O governador da Bahia, Jaques Wagner, concede entrevista e declara: Estamos fazendo uma revolução silenciosa na saúde

Wagner em entrevista: São 260 postos de saúde da família novos na capital e no interior, até o momento, e mais 140 até o fim de 2010, num total de 400 unidades... política de saúde focada na prevenção.
Wagner em entrevista: São 260 postos de saúde da família novos na capital e no interior, até o momento, e mais 140 até o fim de 2010, num total de 400 unidades… política de saúde focada na prevenção.

1 – Em 2009, a Bahia ainda sentiu os efeitos da crise internacional, com significativa queda na receita. Ainda assim, acredita que o ano foi positivo para os baianos?

Jaques Wagner: Faço uma avaliação extremamente positiva, até porque, o ano de 2009, foi um ano que começou com a marca da maior crise internacional das últimas décadas e, portanto, era um ano que preocupava e preocupou o governo da Bahia. Nós tivemos um primeiro semestre duro, com perda de arrecadação e por conta disso tivemos que adiar a entrega de algumas obras, mas, fechamos 2009 muito bem, porque, geramos mais de 75 mil novos empregos só este ano e ao longo desses 2 anos e 11 meses foram 175 mil empregos, um número bastante expressivo, um número recorde. Terminamos o ano melhorando a arrecadação, o que mostra que 2010 promete para a Bahia e para o Brasil. Temos R$ 7 bilhões e 700 milhões de novos investimentos: a Ford, a mineradora Mirabela, a Alstom, que vai trazer para a Bahia uma fábrica de energia eólica. Está virando realidade o nosso novo Porto de Ilhéus, que representa crescimento econômico e geração de emprego de maneira integrada. E a Bahia fecha o ano com crescimento, inclusive, acima do crescimento nacional. Para quem começou o ano, tendo o anúncio de uma crise sem precedentes, conseguimos superá-la a partir de medidas importantes de redução de impostos e estimulo aos empresários, fechamos o ano bem e com uma expectativa muito boa para 2010.

2 – O governo fez investimentos expressivos em infra-estrutura, a exemplo da recuperação de estradas…

JW: Estamos trabalhando muito para reverter um quadro de defasagem nas soluções logísticas que a Bahia possuía, com destaque para Ferrovia de Integração Oeste-Leste, Porto Sul e o novo aeroporto de Ilhéus, além da Via Expressa Baía de Todos os Santos, com obras já iniciadas, em 2009. Mas, a recuperação das estradas também caminha bem. Já recuperamos 1.852 km de estradas e mais 2.367 km estão em andamento. Também concluímos os projetos executivos de rodovias para 11 trechos, que correspondem a 1.196 km de extensão, referentes ao Programa de Restauração de Rodovias (PREMAR). As obras já se encontram em execução. Os recursos serão de US$ 186 milhões, dos quais US$ 100 milhões do BIRD e US$ 86 milhões do governo.

4 – O senhor considera que obteve avanços na saúde, uma área que sempre existe demanda crescente?

JW: Estamos fazendo uma revolução silenciosa na saúde. Em 2007, tínhamos uma dívida superior a R$ 205 milhões na saúde. O Estado devia dois anos de recursos para municípios que tinham implantado o SAMU. A aquisição de medicamentos básicos havia deixado um déficit de quase 40 milhões que não foram aplicados entre 2003 e 2006. Tínhamos uma fila de espera de 1 ano e meio de pacientes para tratamento de hepatites. A Bahia também não cumpria as contrapartidas devidas na saúde, nem participava dos principais projetos do Governo Federal, como o SAMU e a Farmácia Popular. A Bahiafarma, que foi fechada pelo governo passado, deixou a Bahia fora da produção pública de medicamentos. Isso gerou os precários indicadores de saúde no sexto estado mais rico do país, que também possuía mais de 2 milhões de analfabetos.

Em 2007, os municípios receberam o equivalente a 3 anos de repasses do Estado para o SAMU. Assim como, todos os municípios passaram a receber recursos para o Programa de Saúde da Família e o abastecimento de medicamentos básicos passou a ser regular e com gigantesca ampliação de seus quantitativos. Também foi zerada a fila de espera para tratamento de hepatites e 45 mil baianos agora recebem medicamentos de alto custo. Hoje, todas as contrapartidas estaduais são regularmente efetivadas. A Bahia tem hoje a segunda maior rede da Farmácia Popular no país e o SAMU atende a 43% dos baianos. São 260 postos de saúde da família novos na capital e no interior, até o momento, e mais 140 até o fim de 2010, num total de 400 unidades que colocam em prática uma política de saúde focada na prevenção. Além de três novos hospitais, o Hospital de Juazeiro, o Hospital de Irecê e o Hospital de Santo Antônio de Jesus. Até junho de 2010, vamos inaugurar mais dois hospitais, o Hospital da Criança, em Feira de Santana, e o Hospital do Subúrbio, em Salvador. E até o final de 2010, serão mais de 1.100 novos leitos de retaguarda nos hospitais estaduais – ampliação de 20%. A oferta de leitos de UTI vai praticamente dobrar, chegando a regiões onde nem a rede privada oferecia UTI.

