Um ano de ausência de Tony Jarbas (19.09.1964 – 18.04.2021), o menestrel de Deus

Tony Jarbas (19.09.1964 - 18.04.2021)
Tony Jarbas (19.09.1964 - 18.04.2021)

Na tarde de domingo de 18 de abril de 2021, Tony Jarbas fazia o que mais gostava: tocava violão, cantava e ensinava, dando aulas de técnicas e estilos musicais no seu canal no YouTube. As 17 horas se despediu do público assistente, inclusive deste que vos escreve. Minutos depois, chega a triste e inesperada notícia, um infarto fulminante levou o querido irmão e amigo para outros planos de existência.

Saudades, papai!

Tony Jarbas (19.09.1964 - 18.04.2021)
Tony Jarbas (19.09.1964 – 18.04.2021)

Na vida de matéria, ele foi o Engº Agro. PhD. em Ciência do Solo, pesquisador da Embrapa Tony Jarbas Ferreira Cunha. Mas o que Tony era mesmo é irmão, amigo, aparelho mediúnico receptor de belos hinos, caboclo sertanejo e beiradeiro, conterrâneo do poeta hoasqueiro Luiz Galvão e do mito juazeirense João Gilberto… poeta, ator, músico, mágico, palhaço… estar ao lado dele era só festa e alegria. Momentos especiais de cânticos, acordes dissonantes e dança sagrada para papai Oxalá e mamãe Iemanjá.

Felizardo é aquele que tem o privilégio da convivência com o Mestre, pois o seu cotidiano será sempre de festa, será sempre feliz. Certa vez perguntaram a Jesus:

— Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os seus discípulos?

E Jesus disse-lhes:

— Podem porventura os filhos das bodas jejuar enquanto está com eles o esposo? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar.

Jesus se compara ao esposo em bodas, que a festeja junto com os seus amigos. A festa da aliança de Deus com os homens, que enviou o seu Filho para nos salvar.

A primeira morte de Tony Jarbas 

O doutor em Ciência do Solo, Tony Jarbas Ferreira Cunha, pesquisador da Embrapa, chegou à comunidade do Matutu (MG) para realizar um levantamento do solo local, quando ouviu falar pela primeira vez da bebida de “poder inacreditável” — o Santo Daime — comungada cerimoniosamente pelos moradores daquela vila.

Como ele gostava de experimentar substâncias expansoras da consciência, quis conhecer. Apresentaram o Tony ao líder da comunidade religiosa do lugar, o senhor Guilherme França.

— O que é o Daime? Perguntou Tony.

— É a morte. Você vai morrer… mas num vai desencarnar não. Tu vai é renascer.

Tony Jarbas temeu. Mesmo assim permaneceu interessado.

À noite, o Guilherme enviou um litro de Daime para o doutor Tony Jarbas, que bebeu com mais dois colegas.

Corria o ano de 1994, quando Tony bebeu o Daime pela primeira vez. Dá-se início a graça da sua cura.

Vinho das almas, liana dos espíritos, cipó dos mortos. O Daime é o vinho do êxtase espiritual. E depois que provou do vinho do êxtase espiritual Tony soube que nenhuma outra experiência podia ser igual.

Ele reconheceu que os prazeres que o álcool lhe proporcionava eram transitórios, e lhe traziam infelicidade. Mas a sagrada bem-aventurança da Luz do Daime nunca teria fim.

Na miração Deus fez com que Tony experimentasse um sagrado estado mental, imerso na paz curativa. A alegria divina o elevou em Espírito. Ao sobrevir o profundo êxtase de Deus os seus pensamentos se aquietaram, banidos pelo comando mágico da alma. Ao beber a bem-aventurança Divina, que é o Daime, Tony experimentou uma embriaguez de alegria que nem todo álcool do mundo poderia lhe proporcionar.

A miração é o estado de comunhão com Deus, quando se transcende a consciência mundana e se percebe o seu ser como Espírito, feito à imagem do Divino. A consciência expandida levou Tony Jarbas ao despertar da sua destinação espiritual, e começar a compreender a Missão que lhe era reservada. O Daime lhe levou a viajar por outros planos e dimensões.

Ao entrar na vida corporal, por disposição Divina o Espírito perde, momentaneamente, a lembrança de suas existências anteriores e o compromisso espiritual assumido perante Deus. É como se um véu os ocultasse, para que o homem passe pelas provas terrestres — assim como o Nosso Senhor Jesus Cristo foi destinado a passar. Deus em Sua sabedoria quis assim.

Porém, na Santa Luz do Daime Tony compreendeu que a memória divina é eterna. E a memória divina residia nele como Uma parte do Todo que se individualiza através do Espírito. Ao retirar o véu que encobre a Verdade Tony ligou-se firmemente ao seu aspecto eterno, a sua essência — que é Deus. E assim começou o seu retorno à casa do Pai.

Humildemente Tony relata:

— Naquele dia eu vi que Deus existia, pois eu não acreditava em Deus nem na vida após a morte. Vi os seres divinos se apresentarem para mim. Chorei copiosamente.

Quando voltou à casa do pai — pai em matéria — lhe declarou:

— Meu pai, Deus existe e é meu Amigo!

Feliz, o seu pai perguntou:

— Qual o santo que lhe fez acreditar Nele?

— O Santo Daime!

— Não conheço este santo, mas que bom que ele O revelou!

Assim, com as bênçãos paternas, Tony Jarbas começou a cumprir a sua destinação espiritual.

