O indivíduo e a história | Por Emiliano José

Emiliano José da Silva Filho.
Emiliano José da Silva Filho.

Há uma reflexão que atravessa os séculos, aquela que pretende discutir o papel do indivíduo na história. Uma visão idealista leva ao raciocínio mítico de que o líder é o que determina o curso dos acontecimentos. Por isso, estamos acostumados a falar de períodos históricos vinculando-os a indivíduos, e não a movimentos sociais, às massas, que certamente são os que fazem a história.

O marxismo conseguiu, penso, resolver esse dilema. Os homens fazem história, diria Marx, mas a fazem sob determinadas circunstâncias. Os líderes estão sob o peso de determinações econômicas, sociais, culturais. Uma espécie de marxismo vulgar, no entanto, às vezes desconhece o peso que uma liderança pode ter na história. Se é certo que os indivíduos estão sob determinações históricas, é também verdadeiro que os líderes têm opções variadas em meio a tais determinações.

Digo tudo isso para falar de uma extraordinária liderança – Fidel Castro, um dos grandes homens do século XX e que ainda ingressou no século XXI com toda a sua capacidade dirigente. Sem cultivar a idéia de que ele pudesse sozinho dirigir a empreitada extraordinária da Revolução Cubana, não há dúvida de que ele, com sua intuição, seu espírito revolucionário, sua capacidade política foi absolutamente essencial para aquela experiência histórica, como o é até os dias de hoje, apesar de momentaneamente enfrentar problemas de saúde.

Tive uma noção mais precisa desse papel com a leitura do Cien horas con Fidel, de Ignacio Ramonet, uma entrevista de mais de 800 páginas, onde a vida de Fidel aparece na voz do próprio protagonista. Tal leitura permite conhecer a opinião dele sobre os mais variados episódios da revolução cubana. O leitor compreenderá o quanto a ousadia de uma liderança pode mudar o curso da história.

Diante de várias alternativas, Fidel apostava na mais arriscada, naquela onde o chamado fator subjetivo contava mais do que o chamado aspecto objetivo. Como um punhado de homens poderia iniciar uma guerrilha e derrotar o grande exército de Batista, o todo-poderoso ditador de Cuba? Os excessivamente sensatos, os que se apegam aos dados exclusivamente objetivos, dificilmente ganham as páginas da história.

Fidel subiu Sierra Maestra, encarnou as aspirações do povo cubano, e junto com Guevara, Camilo Cienfuegos, seu irmão Raul e tantos outros revolucionários, derrotou Batista e iniciou uma nova história na Ilha que, apesar de todas as dificuldades, de todo o cerco econômico, de todas as pressões políticas desenvolvidas pelos EUA e até mesmo eventualmente dos erros que os dirigentes cubanos possam ter cometido ao longo dos quase 50 anos de sua revolução, apesar de tudo isso, não há dúvida de que Cuba é um exemplo de soberania, de coragem, de resistência. E Fidel inegavelmente passará à história como o grande arquiteto dessa empreitada.

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