5 – Na educação, houve uma troca de secretário. A mudança atendeu as expectativas do senhor?

JW: Plenamente. Mas é preciso reconhecer a contribuição valiosa deixada pelo ex-secretário Adeum Sauer. Osvaldo Barreto tem conseguido resultados expressivos na recuperação física de rede estadual, na motivação dos professores e demais servidores da secretaria e na consolidação de projetos importantíssimos como o TOPA e a educação profissional. Já nos aproximamos de metade da meta do TOPA, que é alfabetizar 1 milhão de pessoas e ampliamos o número de matrículas no ensino profissional de pouco mais de 4 mil para mais de 28 mil alunos.

6 – A agricultura tem conseguido atender tanto o agronegócio quanto a agricultura familiar?

JW: Nesses três anos, venho incentivando ao máximo a integração dessas duas forças que movem a agricultura baiana, mas, assim como a mãe cuida mais do miúdo, assim também o nosso governo tem trabalhado.

O Programa Garantia Safra é, sem dúvida, uma das principais ações na área da agricultura familiar, com avanços significativos nos últimos anos. Trata-se de uma iniciativa de atendimento ao agricultor familiar em caso de perda de safra, devido a intempéries climáticas. A nossa articulação ampliou a adesão ao programa em mais de três vezes, passando de 6 mil para mais de 22,6 mil agricultores.

Já no caso do sul da Bahia, podemos destacar o PAC do Cacau. Conseguimos a adesão de 8.664 cacauicultores ao programa de renegociação das dívidas, ou seja, 95% do total. No caso do Oeste a relação com o agronegócio tem sido excepcional, seja no trato das questões ambientais, seja no diálogo sobre problemas de infraestrutura.

Há um antagonismo entre o agronegócio e a agricultura familiar que pode e deve ser superado porque não os vejo como concorrentes e sim como complementares. Um, porque produz alimentos e gera oportunidades de trabalho e fixa a população do campo, o outro, porque gera divisas e empregos. Mas é claro que os pequenos precisam e merecem atenção diferenciada.

7 – A segurança publica continua sendo um ponto nevrálgico no seu governo?

JW: A segurança é o tema mais candente e mais preocupante de qualquer governo e pra mim não é diferente. É uma preocupação do presidente da República e de todos os governadores de estado quando nos reunimos para discutir qualquer assunto. É claro que estamos tratando a segurança com as mais modernas técnicas, assim como, contratamos 3.200 soldados, estamos iniciando o treinamento de mais de 3.200, que irão para as ruas em maio ou junho de 2010, além de termos comprado um primeiro lote de viaturas com 540, que já entregamos, acabamos de licitar mais 640, que começa a ir para as ruas no final de janeiro, início de fevereiro, bem como, a contratação de 50 delegados e 100 peritos e escrivães. E vamos, dentro dos limites do orçamento, melhorar este contingente. Portanto, a nossa projeção hoje é intensificar o combate ao tráfico de drogas, melhorando a nossa inteligência através de convênios, como o que firmamos com o Ministério da Justiça e o FBI. Hoje, somos o primeiro estado a adquirir o sistema integrado de carteira de identidade digitalizada e em breve vamos inaugurar o primeiro laboratório de investigação de crimes de lavagem de dinheiro. E o que isso tem haver com segurança pública? É assim que a gente combate a lavagem do dinheiro que sustenta o crime organizado.

8 – Mas e quanto aos investimentos no setor?

JW: Entre 2007 e 2009, elevamos em 20% os recursos destinados à segurança pública, que passaram de R$ 1,6 bilhão para R$ 1,9 bilhão. Os investimentos foram alocados na valorização profissional dos policiais, em modernizar os sistemas de comunicação e identificação, em reforçar os instrumentos de investigação policial, além da melhoria dos equipamentos. Mas, vou repetir: segurança não é só polícia na rua. Segurança é saúde, educação, cultura, esporte, lazer e família. Porque, costumo dizer por onde passo, que também precisamos fortalecer os nossos laços de família, para fazer frente a uma deformação no mundo moderno, que supervaloriza as questões patrimoniais e uma subvalorização de questões fundamentais para mim, como os valores humanos e os valores da família.

9 – Pode se afirmar que a inclusão social é a grande marca desses três anos de governo?

JW: Desde o início, tínhamos a ciência de que a população baiana exigia mudanças de toda a ordem, mas, especialmente, tínhamos uma necessidade grande de suprir expectativas represadas por décadas. Expectativas mínimas, como abrir uma torneira de dentro de casa para lavar um copo d’água, ou aprender a ler e a escrever, como é o caso de Dona Enedina, lá de Ilhéus. Ou simplesmente apertar a tomada e vislumbrar os filhos de corpo inteiro, como costuma relatar o presidente Lula sobre pessoas beneficiadas pelo Programa Luz para Todos, e realizar o sonho da casa própria. Nós já construímos e entregamos até o momento 18,6 mil casas populares e superamos a cota reservada para a Bahia dentro do Programa Minha Casa Minha Vida: batemos as 32 mil unidades liberadas e estamos pedindo mais 12 mil aproveitando a sobra de recursos de estados que não cumpriram suas cotas. É desse jeito que a gente governa, de forma transparente, convencendo as pessoas de que é possível manter o equilíbrio entre o crescimento econômico e a justiça social.