Janaína e Tony na Casa de Oração São Francisco de Assis
Janaína e Tony na Casa de Oração São Francisco de Assis

Casa de Oração São Francisco de Assis

Quando foi residir no Rio de Janeiro, fazendo doutorado pela URFRJ/USP, passou a frequentar a igreja daimista Céu do Mar, na qual se fardou, e ali realizou um estudo fino por mais de dez anos.

Porém, Tony tinha um sonho, uma quimera. Caboclo sertanejo, beiradeiro das barrancas do Velho Chico, desejava retornar à sua terra natal, Juazeiro da Bahia, e ali firmar a sua Missão Espiritual.

Conversou com o dirigente da Igreja Céu do Mar, Paulo Roberto Souza e Silva, pedindo sua orientação, apoio e benção.

Do Padrinho Paulo Roberto seu afilhado dileto recebeu sessenta litros de Daime e muitas instruções:

Tony retornou à Bahia com a sua companheira da época, Maira Magaly Alves Costa Cunha — Lila — em 2004, e nesta oportunidade tive a felicidade de conhecer este lindo casal, de passagem por Salvador da Bahia.

Foram reunindo um povo, um grupo de amigos, e realizavam os trabalhos de Daime na confortável residência do casal, às margens do Rio São Francisco. E assim firmaram a Casa de Oração São Francisco de Assis.

Tony Jarbas
Tony Jarbas na Casa da Paz (Ilhéus – Bahia)

Quem é/foi Tony Jarbas?

No seu hinário, o Eu Superior que habitava o corpo físico de Tony Jarbas, se revela:

Eu sou todo amor
Eu sou todo amor
Do meu Senhor
Quem seguir na minha linha
Está com o Mestre Ensinador.

Eu sou todo luz
Eu sou todo luz
Do meu Jesus
Com ele no coração
Eu busco a minha perfeição.

Eu sou todo amigo
Eu sou todo amigo
Eu sou um bom irmão
Aquele que seguir comigo
Nunca vai ficar na mão.

Eu sou de papai
E tenho mamãe
No meu coração
Sou a luz que ilumina
As trevas e a escuridão.

(Hino 46 – Todo Amigo, Hinário Louvores e Agradecimentos, de Tony Jarbas)

Jussara Pollyana, Igor Virgolino, Tony Jarbas, Jorge Nobre, Nadir Nunes, Juarez Bomfim e Cecilia Maringoni
Jussara Pollyana, Igor Virgolino, Tony Jarbas, Jorge Nobre, Nadir Nunes, Juarez Bomfim e Cecilia Maringoni
Tony Jarbas
Tony Jarbas e Caboclinho
A jovem e bela Janaína
A jovem e bela Janaína. Foto: Tony Jarbas

Voltando aquela fatídica tarde de domingo de 18 de abril de 2021… tendo ao lado a sua bela e jovem companheira Janaína, Tony Jarbas nos deixou.

Deixo tudo saudosamente
E vou viver no meio das flores
Vou viver no meio das flores
Junto a Virgem Maria…

Aqui no mundo Terra, não mais teremos os nossos encontros ao longo do ano, as festas, os bailados, passeios, viagens… seja em Juazeiro da Bahia, Salvador, Busca Vida, Imbassaí, Ilhéus, Rio Branco, Seringal Fortaleza… onde os casais e inúmeros amigos se reuniam: Juarez Bomfim e Cecilia Maringoni, Jorge Nobre e Nadir Nunes… e tantos outros, até o padre Jaime Wanner.

Quando do seu passamento, os inúmeros amigos prestaram-lhe as merecidas homenagens, realizamos a Santa Missa daimista de 7º Dia, conduzida pelo irmão e amigo Saturnino Brito, do Seringal Fortaleza (Acre) para o mundo, numa concorrida live… e dias depois o Espirito Tony Jarbas me apareceu num sonho, sorridente, feliz.

Reservadamente, narrei a comunicação espiritual a três amigos, Jorge Nobre, Saturnino Brito e Édilsom Fernandes. Os três assim me relataram:

– Tony Jarbas continua a ser o que ele sempre foi aqui na vida de matéria.

Sou um Jardineiro feliz
Do jardim do Beija-flor
Dentro da minha floresta
Cantando e dando louvor

Pedindo canção a Mamãe
Para eu cantar para ela
Dentro da minha floresta
Alegre e sempre com ela

Sempre firmado na luz
Do meu Senhor São João
Sempre pedindo firmeza
Ao Mestre Juramidã.

(Hino 41 – Jardineiro Feliz, Hinário Louvores e Agradecimentos, de Tony Jarbas)

Saudades, papai!

Vejam e ouçam Deus no silêncio, de Tony Jarbas:

Internacionalização do Santo Daime: ‘Deus no silêncio, Holanda:

Vejam e ouçam Amigo Índio, de Tony Jarbas:

 

Banner da Prefeitura de Santo Estêvão: Campanha do São João 2024.
Banner da Campanha ‘Bahia Contra a Dengue’ com o tema ‘Dengue mata, proteja sua família’.
Sobre Juarez Duarte Bomfim 726 artigos
Baiano de Salvador, Juarez Duarte Bomfim é sociólogo e mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em Geografia Humana pela Universidade de Salamanca, Espanha; e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Tem trabalhos publicados no campo da Sociologia, Ciência Política, Teoria das Organizações e Geografia Humana. Diversas outras publicações também sobre religiosidade e espiritualidade. Suas aventuras poético-literárias são divulgadas no Blog abrigado no Jornal Grande Bahia. E-mail para contato: juarezbomfim@uol.com.br.