Economistas sugerem mudanças no novo arcabouço fiscal para conter dívida pública

Marcos José Mendes, pesquisador associado do Insper, também participou do debate.
Marcos José Mendes, pesquisador associado do Insper, também participou do debate.

Pesquisadores criticaram nesta terça-feira (20/06/2023) pontos do novo arcabouço fiscal e defenderam mudanças no projeto de lei complementar (PLP 93/2023), que aguarda votação na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Os economistas José Márcio Camargo, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), e Marcos José Mendes, pesquisador associado do Insper, estiveram na comissão e participaram de audiência pública sobre o tema.

Para José Márcio Camargo, as metas de resultado primário sugeridas pelo Poder Executivo no arcabouço fiscal “mostram um certo otimismo exagerado do governo”. De acordo com o pesquisador, o país precisaria elevar a carga tributária para conseguir estabilizar o ritmo de crescimento da dívida pública. Ainda assim, segundo ele, compromissos de campanha assumidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva podem comprometer o atingimento das metas de superávit.

— Mesmo em um cenário de aumento da carga tributária suficiente para estabilizar a dívida pública brasileira, demandas políticas serão um importante fator de risco ao longo dos próximos anos. Propostas de recuperação gradual dos valores reais do salário-mínimo devem impactar os gastos com encargos pessoais e previdenciários. A correção da tabela do imposto de renda para R$ 5 mil tem um impacto de aproximadamente 1,1% do PIB (Produto Interno Bruto) — disse.

José Márcio Camargo disse identificar “pontos positivos” no PLP 93/2023. Entre eles, a previsão de gatilhos em caso de não cumprimento da meta de resultado primário e a obrigação de contingenciamento em caso de risco de descumprimento da meta. Mas, de acordo com o professor da PUC-RJ, “pontos negativos” tornam o projeto “insuficiente para estabilizar a dívida pública em um patamar razoável nos próximos anos”.

— O texto permite que o governo possa ampliar o espaço para novas despesas em maio de 2024 por meio de crédito adicional, caso a revisão das receitas no próximo ano seja superior à receita efetiva em 2023. O projeto também exclui o salário-mínimo de quaisquer medidas compensatórias. Esta medida impactará os gastos com encargos pessoais e previdenciários, que correspondem a cerca de 65% da despesa primária total — disse.

“Inconsistências”

Marcos José Mendes reforçou as críticas ao novo arcabouço fiscal. Para o pesquisador associado do Insper, há “algumas inconsistências bastante problemáticas” no PLP 93/2023. Ele afirma que o projeto não é capaz de estabilizar a dívida pública e depende de “aumento muito grande da receita”.

— Vai ser preciso aumentar a receita no valor maior do que a União recebe hoje de imposto de renda líquido. Isso não se faz só acabando com subsídio tributário, “jabutis” e lacunas da legislação fiscal. Isso exigirá um aumento muito forte de carga tributária, que é bastante prejudicial ao crescimento econômico — afirmou.

Para Marcos José Mendes, as regras previstas no novo arcabouço fiscal “são incompatíveis” com a política de aumento real do salário mínimo e com a vinculação de despesas as áreas de saúde e educação. O pesquisador sugeriu mudanças no projeto de lei, relatado na CAE pelo senador Omar Aziz (PSD-AM).

— Para ser mais efetivo no controle das despesas obrigatórias, é preciso acionar todos os gatilhos já no primeiro ano após o descumprimento da meta de primário, e não em dois anos como prevê o projeto. É preciso excluir a possibilidade de o presidente da República escolher se vai ou não acionar esses gatilhos, mas obrigar o acionamento de todos os gatilhos. Outra medida seria diminuir o patamar mínimo de 0,6% de investimentos e desvinculá-lo do PIB — sugeriu.

“Voo de galinha”

A audiência pública foi sugerida pelos senadores Plínio Valério (PSDB-AM) e Rogério Marinho (PL-RN). Para o parlamentar potiguar, os pesquisadores lançam dúvidas sobre a eficácia do arcabouço fiscal.

— Ficamos ainda mais preocupados com o futuro da economia brasileira a médio e longo prazo. Toda pujança de um PIB alcançada de forma artificial, com medidas populistas e circunstanciais, sem o devido cuidado com seu impacto sistêmico na economia resultou, principalmente entre 2014 e 2016, na maior recessão que tivemos na história brasileira, sem que tivéssemos fatores supervenientes externos — advertiu.

Para o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), o arcabouço sugerido pelo Poder Executivo “é falho e frouxo”. Ele questionou a eficácia das novas regras fiscais a médio e longo prazos.

— Mesmo com um arcabouço fraco, o mercado comemora, o dólar cai e agencias internacionais colocam a expectativa da dívida brasileira em um patamar melhor. Isso tudo gera um certo otimismo. Podemos estar diante de um voo de galinha? A economia vai experimentar algum alívio nos próximos dois ou três anos e depois de se chocar no muro de uma dívida que está nos levando a um processo de dominância fiscal? — indagou.

Tramitação

Durante a audiência pública, o senador Omar Aziz pediu a suspensão dos debates para que pudesse ler, ainda nesta terça-feira, o relatório sobre o PLP 93/2023. Mas senadores da oposição defenderam a continuidade da discussão e anunciaram que vão apresentar emendas ao texto. O senador Carlos Portinho (PL-RJ) disse que vai propor um requerimento para que, depois da CAE, o novo arcabouço fiscal seja debatido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Também participara da audiência pública os senadores Jaime Bagattoli (PL-RO), Weverton (PDT-MA) e Tereza Cristina (PP-MS). A parlamentar sul-mato-grossense defendeu “cautela” no debate sobre o PLP 93/2023.

— O arcabouço fiscal é uma política de Estado, e não de governo. Estamos votando uma política para ficar, a substituição do teto de gastos. Não entendo esta pressa, essa correria para apresentar o relatório. Esta Casa tem a responsabilidade de entregar o melhor arcabouço possível para a sociedade brasileira — afirmou.

*Com informações da Agência Senado.

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