A Tábua de Esmeralda: Uma visão alquímica de Jorge Ben Jor e da música do artista carioca

Em 1973, Jorge Ben Jor e Gilberto Gil viveram uma experiência mística em Paris que inspirou o disco "A Tábua de Esmeralda". A obra, lançada em 1974, é um mergulho na alquimia, na negritude e no misticismo, com letras que exploram a transmutação da matéria e do espírito, a busca por autoconhecimento e a valorização da cultura afro-brasileira.
Em 1973, Jorge Ben Jor e Gilberto Gil viveram uma experiência mística em Paris que inspirou o disco "A Tábua de Esmeralda". A obra, lançada em 1974, é um mergulho na alquimia, na negritude e no misticismo, com letras que exploram a transmutação da matéria e do espírito, a busca por autoconhecimento e a valorização da cultura afro-brasileira.

Em um encontro peculiar durante um almoço em Paris, próximo ao Natal de 1973, Jorge Ben Jor e Gilberto Gil testemunharam algo intrigante que viria a moldar o curso da música brasileira. Esse momento, presenciado em um ambiente íntimo na casa de Flamel, desencadeou uma jornada alquímica que se refletiria em toda a obra de Jorge Ben Jor.

Quando Jorge Ben Jor e Gilberto Gil, dois ícones da MPB, vagaram pelos corredores do Auberge Nicolas Flamel, um restaurante cujas raízes se estendiam até os confins da Idade Média, algo inexplicável ocorreu.

“Vimos uma coisa lá”, disse Ben Jor em uma entrevista décadas depois. “O Gil viu também. Nós vimos alguma coisa. Mas bonita, não feia. Uma coisa bonita”, completou.

Na efêmera reunião de Jorge Ben Jor com o namorado da viúva, um evento tão fugaz quanto misterioso, desencadeou-se uma série de eventos que ecoariam por décadas na música brasileira. Naquele solene encontro, registrado nas memórias do cantor carioca, foi como se as paredes da antiga casa de Paris testemunhassem algo além da compreensão humana comum.

A visão compartilhada por Ben Jor e Gil, descrita como uma experiência marcante, desvelou-se como um ponto de inflexão na carreira do cantor. Seis meses após o encontro em Paris, Jorge Ben Jor lançaria “A Tábua de Esmeralda”, um álbum que se tornaria um marco na música brasileira, repleto de referências à alquimia e ao misticismo.

O álbum gnóstico de Jorge Ben Jor

Lançado por de Jorge Ben jor em 1974, o álbum “A Tábua de Esmeralda” transcende o mero entretenimento musical, adentrando o campo da filosofia e arte. Suas letras profundas e melodias cativantes conquistaram não apenas os ouvidos do público, mas também seus corações e mentes. Canções como “Os Alquimistas Estão Chegando”, “Zumbi” e “O Namorado da Viúva” ecoam temas de transformação, espiritualidade e mistério.

A complexidade de “A Tábua de Esmeralda” vai além das harmonias e ritmos envolventes. Jorge Ben Jor incorporou códigos e referências ocultas em suas composições, desafiando os ouvintes a decifrar seus significados mais profundos. Desde alusões à figura histórica de Nicolas Flamel até conceitos herméticos como a “tábua de esmeralda”, o álbum se revela como uma obra de múltiplas camadas, pronta para ser explorada pelos curiosos e aficionados.

Para compreender verdadeiramente “A Tábua de Esmeralda”, é necessário adentrar no universo alquímico e místico que permeia as letras e melodias de Jorge Ben Jor. Seja através de referências históricas ou conceitos filosóficos, o álbum oferece uma jornada única de autoconhecimento e reflexão, convidando os ouvintes a mergulhar nas profundezas da alma humana.

50 anos depois, o álbum “A Tábua de Esmeralda” resistiu ao teste do tempo e se consolidou como um dos mais influentes trabalhos musicais da história brasileira. O trabalho se destaca por sua excelência musical e complexidade lírica, que incorpora elementos da alquimia e da cultura popular. A revista Rolling Stone classificou-o como o sexto melhor álbum lançado por artistas brasileiros, destacando sua importância no cenário musical nacional.

Ele foi 11º álbum de estúdio de Jorge Ben Jor e demonstra uma maturidade musical incomparável. Com uma instrumentação coesa e letras que abordam temas humanos, o trabalho transcende as fronteiras do tempo e do espaço. Faixas como “Os Alquimistas Estão Chegando” e “O Homem da Gravata Florida” não apenas exibem a genialidade do compositor, mas também refletem seu profundo entendimento da sociedade da época.

“A Tábua de Esmeralda” não se limita apenas à música; sua capa, retratando o túmulo de Nicolas Flamel e Hermes Trismegisto, reflete as influências alquímicas presentes no álbum. Além disso, a decisão de gravar o álbum ao vivo no estúdio proporcionou uma atmosfera de jam session, adicionando uma dimensão única ao trabalho, que contou com a produção primorosa de Paulinho Tapajós e com a contribuição de músicos talentosos, como Osmar Milito e Darcy de Paulo, traduzindo-se como uma obra-prima da música nacional.

