Refletindo sobre a natureza da Ciência Geográfica | Por Clodoaldo Almeida da Paixão

Alinhavo aqui algumas breves palavras acerca da especificidade da Ciência Geográfica. No processo histórico da humanidade de apropriação e representação da realidade social, o conhecimento geográfico é considerado um dos primeiros, determinado obviamente pela necessidade da sobrevivência humana.

O espaço, assim, afirmara-se num crescendo como o objeto de conhecimento da Geografia. Mas também nascia, a partir de então, um dos seus “dilemas” teóricos que iria marcar para sempre e de forma indelével essa área do saber científico: O seu objeto – o espaço – é natural ou social?

Considerada inicialmente como uma questão de natureza filosófica, esse problema, no entanto, foi fundamental para a definição da sua identidade analítica no âmbito das Ciências Humanas. O que pode, à primeira vista, parecer uma simples disputa de pontos de vistas teóricos, viria revelar – num futuro próximo – o que há de comum na história da ciência de modo geral e, da Geografia, em particular: a permanente crise de paradigma epistemológico.

Trata-se efetivamente de momentos provocados pelas mudanças produzidas pelos seres humanos à realidade. Momentos em que os modelos analíticos (hegemônicos) de interpretação da realidade se mostram limitados tanto para compreendê-la quanto para explicá-la.

O que parece ser (e é) a crise da ciência é (e tem sido) também o momento de seu avanço, de nascimento de novo paradigma. É isso que explica o processo (imanente) de mudança presente também na história da Geografia. Aqui, talvez, seja necessário chamar a atenção para esse aspecto etnográfico. Visto que os históricos esforços para assinalar, às vezes, um determinado problema caracterizador de uma ciência acaba por gerar um a mais à análise.

Foi assim, por exemplo, com um dos maiores expoentes da Geografia – Yves Lacoste, quando da publicação do seu livro hoje pouco estudado nos cursos de Geografia: a Geografia serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Depois de ter analisado o lugar estratégico que tivera (e continua a ter) o conhecimento geográfico nos processos sociais de dominação dos povos, denunciando como a mesma tem sido utilizada historicamente pelos Estados. Daí porque a chamada à reflexão quanto à necessidade de um olhar analítico sob suspeitas por parte dos geógrafos. Hipótese recentemente amplificada por Ubiracy de Souza Braga, na sua tese de doutoramento, na ECA/USP – Das caravelas ao ônibus espacial: a trajetória da informação no capitalismo.

A importância dessa auto-reflexão crítica na Geografia foi responsável pelo constante alargamento do seu espectro analítico, tornando possível uma interpretação cada vez mais aprofundada das chamas “máscaras sociais” nas palavras de Rui Moreira se afiliando a antropóloga Alba Zaluar.

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