto Marques participaram de audiência pública da Comissão Estadual da Verdade – Bahia.
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