Apesar dos desafios enfrentados durante seu lançamento, “A Tábua de Esmeralda” provou ser um divisor de águas na carreira de Jorge Ben Jor. Graças à visão de André Midani, que reconheceu a singularidade e o potencial do álbum, a obra conseguiu superar as expectativas e se tornar um clássico instantâneo. A coragem do artista em seguir sua intuição e entregar um trabalho autêntico e inovador é evidente em cada faixa do álbum, tornando-o uma peça fundamental no cenário musical brasileiro e um tesouro a ser apreciado por gerações futuras.

Ao completar 50 anos desde seu lançamento, “A Tábua de Esmeralda” continua a inspirar e fascinar audiências ao redor do mundo. Sua relevância transcende o tempo, permanecendo como um testemunho da genialidade e visão artística de Jorge Ben Jor. Em um mundo repleto de incertezas e turbulências, a mensagem de transformação e espiritualidade contida em “A Tábua de Esmeralda” ressoa com uma força renovada, lembrando-nos da eterna busca pela verdade e pelo significado na vida humana.

Síntese sobe a obra

  • O disco foi composto após uma visão em que Ben Jor e Gil viram “um grupo de pessoas com roupas do século 15 na porta da sala”. A experiência teria sido a inspiração para a canção “Os Alquimistas Estão Chegando”.
  • A alquimia é o tema central do disco, com Ben Jor explorando tanto o lado místico quanto o científico da prática. A canção “O Homem da Gravata Florida”, por exemplo, homenageia Paracelso, um médico e alquimista do século XVI.
  • O disco também celebra a negritude, com canções como “Zumbi” e “Menina Mulher da Pele Preta”. Ben Jor era um defensor da cultura afro-brasileira e acreditava que a alquimia era um sistema de conhecimento africano.
  • “A Tábua de Esmeralda” é um disco complexo e multifacetado que continua a ser apreciado por fãs de música brasileira e estudiosos da alquimia.
  • O disco foi gravado na França e lançado no Brasil e na França no mesmo ano.
  • A capa do disco apresenta as figuras do sonho de Nicolas Flamel, um alquimista francês do século XV.
  • Jorge Ben Jor continuou a explorar temas alquímicos em seus discos posteriores, como “Solta O Pavão” (1975) e “Ogum” (1976).

Quem é Jorge Ben Jor

O músico Jorge Duílio Lima Meneses, conhecido como Jorge Ben e Jorge Ben Jor, nasceu no Rio de Janeiro, em 22 de março de 1939. Ele atua como cantor, compositor, violonista, pandeirista, guitarrista e percussionista brasileiro. É conhecido pelas letras poéticas e cativantes que abordam temas sociais e culturais, transmitindo mensagens de amor, liberdade e identidade.

Jorge Ben Jor é reconhecido como um dos compositores e performers brasileiros mais importantes da década de 1960, tendo sido bem-sucedido na fusão do samba com a música soul. É autor de duas das canções de samba mais lendárias: “Mas Que Nada” e “País Tropical”.

Em 1968, Ben Jor mudou o seu nome para Jorge Benjor e depois para Jorge Ben Jor para não ser confundido com o cantor americano George Benson. Em 2008, a revista Rolling Stone Brasil nomeou Ben Jor como o 5º maior artista da história da música.

O estilo característico da obra de Jorge Ben Jor possui diversos elementos, entre eles: rock and roll, samba, samba rock, bossa nova, jazz, maracatu, funk, ska e até mesmo hip hop, com letras que misturam humor e sátira, além de temas esotéricos.

A obra de Jorge Ben Jor tem uma importância singular para a música brasileira, por incorporar elementos novos no suingue e na maneira de tocar violão, com características do rock, soul e funk norte-americanos. Além disso, trouxe influências árabes e africanas, oriundas de sua mãe, nascida na Etiópia.

O que é a Tábua de Esmeralda

A Tábua de Esmeralda é um texto escrito por Hermes Trismegisto que deu origem à Alquimia. É considerado um dos mais antigos textos relacionados à alquimia, de cerca de 650 d.C. . O primeiro vestígio documentado sobre a Tábua de Esmeralda é encontrado numa carta de Aristóteles para Alexandre, O Grande, durante sua campanha na Pérsia.

*Com informações da reportagem ‘Os códigos ‘secretos’ da alquimia escondidos em disco de Jorge Ben Jor‘, de autoria de Vinícius Mendes, publicada na BBC News Brasil.

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Sobre Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia 10884 artigos
Carlos Augusto é Mestre em Ciências Sociais, na área de concentração da cultura, desigualdades e desenvolvimento, através do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Ensino Superior da Cidade de Feira de Santana (FAESF/UNEF) e Ex-aluno Especial do Programa de Doutorado em Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atua como jornalista e cientista social, é filiado à Federação Internacional de Jornalistas (FIJ, Reg. Nº 14.405), Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ, Reg. Nº 4.518) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI Bahia), dirige e edita o Jornal Grande Bahia (JGB), além de atuar como venerável mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Maçônica ∴ Cavaleiros de York.

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