O próximo round da luta de poder na Venezuela

Presidente Nicolás Maduro e o deputado Juan Guaidó.
Presidente Nicolás Maduro e o deputado Juan Guaidó.
Presidente Nicolás Maduro e o deputado Juan Guaidó.
Presidente Nicolás Maduro e o deputado Juan Guaidó.

“A luta pelo poder entre Guaidó e Maduro é exatamente como a maior luta de boxe de todos os tempos”, diz o cientista político venezuelano Luis Salamanca, se referindo à disputa pelo título mundial dos pesos pesados entre George Foreman e Muhammad Ali em Kinshasa em 1974. “É uma batalha cansativa, num clima extremamente explosivo, com papeis claramente definidos”, compara.

Para Salamanca, Juan Guaidó é Ali, que levou à lona um exausto Foreman no oitavo assalto, após passar a maior parte da luta pressionado nas cordas pelo adversário. Já Nicolás Maduro é George Foreman. “Ele era um gigante de imensa força, mas também um pouco desajeitado.”

A luta de poder na Venezuela deve durar muito tempo, e está em aberto em qual assalto ela será definida, segundo a análise do cientista político. E sempre há a possibilidade de um soco bem colocado decidir a questão. A vantagem de Guaidó: assim como Ali em Kinshasa, o autoproclamado presidente da Venezuela tem a maior parte da população a seu lado.

Guaidó quer retornar a Caracas ainda nesta semana. Após uma passagem pelo Brasil nesta quinta-feira (28/02), onde se encontrou com o presidente Jair Bolsonaro, ele embarcou para o Paraguai, onde foi agendada uma reunião com o presidente Mario Abdo Benítez para esta sexta-feira.

Salamanca vê Guaidó como um fenômeno: “Maduro foi dormir num dia de janeiro e, quando acordou, na manhã seguinte, tinha diante de si Guaidó, como saído do nada. E esse homem ainda está destruindo sua revolução bolivariana.” O cientista político considera a ascensão fulminante de Guaidó semelhante à de Hugo Chávez, no final os anos 1990, o que vê como uma ironia da história.

Salamanca afirma que Guaidó teve seu batismo de fogo como presidente interino nas últimas semanas. “Ele é o homem certo, na hora certa, no lugar certo”, avalia o especialista. Maduro daria um passo em falso caso prendesse Guaidó, afirma. “Existem os erros pequenos, os erros médios e os erros enormes. Se ele tocar no governo Guaidó, cometeria um erro enorme, porque Guaidó agora é uma figura política mundial.”

Maduro ameaçou Guaidó com sanções penais caso retorne a Caracas após seu giro pela América. “Ele não pode simplesmente ir e vir, o Judiciário proibiu-o de deixar o país”, disse Maduro em entrevista à emissora americana ABC. Guaidó ignorou a proibição de saída da Venezuela e apareceu na sexta-feira passada no concerto beneficente para a Venezuela em Cúcuta, na Colômbia.

A ameaça de Maduro, por sua vez, gerou reações internacionais: os EUA deixaram claro que não aceitarão a detenção de Guaidó. O ministro do Exterior da Colômbia, Carlos Holmes Trujillo, afirmou que qualquer violência contra Guaidó “criaria uma situação internacional que exigiria ação conjunta”.

Para o jurista Jesús Ollarves, da Universidade Católica Andrés Bello, em Caracas, o governo Maduro está numa situação em que só pode perder. “Independentemente de ele prender ou não Guaidó, o conflito definitivamente tende a se acirrar”, afirma. Ollarves está convencido sobretudo de que haverá ainda mais deserções entre os militares caso Maduro realmente prenda seu desafiante. “Isso pode até mesmo ser a gota d’água que leve o copo a transbordar, porque poderia levar os militares a mudar de lado e derrubar Maduro.”

O próximo assalto na luta pelo poder na Venezuela já começou: a batalha verbal que antecede o retorno de Guaidó lembra as disputas verbais que precederam a entrega de doações internacionais no sábado passado. Na ocasião, Maduro acabou se impondo, bloqueando as fronteiras e impedindo que os comboios com ajuda entrassem no país. Mas ao atirar na própria população, Maduro saiu, ao mesmo tempo, como perdedor.

Mas a reputação de Guaidó como “salvador da Venezuela” também sofreu alguns arranhões – muitos venezuelanos que foram a Cúcuta, na Colômbia, no chamado Dia D, criticaram Guaidó, dizendo que ele só apareceu rapidamente diante das câmeras no sábado, deixando os voluntários sozinhos logo em seguida.

“Juan Guaidó definitivamente precisa voltar logo a Caracas, porque sem a presença dele, há sempre o risco de que a unidade da oposição desmorone”, diz o analista político Geoff Ramsey, do think tank de Washington Advocacy for Human Rights in the Americas. Ele acredita que governo Maduro vai prender Guaidó, ainda que temporariamente. “Só para demonstrar poder”, prevê.

O governo está sob enorme pressão, tanto interna e como externa, além de enfrentar as sanções da comunidade internacional. “As medidas punitivas continuarão sufocando a Venezuela”, avalia Ramsey. “Embora quase não seja mais possível aumentá-las.” O especialista acredita que Guaidó também tentará estender a mão aos chavistas na população, com uma oferta de diálogo sobre qual papel eles poderiam desempenhar num possível governo de transição.

Como decretou Muhammad Ali, “aquele que não tem coragem de assumir riscos não alcançará nada na vida” – uma frase que pode guiar Guaidó no seu retorno à Venezuela.

*Com informações do DW

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Sobre Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia 11044 artigos
Carlos Augusto é Mestre em Ciências Sociais, na área de concentração da cultura, desigualdades e desenvolvimento, através do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Ensino Superior da Cidade de Feira de Santana (FAESF/UNEF) e Ex-aluno Especial do Programa de Doutorado em Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atua como jornalista e cientista social, é filiado à Federação Internacional de Jornalistas (FIJ, Reg. Nº 14.405), Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ, Reg. Nº 4.518) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI Bahia), dirige e edita o Jornal Grande Bahia (JGB), além de atuar como venerável mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Maçônica ∴ Cavaleiros de York.