10 – Vamos falar de política. O senhor aparece como favorito nas pesquisas de intenção de voto para as eleições de 2010. A que atribui isso?

JW: Atribuo ao reconhecimento por parte da sociedade baiana, da nossa forma de fazer política, que inclui transparência e a preocupação básica em trabalhar pela melhoria da qualidade de vida das pessoas que mais precisam da atenção do Estado. Qual obra mais grandiosa que levar água a quem nunca a teve? Ou luz? Ou ensinar a ler e escrever? Considero essas ações como grandes realizações deste governo. Mas ainda há grandes obras de infraestrutura: além das já citadas, fizemos o sistema viário Dois de Julho em Salvador e está em andamento a Via Expressa, que desafogará o trânsito na capital baiana. Sem falar dos milhares de quilômetros de estradas que estamos construindo ou recuperando, corrigindo um déficit histórico. Nosso foco principal é, de fato, fazer mais por quem mais precisa, mas grandes obras de infraestrutura vão permitir melhores condições para que o povo baiano possa finalmente usufruir das riquezas da nossa terra. Já falamos do Complexo Viário 2 de Julho, da Via Expressa que já está em construção, da Ferrovia da Integração, do Porto Sul, do novo aeroporto de Ilhéus, Pituaçu e a nova Fonte Nova e também o ambicioso projeto da ponte Salvador-Itaparica, que estamos abrindo para empresas interessadas apresentarem propostas. Terá impacto positivo também para o Baixo-sul e o Sul. Acho que a população reconhece e valoriza um governo que é transparente na gestão, francamente favorável e estimulador do diálogo e da participação da sociedade nas grandes decisões, um governo que prioriza o social sem descuidar dos grandes projetos estruturantes dentro de uma visão estratégica, sempre pensando no futuro.

11 – Como está o arco de alianças?

JW: Eu digo sempre que, em política, ganha quem consegue juntar mais. É da minha natureza conversar com todos os que querem o bem da Bahia. Não sou de fechar portas, muito pelo contrário. Os que quiserem vir serão aceitos, desde que se comprometam com o nosso projeto de Bahia e de Brasil. Incorporamos muitos companheiros e companheiras que não estavam antes nessa caminhada, e serão bem vindos todos aqueles que entendam essa nova fase da vida baiana, em que os interesses da população estão acima de tudo.

12 – O senhor acredita numa composição com o PMDB ou a ruptura é irreversível?

JW: O PMDB fazia parte do governo até que resolveu sair para tentar carreira solo. Não era esta a minha vontade, nem a vontade do presidente Lula, foi uma decisão do PMDB que deve ser respeitada. A Bahia inteira acompanhou o meu esforço ao longo de um ano ou mais para tentar manter a aliança. Fui muitas vezes criticado pela paciência com que tratei o assunto, mas este é o meu estilo e não vejo por que mudar. Quem tem projeto, quem tem consistência e sabe onde quer chegar, tem paciência para construir o caminho. Já disse ao presidente Lula e à ministra Dilma que não se preocupem com a Bahia. Teremos duas candidaturas na base de apoio ao presidente e eu encaro isso com absoluta naturalidade.

13 – O presidente Lula tem mais de 80% de aprovação entre os baianos. De que forma isso pode influir na sucessão estadual?

JW: É óbvio que influencia positivamente. A população sabe que muito mais do que aliados do presidente Lula, somos parte do mesmo projeto. Estamos nessa caminhada há mais de 30 anos. Os baianos estão vendo o quanto ganharam com a sintonia em torno desse projeto de Brasil e de Bahia que coloca a nossa gente acima de qualquer outra coisa. Aprendi a fazer política na escola onde o presidente Lula é professor-doutor: o povo sempre em primeiro lugar. O eleitor reconhece isso, sabe quem é quem, sabe onde esteve cada um e tem demonstrado esse reconhecimento em todas as pesquisas feitas até agora.

14 – Para finalizar: qual sua maior alegria e qual sua maior decepção destes três anos de governo?

JW: A principal alegria é ter a oportunidade histórica de pôr em prática tudo o que eu sempre acreditei ser possível fazer para melhorar a vida da nossa gente. É dar minha contribuição para diminuir a enorme desigualdade social que envergonha a Bahia. Sei que a jornada é muito longa e ainda falta muito para chegarmos ao ideal. Mas justamente por isso prefiro me animar com os resultados já colhidos e que são bastante expressivos. Não diria que há uma decepção, mas é claro que a gente sempre fica um pouco angustiado porque sabe que não vai conseguir fazer tudo. Pegamos um estado que ostentava alguns dos piores índices sociais do Brasil e estamos fazendo um trabalho de recuperação. Quando vejo meu povo de cabeça erguida, com dignidade, com esperança nos olhos e muito otimismo, percebo que estamos acertando.

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